tag:blogger.com,1999:blog-4295399120485354382024-03-13T14:52:49.645+00:00DEBAIXO DOS CÉUSBlogue do autor Manuel Amaro Mendonça onde são divulgadas as actividades relacionadas com a escrita.Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.comBlogger232125tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-61689982556111777292024-02-29T00:09:00.023+00:002024-02-29T09:02:44.260+00:00Forjando Alianças<font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 6cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;"> <br /></font></span></em></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 6cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span></span></em></p> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeA9K3BQuuYOJxou8NraJo2MTotZP_i52zjDsehpBGbHwcgLs4CztoTu814QmlQChgLL9X2EIDQkg-erXvsMXtvo9NhfuF5ZAsKkw4H1dFq4OtOH2vU9eVO2lh2UzmnrDR_eGdyxgM3QOPfK81On_fvhkmJlWcy-V9XVusyvYBJOH7davlTl5jqxT65ZbH/s800/19%20-%20Forjando%20Alian%C3%A7as.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeA9K3BQuuYOJxou8NraJo2MTotZP_i52zjDsehpBGbHwcgLs4CztoTu814QmlQChgLL9X2EIDQkg-erXvsMXtvo9NhfuF5ZAsKkw4H1dFq4OtOH2vU9eVO2lh2UzmnrDR_eGdyxgM3QOPfK81On_fvhkmJlWcy-V9XVusyvYBJOH7davlTl5jqxT65ZbH/w400-h266/19%20-%20Forjando%20Alian%C3%A7as.jpg" width="400" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><b style="background-color: white; color: #555555; font-family: Roboto, Arial, Helvetica, sans-serif; font-size: 13px;">Na Madrugada dos Tempos - Parte 19</b></td></tr></tbody></table><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><em><span></span></em></div> <em><span> <br /><font style="font-size: 10pt;"> <br /></font></span></em> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 6cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Para vencer - material ou imaterialmente - três coisas definíveis são precisas: saber trabalhar, aproveitar oportunidades, e criar relações. O resto pertence ao elemento indefinível, mas real, a que, à falta de melhor nome, se chama sorte.</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 6cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Fernando Pessoa (1888-1935)</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 6cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Escritor português</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Mirsulo estava feliz. Aqueles homens e mulheres, apesar de culturalmente mais atrasados, recebiam-nos como irmãos e, principalmente, salvaram a vida do primogénito. É verdade que tinha muitos filhos das suas quatro esposas, mas Tibaro, além de mais velho, sempre fora o seu favorito. Era aquele que lhe recordava ele próprio, quando era mais jovem.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Olhou Erem de perfil, enquanto este contava uma peripécia de caça a Savirio. Era um rosto de linhas firmes, nariz forte e queixo bem delineado. Os seus olhos castanhos olhavam diretamente nos do seu interlocutor, sem se desviarem. Gostou daquele homem assim que o viu; alguém que se preparava para se defender de um grupo de jovens guerreiros armados com um bando de velhos, mulheres e crianças…, mas alguém que se defenderia mesmo assim, nunca se renderia sem luta. Naci, o filho, era sem dúvida da mesma cepa, embora talvez um pouco mais impetuoso.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Tenho uma oferta para te fazer. — Mirsulo interrompeu Erem, que o olhou com curiosidade. — Salvaste o meu filho, um estranho, sem esperar nada em troca. Quero oferecer-te uma filha! Desejo que o teu filho Naci, sei que não tem mulher, tome como esposa Tuana, uma das minhas filhas. Será muito bom ter um neto com o sangue de tal bravo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Se Savirio o olhou com incredulidade, Erem olhou com satisfação.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Foi o curandeiro quem primeiro reagiu à proposta: —Uma das tuas filhas? Para viver no meio… deles?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Sim. — O chefe hati estava decidido e encarou o seu companheiro de viagem com uma expressão que o silenciou. — Mandarei um dos meus construtores para construir uma casa digna da filha de Mirsulo. — Depois tornou o olhar para o chefe de Barinak. — Isto, se concordares.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Será uma grande alegria receber a tua filha, que será como se a minha fosse. — Afirmou Erem alegremente. — O teu construtor terá muitos ajudantes.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Quero também propor-te outra troca. — Mirsulo estava imparável. — Vejo, pela variedade de carnes salgadas que me apresentas, que tens acesso a abundância de sal; que queres trocar por alguns cestos de tempos em tempos?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— O sal que temos vem da grande água a dois dias daqui. — Esclareceu Erem simplesmente. — Os comerciantes que o tiram da água trocam a qualquer um.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Sim, eu sei. — O chefe hati sorriu. — Mas fica a dois dias de viagem para ti, para mim são mais de quatro e outros tantos de volta. Antes, íamos a uma mina de sal a menos de três dias para <i>Ner</i> <a href="file:///C:/Users/manue/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span></span></span></a>de Hatiweik. Há algumas luas, um grande bando de nómadas apossou-se da aldeia e da mina e não negoceiam, ou simplesmente pedem coisas impossíveis. Se trocasses sal comigo, os meus carregadores fariam apenas dois dias de viagem. Que quererias em troca?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Erem fitou o rosto largo e sincero do seu homólogo enquanto pensava se deveria pedir já o que lhe interessava, ou se começaria por outra coisa qualquer. Após uns segundos, como impaciente que era, resolveu ir logo diretamente ao assunto: — Quero saber como se consegue isto. — Apontou a reluzente placa de cobre, decorada com gravações, que Mirsulo trazia ao peito.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Savirio olhou com espanto para Erem e depois para o seu chefe, com a expressão: “Eu não te disse?”</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">O chefe dos hati olhou para a placa enquanto a acariciava pensativamente. Depois, num gesto rápido, tirou a tira de couro com que a suspendia ao pescoço. Sob o olhar atento do seu curandeiro e, exibindo um sorriso nervoso, colocou-a em Erem que ficou visivelmente agradado.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Lemi bateu as palmas com satisfação pelo gesto.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Salvaste o meu filho! — Reafirmou Mirsulo gravemente. — És meu irmão! — Agora diz-me, irmão, queres o quê exatamente? Estes adornos? — Exibiu as pulseiras que subiam em espiral pelos braços em grossos fios.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Preciso de armas melhores. — Respondeu Erem, aliviado por poder falar francamente. — Temos sido atacados e roubados por estranhos que trazem armas como as vossas; as lanças espetam-se melhor e as facas não se partem e são mais compridas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Obter o cobre não é fácil. — Explicou o chefe hati. — É precisa grande magia para roubar o sangue de fogo das pedras.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Magia? — Lemi e Erem surpreenderam-se.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Sim, claro, como acham que conseguiria fazer uma coisa tão dura como pedra? — Savirio adiantou-se. — Só os mágicos é que atiram pedras para o fogo e transformam-nas no sangue da terra. Um líquido grosso que corre em brasa e queima tudo em que tocar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Também temos sido atacados aqui e ali por esses bandidos. — Informou Mirsulo, desviando a conversa. — Não se atrevem muito próximo de Hatiweik porque sabem que está bem protegida atrás dos muros. Mas atacam as casas dos agricultores que existem em volta, matam, roubam e destroem tudo. São os mesmos que se apoderaram das minas de sal. Os meus espiões dizem que vieram de <i>Ner,</i> são muito numerosos e não param de chegar mais.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Deveríamos tê-los atacado quando se apoderaram das minas e eram menos. — Censurou Savirio. — Conforme te recomendaram o teu filho e os chefes guerreiros.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Mesmo quando eram menos, — Mirsulo não ficou contente com a censura do curandeiro —, continuavam a ser muitos e morreriam muitos dos nossos para os destruir. Os nossos homens estão habituados a exigir tributos a comerciantes reticentes, castigar ladrões e a expulsar desordeiros. Lutar contra guerreiros armados e acostumados à guerra<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>será muito diferente. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Antes o problema era difícil, agora é praticamente impossível… — insistiu Savirio.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Chega! — Ordenou o chefe hati estendendo a mão com a palma para baixo na direção do seu subordinado. — Se se tratasse de um simples bando de salteadores já estavam eliminados. Mas são um número muito grande de guerreiros, que correm nas costas de cavalos, armados com lanças e flechas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Cavalos? — Lemi arregalou os olhos? — Como conseguem subir nas costas dos cavalos?