segunda-feira, 30 de março de 2020

Estranhos Tempos



Nestes tempos olho as ruas vazias,
E escuto o silencio das estradas,
Sentindo a solidão nas casas.
Vivendo as noites frias,
Olhando as pessoas paradas.

O mundo, a respiração prende,
Por pavor do vírus liberto
E se para alguns, o fim é certo,
Para outros a imobilidade ofende,
Mesmo se a morte está perto.

Escuto os pássaros, sinal de esperança
Num futuro ainda desconhecido
Num presente tão tremido
Em que me encolho, qual criança
Como de um castigo, fugido.

Vestes brancas, pobre idoso
Suportando os males do mundo,
Neste planeta imundo
Reza a missa, saudoso,
Do povo que orava, profundo.

Tu que estás no Céu, Criador,
Abençoa estas Tuas criaturas,
Poupa-as a tais torturas
E afasta para longe a dor
Livra-os de tais amarguras.


Leva os Teus cavaleiros, também
Que há muito lançaste na Terra,
Livra-nos da Fome e da Guerra,
Livra-nos de todo o mal, Amém,
E da Peste que hoje aqui se ferra.

Os loucos governam o mundo,
Deixam todos os outros morrer,
Desprezam os que deviam proteger
Querem o dinheiro, nauseabundo,
Tudo o resto se pode perder.

A morte de um homem é tragédia
Mas só estatística, se forem mais,
Não pensam assim os demais
Apenas os loucos que têm a rédea
Quando entre os seus, não há fatais

Assustada, a criança chora
Temendo o pior, choramos também
É uma dor que não poupa ninguém
Mas há quem p’ra isso não tenha hora
Envolto na luta de salvar alguém.

E graças a eles,

 Irá ficar tudo bem.

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8 comments:

Anónimo disse...

Uma bonita abordagem ao mundo que agora temos, ao medo que ainda não perdermos.
A poesia aparece nesta linguagem de afectos.
Parabéns, Manuel Amaro.
F. Morgado

o nò nas tranças disse...

Oh amigo, Manuel Amaro Mendonça... isso assim nao vale de me por as lagrimas nos olhos com este magnifico texto, mas dou-lhe os meus humildes e sinceros parabens, que maravilha a musica bem escolhida, as fotos tao justas e pertinentes... ja conhecia o seu estilo literario com os livros que lhe comprei''Terras de Xisto'', Alem Marao, mas, essa ''veia''poe'tica'' desconhecia, felicitations, vou partilhar, um abraço literario e obrigada.

Hengerinaques disse...

FANTÁSTICO! Grande abraço meu amigo.

Carla disse...

Parabéns amigo Manuel, nestes tempos mais sombrios também se escrevem coisas belas, porque a escrita poética ou não é sempre um pedacinho de nós, do que somos, do que vivemos, do que sentimos.

Elisabete Barbosa disse...

Parabéns meu amigo, nestes tempos sombrios e incertos que estamos a viver, este poema é um retrato perfeito daquilo que todos sentimos, mas que só alguns têm o dom de descrever em palavras desta forma.

Obrigada por nos continuares a presentear com os teus trabalho.
Fica bem.
Elisabete Barbosa

M.L.M disse...

Belo poema ainda que seja terrível a situação que nos mostra é o ´que estamos a viver infelizmente, parabéns por nos mostrar os teus sentimentos que eu conheço.

Que DEUS nos proteja

31 de março 2020 16 :30

Maria Luísa Mendonça.

Suzete Fraga disse...

Belíssima estreia na poesia!
Poema que sufoca momentaneamente pela veracidade nua e crua. Vai ficar tudo bem. Fiquem em segurança. Beijinhos 😘

António P. disse...

Caro Amaro,
É um magnífico texto poético que aborda com sensibilidade os temores do nosso tempo.
Além disso, o conteúdo do vídeo é muito apropriado à mensagem do poema.
Parabéns.
António C.

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