quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

As folhas




A vida é uma sucessão de encontros e desencontros.

Como folhas soltas caídas num ribeiro, corremos velozes, num frenesim que não é nosso, na corrente eterna.
Estas folhas, depois de um curto voo, livres, são presas da correria desenfreada da torrente que corre para um e outro rio até chegar ao mar.
Algumas folhas, perdem velocidade e rumo e ficam-se pelas margens, encostadas, abandonadas, vendo as outras passar em grande velocidade até se perderem na distância. Ficam-se até a natureza fazer o seu papel e não restar memória do simples organismo que ali ficou.
Há folhas que correm rápido, pelo lado mais forte da corrente, fazendo curvas apertadas e saltando sobre os seixos, preocupadas em chegar ao fim… mas sem saberem o QUE é o fim. Correm ignorantes do destino mas conscientes que têm de lá chegar... Acabarão por chegar mas sem saber que existiram.
Folhas que, sem se desviar, navegam pelo lado mais lento da corrente, apreciando cada curva, dobrando cada tronco caído, beijando até cada seixo do leito. Têm trajectos longos, contactam muitas folhas e a sua marca em cada uma durará até que a ultima delas desapareça.
Outras, sem rumo, não percebem a corrente nem os seus meandros e deixam-se vaguear em cada remoinho, prender em cada ramo, perdidas do norte e do Objectivo… Estarão lá para sempre, são aquelas que todos vemos mas não reconhecemos.
Durante o seu percurso, algumas folhas encontram-se, tocam-se, para se soltarem no segundo seguinte e seguirem o seu caminho separadas. Em corridas paralelas mas distantes.
Folhas há que colam-se não se soltando mais todo o percurso, vivendo num eterno rodopiar uma em volta da outra numa valsa silenciosa.
Mas há folhas, que estando muitas vezes sozinhas, flutuam em pequenos grupos que se vão tocando e revezando entre si sem ficarem presas… Nem completamente livres.
E a corrente plena de folhas continuará a chilrear por entre os seixos da planície até que a árvore, velha de anos, caia sob o seu próprio peso e novos ramos de outras árvores soltem novas torrentes de folhas.
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