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Também não sabemos. — Mirsulo mostrou-se desanimado. — Sempre usamos burros como animais de carga, alguns deixam-se montar, principalmente aqueles que nascem dos que apanhamos selvagens. Mas os cavalos, é quase impossível apanhá-los com vida, quanto mais montá-los.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— A solução é unir forças. — Sugeriu Lemi, calando-se de imediato e desculpando-se com um olhar a Erem.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Estariam prontos a lutar ao nosso lado? — Mirsulo mostrou-se interessado. — Há outros povoados nossos amigos… realmente, se nos uníssemos todos…</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Teria de falar com todo o meu povo. — Erem fez uma expressão de desagrado. — Não poderia simplesmente dizer-lhes para caminharem para a morte.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Ou para a vitória. — Acrescentou Savirio.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Fez-se um silêncio pesado entre eles enquanto cada um se refugiava nos seus próprios pensamentos.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Erem interrompeu as meditações: — Mas quanto ao cobre. Que temos de fazer para o conseguir?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Em troca do sal… — começou Mirsulo fazendo uma expressão pensativa —…, poderemos dar-vos pontas de seta e de lança. O problema é que não há tanto cobre como possas pensar. Não são quaisquer pedras que os mágicos querem, têm de ter uma cor e um aspeto que eles exigem. Temos de escavar muito para encontrá-las, outras vezes, são trazidas por comerciantes provenientes de <i>Hewsos</i><a href="file:///C:/Users/manue/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span></span></span></a>, mas não dizem de onde vieram exatamente.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Zia, ultrapassado o aborrecimento, regressou ao convívio e sentou-se pesadamente ao lado de Savirio, para desagrado deste. Erem dedicou-lhe um sorriso triste a que ela correspondeu.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Os teus mágicos poderiam ensinar-nos quais as pedras a procurar… — sugeriu Lemi, espreitando por cima da cabeça de Zia.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">O curandeiro hati voltou a deitar um olhar de alarme ao seu chefe.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Estamos a falar sobre o cobre. — Erem informou a mulher. — Mirsulo diz-nos que são mágicos que produzem o cobre, queimando umas pedras.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Nunca ouvi falar dessa magia. — Entendida no assunto, a xamã emitiu a sua opinião. — O poder dos deuses é pedido em muitas ocasiões, nem sempre conseguido. Que fazem essas pedras queimadas?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Transformam-se no sangue da terra! Vermelho, fumegante e queima tudo em que toca. Quando arrefece fica duro como a pedra. — Explicou Savirio, com ar de superioridade.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— E qual o deus que abençoa essa transformação? — Questionou ela assumindo a mesma postura.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Mas que queres saber tu, mulher, destes assuntos de homens? — A agressividade do curandeiro regressara.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Não me vais voltar a fazer sair da minha própria casa! — Rosnou Zia entre dentes, mas suficientemente alto para que os mais próximos ouvissem. —Tal como o sol e a lua, também o homem e a mulher foram criados diferentes e iguais no Primeiro Amanhecer! Se Da Pater é o deus pai, Da Mater é mãe, irmã e esposa! A mulher não está abaixo do homem, mas a seu lado! — Os seus olhos pareciam soltar chispas na direção de Savirio. — Eu sou a sacerdotisa de Swol, xamã do Clã do Leão das Montanhas. Sou a voz e a mão do deus. Sou xamã, caçadora, guerreira e mãe, mais do que tu alguma vez serás! És meu convidado e ouço o que dizes, tu deves respeitar a mim e a minha casa!</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Ouço-te, esposa de Erem e xamã! — Mirsulo tomou a dianteira rapidamente, calando Savirio com um gesto. — O curandeiro-maior do meu povo respeitará a tua posição, apesar de seres mulher e isso ser diferente dos nossos costumes. — Depois olhou diretamente para ele. — Se ele não se sentir bem, tem a minha autorização para se retirar. Não te voltará a afrontar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Savirio corou da cabeça aos pés e olhou o seu chefe de soslaio por várias vezes sem conseguir evitar de resmungar baixinho o seu descontentamento.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Para responder às tuas perguntas sobre os deuses que presidem à transformação das pedras — retomou Mirsulo — é Tarunte, claro, deus da guerra do fogo e da vida.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Tharun é o deus do trovão, da guerra e do fogo, sim. — Respondeu ela, corrigindo o nome. — Mas não o da vida. Da Pater e Da Mater criaram o primeiro homem e a primeira mulher, eles sim, os deuses da vida e puseram-nos à guarda de Swol e Mensis. O Senhor do Dia ilumina-nos e faz crescer as colheitas e os animais e a Senhora da Noite vela sobre a escuridão e guia a fertilidade da mulher que dá os filhos dos Homens.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">— Se teu esposo permitir — num ato de apaziguamento, Mirsulo soltou uma das suas pulseiras de cobre em espiral e ofereceu-a diretamente a Zia, depois de um rápido olhar a Erem — recebe este penhor do meu respeito pela xamã e voz dos deuses do Clã do Leão das Montanhas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div style="mso-element: footnote-list; overflow-wrap: break-word; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font> <hr align="left" size="1" style="margin-bottom: 10px; margin-top: 10px;" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///C:/Users/manue/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Proto Indo-Europeu: Esquerda (que acabará por ser o ponto cardeal norte) por oposição ao sol do meio-dia.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///C:/Users/manue/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[2]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Proto Indo-Europeu: Madrugada é uma das deusas do panteão, mas também um dos pontos cardeais que dará origem ao Leste.</font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"> </p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" style="font-family: Georgia;">
<tr>
<th><h3>ANTERIOR</h3></th>
<th><h3></h3></th>
<th><h3>A SEGUIR</h3></th>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/01/confraternizacao.html"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiR8LvXNBU25DQtgUKm2OuEYJds7rE_UrSsmT-MCYN7_QWheIlp6JnphDjLR4-a5TnGKR889HWC6LjMzIg2hvqnwIXGB2dY7savkYr7NrqasIZcheAaQYzMtWT4g-iICYwt9HWyORtD1XJq2IgfyUMzYPlZq7ACcIG0Ds-DOZRGR-W7CcNzxKOHDh6XeOtk/s320/18%20-%20Confraterniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" width="320" /></a></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/01/confraternizacao.html">18 - Confraternização</a></td></tr></tbody></table><br /></td><td></td>
<td> 20 - Os Refugiados</td>
</tr>
<tr>
<td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td>
<td></td>
<td></td>
</tr>
</tbody>
</table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-51731723687479390372024-01-29T08:11:00.006+00:002024-03-02T23:19:53.485+00:00Confraternização<p>z </p>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhQC8vqFWOhUPtPA2Hp91JHQHSfnXJVlFWnhFNhqAZomRzhlKDaGqfc7CcaG4eRUssnK5kX4h26YXXK4mccp7oj1T53VqhITey4V7sSaZdIDO1AdIcAMaRfPbnjjtVDHdbZwf_uu_PatTRqAbqpHKFsCzic7EivFpV6C9xNcgsNO8TLmpsnhJjLKRgIB4V/s800/18%20-%20Confraterniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhQC8vqFWOhUPtPA2Hp91JHQHSfnXJVlFWnhFNhqAZomRzhlKDaGqfc7CcaG4eRUssnK5kX4h26YXXK4mccp7oj1T53VqhITey4V7sSaZdIDO1AdIcAMaRfPbnjjtVDHdbZwf_uu_PatTRqAbqpHKFsCzic7EivFpV6C9xNcgsNO8TLmpsnhJjLKRgIB4V/w400-h266/18%20-%20Confraterniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" width="400" /></a>
</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<b>Na Madrugada dos Tempos - Parte 18</b>
</div>
<br />
<blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;">
As culturas sobrevivem enquanto se mantiverem produtivas, enquanto forem sujeito de mudança e elas próprias dialogarem e se mestiçarem com outras culturas.
</blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;">Mia Couto
Escritor e Biólogo moçambicano
</blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"><blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;">Nascido em 1955
</blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote></blockquote><blockquote style="border: none; margin: 0px 0px 0px 40px; padding: 0px; text-align: left;"></blockquote>
<div align="justify" class="MsoNormal" face="Georgia">
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;"><br /></font>
</p>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Quando Mirsulo e Savirio entraram na casa da reunião, perceberam de
imediato que não seria uma vulgar refeição aquela para a qual foram
convidados.
</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Erem, por baixo da sua pele de leão, com a imponente cabeça da fera sobre
a sua, usava peles novas e luzidias que repousavam sobre os ombros e
antebraços, assim como uma túnica branca e limpa. Zia usava uma tiara com
penas coloridas de várias aves e uma túnica decorada com riscas de várias
cores pintadas à mão. Também os tornozelos, os pulsos e o pescoço
ostentavam tiras de couro cuidadosamente entrançado.
</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Os restantes convivas, sentados no chão, em pedras ou toscos tambores de
madeira, postavam-se na forma de um U, em volta da fogueira central,
voltados para a entrada. Estavam também ataviados com as peles mais novas
e aquilo que acharam de melhor. Apesar da maior parte do fumo se escoar
pelo buraco no meio do telhado, havia uma atmosfera nublosa envolta nos
aromas da carne que estralejava no fogo.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">O barulho das conversas parou de imediato assim que os convidados Hati
assomaram à entrada. Traziam as mesmas roupagens que, por si só,
distinguiam-se em qualidade das dos seus anfitriões. Uma das jovens netas
de Erem indicou os lugares entre o chefe e a companheira para os dois
importantes dignitários e outros para Tibaro e os companheiros. Logo ao
lado de Lemi e as suas duas esposas.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">O chefe estrangeiro, antes de se focar nas pessoas que o esperavam, fez
uma rápida apreciação da casa da reunião; paredes mais ou menos direitas,
mistas de colunas de madeira e pedras desbastadas, os espaços preenchidos
com lamas secas. Dois grandes troncos apoiavam o telhado, também composto
por traves grosseiras e colmo.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">De imediato, vários jovens de ambos os sexos, netos de Erem e Lemi,
começaram a apresentar aos convidados travessas de madeira com tiras de
carnes secas, carnes grelhadas ou mesmo cruas. Outras travessas traziam
pequenos abrunhos e figos secos.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Todos continuavam calados, de olhos fixos nos convidados.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Ciente da atenção que recebia, Mirsulo sentou-se e sorriu para Erem e
Zia, antes de fazer um gesto a Savirio para que o imitasse. Seguidamente,
pegou uma das tiras de carne e começou a mastigar com satisfação, olhando
para a petrificada audiência.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Este pareceu ser o sinal para que todos voltassem à normalidade e as
conversas e risos voltaram ao salão como se nunca tivessem sido
interrompidos.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Savirio estava contrariado por ser separado de Tibaro, que fora
encaminhado para junto de Naci e os restantes filhos do chefe e por ficar
junto de Zia que se portava friamente para com ele.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Os dois chefes conversavam sobre a casa da reunião, com Mirsulo a elogiar
a força da sua arquitetura e a questionar porque as restantes construções
não seguiam os mesmos moldes. Erem explicou-lhe em traços largos a ajuda
prestada por Alim e Beki, porém, se a casa da reunião era uma obra para
todos, onde todos colaboravam, as casas individuais eram trabalho de cada
um e da sua família. Levaria mais tempo a assumir construções melhoradas
nas casas mais antigas de Barinak, embora já as houvesse nas zonas
recentes.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">O chefe Hati não pareceu compreender o que lhe era explicado; para ele
era bastante simples; diria a cada família que disponibilizasse um ou dois
homens, que trabalhariam por alimentos e construir-lhe-iam uma boa e
confortável casa.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Erem olhou-o com estranheza e disse que teria de caçar muitos dias para
poder alimentar assim tantas pessoas.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— As pessoas deviam estar agradecidas por viver sob a proteção do
<i>déms pótis.</i> — Desta vez até o mal-encarado Savirio interveio. —
Tratando-se da casa dele, até poderiam trabalhar sem receber nada. De
todas as formas, com o que recebe de todos os caçadores, pescadores e
agricultores, tem alimentos mais do que suficientes para ele, a família e
os trabalhadores.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Não, não. — Negou Erem. — Já me falaram desse vosso costume, mas aqui
as coisas são diferentes. Cada um trabalha para si e para a sua família.
Juntam esforços para melhores resultados e aquilo que lhes é retirado
trabalho é para alimentar os doentes, as viúvas e os órfãos.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— O que te impede de tirar mais um pouco? — Sorriu conspicuamente
Mirsulo. — Não és tu quem decide?</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Sim, mas… — o chefe de Barinak começava a sentir-se desconfortável —…
mando, porque estão todos de acordo que assim seja. Sabem que sou justo e
olharei por eles quando precisarem.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Precisamente. — O curandeiro estava cada vez mais interessado na
conversa. — Esse trabalho, essa responsabilidade para com eles deve ser
recompensada.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Os outros podem não aceitar… — Lemi, que se mantivera calado até ali,
aparentemente distraído da conversa, virou-se para os convidados. — … na
certa revoltavam-se e quereriam escolher outro chefe.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Para que te servem os homens que te são leais? — Mirsulo fez a pergunta
a Erem, voltando-se depois para Lemi. — A própria família? Não terias o
seu apoio?</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Aqui somos todos irmãos perante Swol! — Sentenciou Zia subitamente. —
Fazer o que pedes é viver como as pulgas e os piolhos; a comer o que os
outros produzem com o seu esforço!</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— A mulher não devia falar sem que lhe fosse pedido! — Indignou-se
Savirio, tomando a posição de uma criança amuada.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Também nisso somos diferentes, Mirsulo de Hatiweik. — Indignou-se a
Xamã, ignorando o curandeiro. — Swol criou o homem e a mulher diferentes,
mas como duas partes da mesma coisa. As duas faces do mesmo rosto, as duas
mãos ou os dois pés do mesmo corpo!</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Mas a boca é só uma! — Replicou Savirio. — Devias calar-te e não entrar
na conversa dos homens!</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Zia levantou-se intempestivamente.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Calem-se… ambos! — Erem alterou-se, carrancudo. — Não quero discussões
neste dia de festa.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">A cacofonia de conversas cruzadas parou subitamente, quase em simultâneo,
sob a ordem seca do chefe de Barinak. Todos se olharam confundidos e os
elementos dos Hati trocaram olhares de avaliação e suspeição com os seus
anfitriões. A tensão na sala subiu repentinamente e todos se perguntaram
se aquele que estava sentado ao seu lado era um amigo ou inimigo.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Savirio…! — Rosnou Mirsulo entre dentes, desagradado. — Deixa-me ser eu
a falar.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Não recebemos bem os nossos convidados. — Erem admoestou Zia num tom
mais suave, apesar do seu rosto crispado. — Vamos perdoar-lhes a diferença
de ideias e evitar discussões.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Quando um convidado nos vem insultar na nossa própria casa… — ia
continuar a xamã.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">— Zia… — o chefe não terminou a frase, mas o seu rosto triste dizia
tudo.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Ela virou-lhes as costas e saiu intempestivamente, percorrendo a sala em
passos largos sob os olhares interrogativos de todos.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Savirio abriu a boca para dizer algo, mas o simples olhar furioso de
Mirsulo fê-lo fechá-la sem emitir um som e retornar ao seu mutismo
amuado.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Erem deitou um olhar rápido a todos os convivas; bastaria uma palavra sua
e a sala transformar-se-ia num campo de batalha. Ergueu-se com um sorriso
e fez um gesto na direção da entrada. Seis homens e mulheres fizeram a sua
aparição, três deles ressoando peles esticadas sobre molduras de madeira,
dois saltavam e gritavam enquanto abanavam cabaças cheias com pequenos
seixos e outro soprava notas agudas através de um osso furado.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Com tão intempestiva entrada, a audiência logo esqueceu o pequeno
incidente e batia as palmas e soltava gritos de incentivo. O entusiasmo
aumentou e houve exclamações de espanto quando um grupo de vários
guerreiros entrou em corrida e começou a executar um conjunto de saltos e
cabriolas em volta e por cima da fogueira.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">O chefe e o curandeiro Hati assistiram em silêncio às acrobacias e
presenciaram o drama traumático de dois indivíduos cobertos de peles, onde
quase só se viam os olhos, a “matar” um e depois outro dos dançarinos e
fugirem com vários objetos. Seguidamente os restantes perseguiram-nos,
sempre em redor da fogueira e travaram uma acrobática luta que resultou na
derrota dos “peludos”. Os vencedores colocaram um pé sobre os vencidos e
soltaram urros de vitória ecoados pela vibrante assistência e um crescendo
da cacofonia dos instrumentos musicais.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Tão depressa os dançarinos saíram em corrida, como entrou outro, a cabeça
coberta com um espantoso crânio de auroque, que foi ameaçando a
assistência com roncos e os afiados chifres. Três dançarinos, com tiras de
tecido em volta da cabeça e envergando túnicas, simularam o ataque ao
“animal” que os derrubou e os fez correr em volta da fogueira.
</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Outros três, vestidos conforme as tradições de Barinak, fingiram-se
surpreendidos pela refrega e envolveram-se na “luta”. Um dos que envergava
túnica fez-se de morto, assim como um dos outros. Os dois grupos
uniram-se, dançaram juntos, perante o espanto do “auroque”, até que,
juntos, ergueram um dos homens de Barinak que simulou uma estocada mortal
sobre a fera.
</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">A besta caiu como morta para gáudio da assistência que irrompeu em
aplausos e gritos de “Naci, Naci, Naci” enquanto os dançarinos saiam
transportando o crânio de auroque numa procissão vitoriosa.</font><span style="mso-spacerun: yes;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font>
<p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;">
<font style="font-size: 12pt;">Os instrumentos musicais aumentavam o ruído ensurdecedor da assistência
em crescendo, até que se calaram subitamente, deixando apenas alguns
aplausos tardios e murmúrios excitados e felizes.</font>
</p>
<font style="font-size: 12pt;"></font><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin; overflow-wrap: break-word; text-align: left; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;">Os agravos do início da cerimónia foram apagados da memória de todos,
inspirados pelas imagens dos dois povos a lutar para eliminar uma ameaça
comum.</font></span>
<p class="MsoNormal"> </p>
</div>
<br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/12/o-conselho-de-barinak.html"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgHSg5TXDkE5ggNoqIEyzaZSDeVE9MuTt2SQe1J4tXaYGMoPVcZnhhouQnHpG86d3ortRUCw8fhlv9G6bJiM_W9XjLBr19nHQuFpBkb1YiLPqB3hJ0C65Q6bmicBBibOdteIp7WKk151apQNfcAcLe7sHRDqE3aazLTeIDwD8_Kj3O8gun2__oKHULp2Cpy/w295-h196/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" /></a></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/12/o-conselho-de-barinak.html">17 - O Conselho de Barinak</a></td></tr></tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/02/forjando-aliancas.html"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNqooRNVQmc-t4z8JVoxRuL9J2fppTKgSgXgoGAgxATholpZ8GxMdfIzID0Qf0Pbz9W0Vc81vuuIYGh03x9r_5im5peWovi5HCIFqk1YvQwhkpbxsDYPn-StZ89IqSYUQM2ag8eYdorB4_1t3wHjDavp2sloxOJ46V9bGJdBx_2Kz0mx9UeNGj1FY6YLx4/w303-h192/19%20-%20Forjando%20Alian%C3%A7as.jpg" /></a></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/02/forjando-aliancas.html">19 - Forjando Alianças</a></td></tr></tbody></table>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Na Madrugada dos Tempos</a></td></tr></tbody></table>
Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-88660902157399639252023-12-29T00:01:00.002+00:002024-01-31T08:01:15.384+00:00O Conselho de Barinak<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfPBx2BE19h0LhhsL4nOkNQtlnsJ0HuJ_cRRDxzMJX1-8yBogUrCl_zZ15pO0kgl1ffzZwfYCQf1dxw8vdHAIpKqHBnOuANwO-YsRL4yGl-izJ1sbQItSqTwn_3Nf9W5CmNVEGZhvmE8cXfVmH_9xdOmjqSVrKicJsVdL8HSJW_FfE_UFI18U1GCULrIuI/s800/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjfPBx2BE19h0LhhsL4nOkNQtlnsJ0HuJ_cRRDxzMJX1-8yBogUrCl_zZ15pO0kgl1ffzZwfYCQf1dxw8vdHAIpKqHBnOuANwO-YsRL4yGl-izJ1sbQItSqTwn_3Nf9W5CmNVEGZhvmE8cXfVmH_9xdOmjqSVrKicJsVdL8HSJW_FfE_UFI18U1GCULrIuI/w400-h266/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" width="400" /></a></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 17</strong></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <div align="left" class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <blockquote> <p align="right"><em>Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição </em></p> <p align="right"><em>venha a pensar o mesmo que eu; mas nessa altura já o pensamento lhe pertence.</em></p> <p align="right"><em>Agostinho Silva</em></p> <p align="right"><em>Filósofo, poeta, ensaísta, professor e filólogo português</em></p> <p align="right"><em>(1906-1994)</em></p> </blockquote> <p><em></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Depois do choque inicial e da alegria dos hati, que se encontravam a acompanhar o ferido Tibaro, pela chegada dos seus conterrâneos, foi a altura de tratar dos assuntos mais práticos. Zia e as suas noras, Damla e Nadire, organizaram junto do povo a libertação temporária de algumas casas, para hospedar os estrangeiros. Os visitantes, no entanto, não mostraram grande simpatia pela ideia de serem separados. Os burros que acompanhavam a comitiva traziam o material para erguer as tendas com capacidade para os alojar a todos e aceitariam apenas que lhes indicassem o local para as montar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Apesar da alegria de ver o seu filho vivo e a recuperar, o aspeto de Barinak, de que tanto ouvira falar, deixara-o tremendamente desiludido. Não passava de inúmeros casebres, onde as pessoas viviam como se fossem selvagens, sem roupas adequadas… e sem se lavar, conforme o seu nariz que não cessava de o informar. O próprio <i>déms pótis</i> vivia numa palhota daquelas, em vez de ter uma verdadeira casa com várias divisões, onde residir com toda a família. Como eram pobres e desengraçadas aquelas casas redondas comparadas com as belas e alvas casas de Hatiweik.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Erem levou Mirsulo e Savírio a ver o santuário, do qual os dois estrangeiros ouviram falar lá na sua terra, mas eles não pareceram muito impressionados. O curandeiro caminhou por entre as pedras, afagando com mais atenção aquelas que haviam sido diligentemente esculpidas por Asil. O chefe estrangeiro olhou pensativamente para o círculo inacabado e decidiu, contra a vontade do companheiro, que deveriam orar a Tarunte naquele local, como agradecimento pela salvação de Tibaro.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Mais tarde, os estrangeiros reuniram-se aos seus homens para serem iniciadas as montagens dos alojamentos onde passariam a noite.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Erem e Zia observaram o afã dos estrangeiros a erguer as tendas onde pernoitariam e logo ali comentaram a fantástica tenda central, maior que quatro das casas de Barinak juntas. Parecia impossível como podiam ter tanto tecido para tantas tendas, tão grandes e como montavam as estruturas tão rápido, prendendo-as ao chão com estacas e cordas. As roupagens deles, as armas, por ali se via possuírem conhecimentos muito superiores. Podiam ser um amigo poderoso, ou um inimigo muito perigoso.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Mirsulo e Savírio recolheram-se à tenda principal e mandaram chamar os homens que haviam ficado na aldeia com Tibaro. Era óbvio que queriam saber de tudo sem serem ouvidos e sem interferências. Erem, por sua vez, foi para a casa da reunião e mandou chamar Alim, Tailan e Lemi. Este último chegou apoiado num pau e com aspeto bastante débil; já estava febril há vários dias e as mezinhas de Nehir não pareciam nutrir qualquer efeito.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Erem queria saber o que achavam os seus amigos/conselheiros, dos visitantes e como deveriam agir para com eles. Todos concordavam que deveriam agir com cautela. Alim já conhecia Hatiweik, o seu povo e o <i>déms pótis </i>anterior, Taramor, que deveria ser o pai de Mirsulo; não achava que fossem perigosos, a menos que houvesse algo que eles quisessem muito e fosse-lhes recusado. Eram uma povoação com muita gente e aqueles homens que faziam parte da comitiva era uma pequena amostra de quantos podiam ser reunidos para a guerra. Negociara várias vezes com pessoas de lá e, embora tivesse de deixar algumas das coisas que trocara, como pagamento por comerciar, nunca teve problemas com eles.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Não entendo. — O chefe franziu o sobrolho. — Deixar coisas? Então ias trocar coisas com o povo e tinhas de deixá-las?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Não todas. — Esclareceu Alim. — Como era de fora de Hatiweik, tinha de pagar o que eles chamam taxa de comércio. Deixava uma cabra, às vezes três galinhas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— A quem? — Erem insistiu.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Ao <i>déms pótis</i>. — O antigo comerciante sorriu.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— O chefe? — Também Lemi estava confuso. — Ele andava pelas casas a pedir as coisas aos comerciantes?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Não! — Alim soltou uma gargalhada. — Toda a povoação é cercada por muros altos e só se consegue entrar por dois ou três passagens onde estão homens do <i>déms pótis </i>a guardá-las. Se estás a sair da povoação com coisas que estás a comerciar, ou não és de lá e estiveste a fazer negócio, ou és de lá e vais negociar para outro lado. De ambas as formas tens de pagar a taxa ao <i>déms pótis</i>. Os homens e mulheres que vivem lá dentro também têm de pagar pelas coisas que fazem e trocam, também aqueles que trabalham os campos fora dos muros, ou os pastores e caçadores.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Assim ele tem tudo sem fazer nada… — Concluiu Tailan. — Já vi essa povoação há muito tempo, mas nunca estive lá dentro.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— A verdade, — acrescentou Alim —, é que ele assegura a defesa da povoação com homens armados e esses homens recebem bens pelo seu trabalho. Claro que ele tem de tudo para si e para a sua família sem precisar de ir pescar, caçar ou trabalhar a terra. Mas todos pagam com a satisfação sabendo que não vão ser atacados por ninguém porque terão quem os defenda. Se alguém roubar alguma coisa a outro é castigado com chicotadas ou podem até cortar-lhe uma mão, os homens do <i>déms pótis </i>encarregar-se-ão disso.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Os outros três exibiram expressões de espanto e horror.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Nós também cuidamos uns dos outros e se alguém achar que outro lhe tirou algo que lhe pertence vêm até mim e aceitam a minha decisão. — Observou Erem. — Se nos atacarem, vamos defender-nos. Todos caçamos, trabalhamos as terras e temos porções de comida iguais, eu encarrego-me de que assim seja… ninguém tem de me dar nada por isso.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Se tivesses muita gente para todo o trabalho, não terias de o fazer. — Explicou Alim com simplicidade. — Só precisarias de dar as ordens.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O chefe calou-se por momentos, meditando nas explicações do conselheiro.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Então achas que Mirsulo tem muitos homens e mulheres prontos a servi-lo, dentro da sua povoação? — Lemi mostrou-se preocupado. — E, portanto, uma grande força para lutar?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Não tenho dúvidas. — Retorquiu o visado como o acenar de confirmação de Tailan. — Se, apenas para ir buscar o corpo do filho, traz consigo tantos homens como conseguiríamos juntar para uma luta, terá muitos mais, para defender a sua povoação e para manter a alimentação de todos.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Devemos temê-lo, portanto. — Concluiu Erem com os olhos fixos no vazio.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— No mínimo, respeitá-lo e agradá-lo. — Alim acenou afirmativamente com a cabeça.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— … sem mostrar medo ou fraqueza. — Acrescentou Lemi, por entre o seu respirar difícil. — Devemos ser hospitaleiros, mas apresentarmo-nos como iguais.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Agora que já tem o filho dele, e vivo, ao contrário do que esperava, que acham que fará agora? — O chefe enfrentou os seus conselheiros.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Como o acho um chefe bom e justo, — começou Alim —, acho que quererá regressar à sua terra rapidamente para mostrar a todos que o seu herdeiro está vivo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Também pode voltar mais tarde com ainda mais homens e levar todos os alimentos que temos. — O tio do chefe continuava a temer a força do hóspede. — Viram que estamos preparados para nos defendermos, mas que somos poucos, comparados com eles.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Não me parece que seja esse o modo de agir deste povo. — Interveio Tailan. — Como nós, estão fixos numa localização. Não são como os nómadas que podem destruir tudo numa região e depois simplesmente mudar-se. Eles devem preferir manter a amizade com os vizinhos, aumentando as possibilidades de comércio e mais vantagens para ele e sua família.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Também concordo. — Afirmou Alim.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Lemi sentia-se um pouco perdido nesta nova teia de relações. Antigamente, as tribos seminómadas festejavam quando se encontravam e apenas se deviam temer nos períodos de fome.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Então, — concluiu Erem —, devemos temê-los, mas mostrarmo-nos iguais. Respeita-los, mas não demonstrar fraqueza. — O chefe sorriu. — O meu filho Naci concordaria com essa última parte. O resto, duvido muito.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Tailan e Lemi acenaram afirmativamente.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Naci tem-se dado muito bem com os estrangeiros. — Ressentiu-se Alim com uma expressão triste. — Mais com esses estrangeiros, do que com todos nós que vivemos aqui e partilhamos estas terras com ele. Pode ser que a sua atitude em relação a nós mude daqui para a frente.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Pois chamemos então os nossos hóspedes. — O chefe ergueu-se decidido. — Partilharemos aqui a última refeição do dia com eles. Chamem as vossas mulheres e filhos. Vou escolher os nossos melhores para dançarem em volta da fogueira… dançarão a vitória sobre os homens-macaco e como caçamos e matamos os nómadas que nos roubavam. Perceberão que desafiar-nos tem consequências.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Os outros homens levantaram-se de seguida imitando o chefe. Tailan, com uma expressão divertida, curvou respeitosamente a cabeça e respondeu:</font></p> <p><font style="font-size: 12pt;"></font><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin; overflow-wrap: break-word; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;">— Será como dizes </font><i><font style="font-size: 12pt;">déms pótis.</font></i></font></span></p> <p><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin; overflow-wrap: break-word; word-wrap: break-word;"><em><font face="Georgia" size="3"></font></em></span></p> <table border="0" cellpadding="2" cellspacing="0"><tbody> <tr> <td valign="top"><br /><p align="center"><em style="text-align: left;"><font face="Georgia" size="3"> </font></em></p></td><td valign="top"></td></tr></tbody></table>
<table border="0" cellpadding="2" cellspacing="0">
<tbody>
<tr>
<th valign="top"><h3>Anterior
</h3></th>
<th valign="top"><h3><br /></h3></th>
<th valign="top"><h3>A seguir
</h3></th>
</tr>
<tr>
<td valign="top"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/11/a-embaixada.html"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi0yNrlwwPmyCVHkNScHx-q86oqDaFvi2EUR3E3uXmejWtTBfen8FL9N7PPhqV2DW31nhqFZxouKnweSEyG5NkhaWAAZbBeMT6xatXMgVZCDZCNDQpW32rXoJOuAa4P6E83ntDPNPFWGFvJPuU42vDc7U7MElti0bvHyyhsdD2CGjtxOcs7-IJ68csRClFO/s320/16%20-%20A%20embaixada.png" width="320" /></a></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/11/a-embaixada.html">16 - A Embaixada</a></td></tr></tbody></table><br /></td><td><h1></h1></td><td valign="top"><h3><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><span style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/01/confraternizacao.html"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhQC8vqFWOhUPtPA2Hp91JHQHSfnXJVlFWnhFNhqAZomRzhlKDaGqfc7CcaG4eRUssnK5kX4h26YXXK4mccp7oj1T53VqhITey4V7sSaZdIDO1AdIcAMaRfPbnjjtVDHdbZwf_uu_PatTRqAbqpHKFsCzic7EivFpV6C9xNcgsNO8TLmpsnhJjLKRgIB4V/s320/18%20-%20Confraterniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" width="320" /></a></span></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/01/confraternizacao.html">18 - Confraternização</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></h3></td>
</tr>
<tr>
<td valign="top"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td><td></td>
<td valign="top"><br /></td>
</tr>
</tbody>
</table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-80021236688978900092023-12-02T00:17:00.000+00:002023-12-02T00:17:35.636+00:00Agora é que me Livro<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm4AxIrP-ylQEjHPgzzueubOZ_6aIkimFl3tsuIjs2AzWYeH05PDZM_qe_sXR-0gZA2Q5YBTWDxDOOfdpUSu21hmh2EDMQO8q8FE1qasC4Olv6OH3OdS4j51QgEEDCY6rUft6-aJ-c9EXeX9R0G-3dbCIJlOD4uHP0FfN-4nBU1Q2zxhaXXUXf-PpB5JIa/s720/Mafalda%20Correia-Agora%20%C3%A9%20que%20me%20livro.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhm4AxIrP-ylQEjHPgzzueubOZ_6aIkimFl3tsuIjs2AzWYeH05PDZM_qe_sXR-0gZA2Q5YBTWDxDOOfdpUSu21hmh2EDMQO8q8FE1qasC4Olv6OH3OdS4j51QgEEDCY6rUft6-aJ-c9EXeX9R0G-3dbCIJlOD4uHP0FfN-4nBU1Q2zxhaXXUXf-PpB5JIa/w400-h290/Mafalda%20Correia-Agora%20%C3%A9%20que%20me%20livro.jpg" width="400" height="290" data-original-width="720" data-original-height="523" /></a></div> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font face="Georgia"><font size="3"></font></font></div> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font face="Georgia"><font size="3">Foi em junho de 2022 que tive o prazer de viajar até à bela cidade de Oliveira do Hospital para assistir à <a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/06/viagens-parabens-lucinda-maria.html">apresentação do livro “Viagens”, da minha amiga Lucinda Maria</a> e que eu, através das <a href="https://www.debaixodosceus.pt/publicacoes-pdc">Produções Debaixo dos Céus</a>, tive a honra de publicar. Foi uma belíssima e bem frequentada cerimónia que certamente encheu de orgulho a autora e a sua patrocinadora, a Câmara Municipal de Oliveira do Hospital. Mas não foi, porém, para falar desse evento que iniciei esta publicação, como poderão depreender da imagem com que a ilustro, mas sim para falar da <a href="https://www.facebook.com/mafalda.correia.750">Mafalda Correia</a>, produtora da rubrica “<a href="https://radioboanova.sapo.pt/agora-e-que-me-livro/">Agora é que me livro</a>”, transmitida na <a href="https://radioboanova.sapo.pt/">Rádio Boa Nova</a>.</font></font></div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=1sFsk5Fh1VWDNPphIQ606csf1UiC8pGU_"><img title="iPhone - Foto 2022-06-05 22_50_00 (2)" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="iPhone - Foto 2022-06-05 22_50_00 (2)" src="https://drive.google.com/uc?id=1d6-d5yF0FUFl07vP4qRGm9yLuQJcPKPs" width="640" height="484" /></a> <p> </p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font size="3" face="Georgia">A Mafalda fora-me <em>apresentada virtualmente </em>uns meses antes, por outro amigo, para que pudesse fazer parte de um grupo de Facebook que organizo e que se intitula “<a href="https://www.facebook.com/groups/umcontopormes">Um Conto Por Mês</a>”. Neste grupo, desafio os membros a escreverem e publicarem um conto completamente novo todos os meses. O <a href="https://www.facebook.com/vpfernandes66">Vítor Paulo Fernandes</a>, o qual é um dos colaboradores, propôs-me a entrada de “uma amiga que escrevia muito bem” e que aceitei de bom grado. Numa época de tão pouco interesse pela literatura, aqueles que leem devem ser estimados e os que leem e escrevem, valorizados. </font></div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=1xRxUSqIN9xriTMTi4UKavdSqkz6vBbcY"><img title="Mafalda Correia" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Mafalda Correia" src="https://drive.google.com/uc?id=1JzQi5jUKRHLoC_C6xVSqU5PpeJEk09Gw" width="481" height="484" /></a> <p> </p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font size="3" face="Georgia">De todas as formas, a Mafalda foi uma enorme mais-valia para o nosso grupo, além de uma visão mais jovem, abordou temas interessantes e que foi ótimo ver como eram vistos por aqueles da sua idade. No conto “O Muro”, narra uma história de um amor separado pelo infame Muro de Berlim, onde são enaltecidas as virtudes de saber esperar e a convicção de que não há mal que sempre dure…. Em “A Menina que Deixou de Sorrir”, assistimos a uma abordagem ao estilo de Saramago e do seu imortal “Ensaio sobre a Cegueira”, onde os sentimentos, mesmo os que nos parecem mais exagerados, são imprescindíveis para a nossa vida e felicidade. Também tivemos “Perfeição: A Sociedade Imperfeita” onde de uma maneira muito simples nos mostrou como os mais belos sentimentos e intenções podem sucumbir ao peso dos valores materiais. E não posso deixar passar “A Vida é o Que Acontece Quando Estamos a Fazer Planos”, uma frase extraída da sensacional poesia do saudoso John Lennon. Numa visão talvez mais madura do que seria de esperar da sua idade, mostra-nos como não nos devemos deixar abater quando somos derrubados, mas sim erguer, redefinir objetivos e prosseguir. </font></div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=1bjvHYJlyXeTV29OtbxJ9qAeaJJKiTAf5"><img title="Mafalda Correia-Publicações" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Mafalda Correia-Publicações" src="https://drive.google.com/uc?id=1MwWfJrWoMEBtA2UTBrTXX7UQnb2pNnZ-" width="644" height="484" /></a> <p> </p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font size="3" face="Georgia">Por tudo isto, a jovem Mafalda já me havia chamado a atenção e tive pena de, quando me foi apresentada, não estar preparado para falar melhor com ela e saborear um pouco da personagem extraordinária que parece estar em projeto naquela adolescente educada, simpática e graciosa. Mas não foi aquela a última vez que ouvi falar da Mafalda; há poucos meses, li o anúncio da rubrica radiofónica “Agora é que me Livro” onde é ela própria a responsável. Confesso que não ouvi todas as emissões, mas aquelas que o fiz, deu para perceber que, além de uma voz excelentemente radiofónica, a sua escolha para o conteúdo deles é interessante e bastante profissional. Decidi aí que teria de escrever algo sobre esta prometedora jovem.</font></div> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font size="3" face="Georgia">Para fazer esta publicação, além da inevitável visita à página de Facebook, que, quer queiramos, quer não já é a nossa forma de apresentação ao mundo, fiz uma busca pela <em>internet</em> que me revelou ainda mais e serviu para aumentar o meu respeito pela Mafalda. </font></div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=1MBNEDmozky_La2Me18XEVfo6OTEjLxuK"><img title="Mafalda Correia-Notícias" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Mafalda Correia-Notícias" src="https://drive.google.com/uc?id=1qCzbdvQAy73H2zAVLZi_CsTsptdwB38O" width="644" height="484" /></a> <p> </p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Além de aluna de mérito no próprio agrupamento escolar, o reconhecimento desta menina, filha do verão, espalha-se já além das fronteiras do concelho; Representou a região de Coimbra num concurso de leitura e recentemente, em conjunto com Daniela Guímaro, obteve a vitória nacional no <a href="https://ipdj.gov.pt/euroscola">Euroscola</a>. Este programa anual, criado no âmbito da cidadania, premiou o trabalho desenvolvido por estas duas jovens, intitulado “<a href="https://www.forum.pt/opiniao/corrupcao-o-mais-velho-virus-devorador-das-democracias">Corrupção, o mais velho vírus devorador das democracias</a>”.</font></div> <p><a href="https://drive.google.com/uc?id=1ZXZs6Gt1MkCwTfzQgefJtQ81MOxQQ5A6"><img title="Mafalda Correia-Corrupção, o mais velho vírus devorador das democracias.jpg" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Mafalda Correia-Corrupção, o mais velho vírus devorador das democracias.jpg" src="https://drive.google.com/uc?id=1zcZb0-9YPYcJlSUB8HcVDsTE-V4sB4wT" width="644" height="384" /></a></p> <p> </p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia"> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font size="3" face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Resta-me acrescentar que estão de parabéns os seus pais, além desta extraordinária jovem, por saberem dar-lhe a educação e mostrar-lhe os caminhos possíveis, pois pouco mais se pode fazer. A escolha deve ser dos filhos. <font style="font-size: 12pt;" face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Rezamos para que os tenhamos dotado de ferramentas capazes para enfrentar as armadilhas da vida e que o seu intelecto os torne melhores do que nós fomos. </font></font></font></font></div> </font></div> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">A grande verdade é que todo o lavrador pode semear do melhor que existir, a boa colheita, porém, não se obtém apenas com boas sementes, mas também com terra boa e fértil.</font></font></div> </div> <p><font size="3" face="Georgia"></font></p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Achei curioso que a frase de apresentação que a Mafalda escolheu para o seu perfil no “livro dos rostos” (Facebook), seja uma das extraordinárias frases que o grande Fernando Pessoa deixou: “Não sou nada, nunca serei nada. À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo”. Minha querida amiga; eu diria que cada um de nós é um mundo, (mesmo correndo o risco de sacrilégio ao contradizer o nosso Álvaro de Campos) e por vezes, o mundo que nós somos, é maior que o próprio universo. Nós, aqueles que escrevem e amam a palavra escrita, vivem para contar aos outros esse universo.</font></div> <font style="font-size: 12pt;" face="Georgia"> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Espero que gostes desta pequena homenagem e, sem paternalismos baratos, a idade permite-me deixar alguns conselhos, à laia de benção para ti, amiga e irmã das letras;</font></div> </div> </div> </div> </font> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Voa alto, muito acima das cabeças da humanidade, porque tens tudo o que é preciso para isso. Que os bons ventos da Fortuna te embalem em Felicidade e Realização. Não te deixes, porém, iludir pelos caminhos fáceis, nem pelos créditos sem trabalho. O que vale a pena, é sempre difícil de conseguir, de outra forma todos o teriam. Não gastes o teu tempo, no entanto, a bater contra uma porta fechada, a menos que tenhas certeza que o que está do outro lado vale realmente a pena. Por último, ama e não esqueças aqueles que te amam e estão à tua volta a desejar e a ajudar o teu sucesso, eles serão os únicos que estarão a teu lado quando os caprichos da Fortuna te falharem. </font></div> <p> </p> <p><a href="https://drive.google.com/uc?id=1I4u0U4CVVv0yANz6tIfHzY0TW-B1bxw7"><img title="Mafalda Correia-Parlamento" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Mafalda Correia-Parlamento" src="https://drive.google.com/uc?id=1VY2Srm97pII74MN_6NuPxDZN5Gax_3R0" width="481" height="484" /></a></p> <p> </p> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia"></font></div> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; word-wrap: break-word;" align="center"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Muito sucesso!</font></div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=1k29uK5g4jCgjd_NtSFdhwLcZ19e1hI6s"><img title="mafalda correia - Mote" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="mafalda correia - Mote" src="https://drive.google.com/uc?id=12I9rxMzuEYuCijk7ICDz2NimEWu4MwWy" width="244" height="192" /></a> <p> </p> <p> <br /><strong>Outras ligações</strong>  </p> <p>1-4-2022 Daniela e Mafalda ganham “distrital” do Euroescolas <br /><a href="https://www.diariocoimbra.pt/noticia/81141">https://www.diariocoimbra.pt/noticia/81141</a></p> <p>1-4-2022 Escola Secundária de Oliveira do Hospital vence Sessão Distrital do Concurso EUROSCOLA de Coimbra <br /><a href="https://ipdj.gov.pt/-/agrupamento-de-escolas-de-oliveira-do-hospital-vence-sessao-distrital-do-concurso-euroscola-de-coimbra">https://ipdj.gov.pt/-/agrupamento-de-escolas-de-oliveira-do-hospital-vence-sessao-distrital-do-concurso-euroscola-de-coimbra</a></p> <p>10-10-2022 distinção do Município oliveirense as alunas Mafalda Correia (10º ano), <br /><a href="https://www.folhadocentro.pt/jose-francisco-rolo-assinala-surto-de-investimento-no-concelho-apesar-do-contexto-economico-adverso/">https://www.folhadocentro.pt/jose-francisco-rolo-assinala-surto-de-investimento-no-concelho-apesar-do-contexto-economico-adverso/</a></p> <p>24-4-2023 Oliveirense Mafalda Correia vai representar a região de Coimbra na final do Concurso Nacional de Leitura <br /><a href="https://correiodabeiraserra.sapo.pt/oliveirense-mafalda-correia-vai-representar-a-regiao-de-coimbra-na-final-do-concurso-nacional-de-leitura/">https://correiodabeiraserra.sapo.pt/oliveirense-mafalda-correia-vai-representar-a-regiao-de-coimbra-na-final-do-concurso-nacional-de-leitura/</a></p> <p>30-5-2023 ‘Euroscola’: Mafalda Correia e Daniela Guímaro levaram Oliveira do Hospital à vitória distrital <br /><a href="https://radioboanova.sapo.pt/euroscola-mafalda-daniela-vitoria-distrital/">https://radioboanova.sapo.pt/euroscola-mafalda-daniela-vitoria-distrital/</a></p> <p>30-5-2023 MAFALDA CORREIA E DANIELA GUÍMARO VENCEM FASE FINAL DO EUROESCOLA <br /><a href="https://lagosb.blogspot.com/2023/05/mafalda-correia-e-daniela-guimaro.html">https://lagosb.blogspot.com/2023/05/mafalda-correia-e-daniela-guimaro.html</a></p> <p>9-6-2023 «Corrupção, o mais velho vírus devorador das democracias» <br /><a href="https://www.forum.pt/opiniao/corrupcao-o-mais-velho-virus-devorador-das-democracias">https://www.forum.pt/opiniao/corrupcao-o-mais-velho-virus-devorador-das-democracias</a></p> <p>7-10-2023 Oliveira do Hospital “valoriza força realizadora das gentes do concelho e o seu empreendedorismo” <br /><a href="https://www.diariocoimbra.pt/noticia/110949">https://www.diariocoimbra.pt/noticia/110949</a></p> <p>9-10-2023 Mafalda Correia, uma das vozes da Rádio Boa Nova, conquista prémio de Mérito Escolar no Dia do Município <br /><a href="https://radioboanova.sapo.pt/mafalda-correia-uma-das-vozes-da-radio-boa-nova-conquista-premio-de-merito-escolar-no-dia-do-municipio/">https://radioboanova.sapo.pt/mafalda-correia-uma-das-vozes-da-radio-boa-nova-conquista-premio-de-merito-escolar-no-dia-do-municipio/</a></p> <p>11-11-2023 Alunos do Agrupamento de Escolas de Oliveira do Hospital estiveram no Parlamento Europeu em Estrasburgo <br /><a href="https://correiodabeiraserra.sapo.pt/alunos-do-agrupamento-de-escolas-de-oliveira-do-hospital-estiveram-em-estrasburgo/">https://correiodabeiraserra.sapo.pt/alunos-do-agrupamento-de-escolas-de-oliveira-do-hospital-estiveram-em-estrasburgo/</a></p>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-40666910471413915912023-11-29T00:01:00.006+00:002024-01-17T22:32:41.963+00:00A Embaixada<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyLCmxhE65Ll3eKWjiYz2FSwE-eb82FRv3AIJoRkn-NO1D3lCZwMEZsJ8qzBqNxFU2RkR6hBCka2tlcNqaiXlmALaRL22KOtYrhB6cPk7lP5xm_45JJktViARZPP1x1zXt84wDCg-Y7r2yuRBw0H7BHjutiPpFQdHEWpHJoBso5i5Qzu1b0E3MvPV1gvYi/s800/16%20-%20A%20embaixada.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyLCmxhE65Ll3eKWjiYz2FSwE-eb82FRv3AIJoRkn-NO1D3lCZwMEZsJ8qzBqNxFU2RkR6hBCka2tlcNqaiXlmALaRL22KOtYrhB6cPk7lP5xm_45JJktViARZPP1x1zXt84wDCg-Y7r2yuRBw0H7BHjutiPpFQdHEWpHJoBso5i5Qzu1b0E3MvPV1gvYi/w400-h266/16%20-%20A%20embaixada.png" width="400" /></a></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 16</strong></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><strong></strong></div> <p align="right"><em>O que faz que os homens formem um povo é a lembrança das</em></p> <p align="right"><em> grandes coisas que fizeram juntos e a vontade de realizar outras.</em></p> <p align="right"><em>Ernest Renan</em></p> <p align="right"><em>Escritor e historiador francês.</em></p> <p align="right"><em>(1823-1892)</em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"></font></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Os dias estavam mais claros e o frio já não mordia os ossos com a mesma intensidade. Havia um vento suave que acariciava a planície e trazia o cheiro de primavera. As montanhas distantes, porém, continuavam com os cumes alvos, os ursos não deviam aparecer por enquanto, mas não tardariam.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Erem sentia-se cansado e não ficou nada aborrecido quando os caçadores disseram que não havia necessidade de fazer parte dos grupos. Graças à franca colaboração com os estrangeiros residentes e agora reforçados com os companheiros do convalescente Tibaro, havia homens e mulheres suficientes para a caça. Os seus quase quarenta e oito anos pesavam-lhe e o frio do inverno parecia não lhe ter ainda saído dos ossos, mesmo ali, sentado ao sol à porta da sua casa redonda.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Com os olhos fechados, deixando-se levar pela letargia, começou a chegar-lhe ao ouvido um rufar longínquo. Ergueu-se subitamente desperto. Recentemente acordaram que haveria sempre duas pessoas de vigia, durante o dia, no alto de um monte próximo. Quando fosse avistada a aproximação de alguém, faria ressoar com pancadas um enorme tronco oco que arrastaram para lá. Sequências de uma pancada, intervalada com duas batidas rápidas, significava uma pessoa, duas pancadas, três, seriam três ou mais. O batuque era constante e isso era alarmante.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O chefe correu até ao topo da colina onde já tinham chegado outros aldeãos que discutiam acaloradamente. Os vigias, um era uma das suas sobrinhas e outro um neto de Tailan, apontaram nervosamente o extremo norte da planície. Distinguia-se perfeitamente um grupo de cerca de trinta indivíduos armados de lanças que descia o caminho em direção ao casario de Barinak, logo atrás havia mais uns quantos que parecia arrastarem algo. Chegariam primeiro ao agrupamento de casas onde Tailan e a maioria dos estrangeiros residia.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Depressa, vão ter com Lemi e Tailan, que reúnam os homens que houver por aí e vão para o extremo do povo no caminho da montanha. — Erem enviou os vigias, sentindo-se preocupado por a maioria dos homens se encontrar na caça ou a arrastar as pedras do santuário. — Que levem armas. — Depois voltou-se para outro dos homens: — Corre a avisar Zia do que aqui vimos. Ela que reúna as mulheres capazes de lutar e vão lá ter também.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Acompanhado de vários dos que já se encontravam no alto da colina, Erem apressou-se na direção que indicou ser o ponto de encontro onde esperariam os forasteiros que se aproximavam. Se viessem com más intenções teriam de lutar. O que o preocupava era que, mesmo conseguindo igualar o número de inimigos, seria com mulheres pouco habituadas a usar as armas e os homens que, como ele, já não estavam na melhor das formas. O seu coração apertava-se com a ideia de que viriam em busca dos assaltantes que estavam agora mortos e atirados do penhasco para onde era arremessado o lixo da aldeia.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Atravessou o “bairro” dos estrangeiros, onde já não passava há muito, que era simbolicamente separado do resto do povoado por um pequeno regato, afluente do largo rio que fornecia água e peixe à população. As construções alinhavam-se ao longo do trilho calcado a que chamavam o caminho da montanha que serpenteava até ao limite do casario. Reparou, com admiração, que já havia muitas casas e poucas tendas, desde a sua autorização para que fossem construídas. Como era cada vez mais difícil encontrar pedra suficiente e a pouca distância, para todas as casas, várias delas já eram completamente construídas em adobe e apenas cobertas de colmo; havia-as quadradas, redondas, retangulares, as tradicionais redondas de pedras empilhadas eram uma minoria. Com a utilização dos ângulos retos, havia vários exemplos de habitações geminadas partilhando o telhado. Qualquer uma delas tinha uma área muito superior à da humilde palhota de Erem e possuir mais do que uma divisão. Algumas tinham até as paredes alvas como a neve, cobertas do que parecia ser um pó que, embora sujasse as mãos, não saía da superfície.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O chefe chegou ao extremo da povoação. Os invasores ainda não se avistavam devido ao relevo do caminho sobre uma suave colina. O seu olhar analítico observou como a linha de árvores não andava longe do casario e como seria fácil um atacante mal-intencionado chegar por ali, em vez de o fazer pelo caminho. Começavam, entretanto, a chegar alguns aldeãos, com ar preocupado, mas todos traziam lanças ou ferramentas com que pudessem causar dano. Olhou o simples punhal de cobre que trazia à cintura e perguntou-se se não deveria ter ido buscar a sua lança também.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O vento suave carregava as nuvens que obscureciam o sol, a espaços; o frio que se fazia sentir lembrava que a primavera ainda era uma criança e o inverno não andava longe.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Quando os invasores chegaram ao alto da elevação, já havia perto de quarenta elementos a esperá-los e eles imobilizaram-se à vista das primeiras casas, parecendo conferenciar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Zia foi a última a chegar. Trazia um grupo de dez ou quinze crianças armadas de fundas. Numa guerra, toda a ajuda é pouca, dizia o sorriso dela para o olhar interrogativo do chefe.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Àquela distância, já se podiam distinguir os recém-chegados; com exceção de dois deles, todos trajavam igual; a cabeça tapada com chapéus castanhos, túnicas cintadas que desciam até ao joelho, tendo depois as canelas e os pés cobertos por peles. Além da lança, onde reluziam as pontas de cobre, traziam o que parecia ser um pedaço de madeira forrado a pele. Era óbvio que se tratava de gente preparada para combater. Os outros dois aparentavam um aspeto diferente, com longas túnicas; uma cor de sumo-de-uva e a outra preta, cabelos longos a cair até aos ombros e grandes barbas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Não se ouvia um murmúrio do lado dos defensores de Barinak, quando um dos invasores se afastou dos restantes e caminhou para a povoação em passo largo, mas pausado, erguendo bem as mãos nuas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">— Saudações e paz, vos envia Mirsulo, <i>déms pótis</i></font><a href="file:///C:/Users/manue/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[1]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> de Hatiweik. — Falou o homem numa voz forte e clara, embora com sotaque carregado. — Que Tarunte, deus da guerra e da paz, vos dê muitos filhos e alimento para todos. — Pousou a mão direita sobre o coração e fez uma curta e respeitosa vénia.</font></font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Saudações e paz, estrangeiro. — Erem adiantou-se. — Que nos quer Mirsulo, com tantos homens preparados para a guerra?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Peço perdão em nome do meu senhor. — O homem parecia versado em diplomacia. — Os caminhos são perigosos e Hatiweik tem muitos inimigos. Os homens são para proteção e não para a guerra. Mirsulo veio pessoalmente buscar o seu filho Tibaro, para o honrar enterrar junto dos seus antepassados. Disseram-nos que se encontrava com Erem, déms pótis de Barinak.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Levantou-se uma onda de murmúrios felizes entre os atemorizados defensores.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Eu sou, Erem, filho de Birol. — Continuou o chefe. — Mas o teu senhor está enganado, Tibaro não morreu. Está vivo e recupera dos seus ferimentos.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;">Após uma rápida expressão de alegria, o emissário perdeu toda a compostura e partiu numa corrida a reunir-se aos seus.</font><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span></font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Desta vez foram os dois elementos que se destacaram do grupo e avançaram rapidamente, seguidos de perto pelo emissário. O homem de preto tinha um ar austero e grave por baixo do chapéu de couro entrançado. As espessas barbas pareciam querer fugir em todas as direções de tão desengraçada carranca. O seguinte trazia os cabelos soltos decorados com pequenas esferas e apenas um fio em volta da cabeça suportando um disco reluzente no meio da testa. Iguais discos pendiam em cada uma das orelhas e um ainda maior ao pescoço, pousado sobre a túnica cor de vinho decorada com finos entrançados e pedaços de peles. O seu rosto visível por cima da barba aparada exibia confusão e alegria quando se dirigiu a Erem:</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— És o guardião do meu filho e também o seu salvador? — O homem pousou a mão sobre o coração. — Se tal coisa é verdade, pois só acreditarei quando vir com os meus próprios olhos, serás o meu irmão mais querido que aqueles do meu próprio sangue!</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Mirsulo, felicíssimo, agarrou e abraçou um atordoado Erem, antes que qualquer pessoa pudesse reagir. Ato contínuo, os soldados soltaram grandes gritos de alegria, embora mantendo a distância.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Confundido, mas agradado, ao mesmo tempo, Erem sorriu e pediu-lhe que o seguisse até ao convalescente. O acompanhante de Mirsulo, sem perder o seu ar austero, seguiu-os como uma sombra silenciosa. O caminhar dos dois chefes lado a lado foi o mote para o “desmobilizar das hostes” e os defensores dividiram-se, uns atrás deles e outros para junto dos soldados, a saciar a curiosidade.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Nehir, que se recusava sempre a participar nas atividades que envolvessem mortos e feridos, aguardava na sua tenda, tristemente, que começassem a chegar as primeiras vítimas. Qual não é o seu espanto, vê chegar o pai e um estrangeiro vestido com roupas estranhas, a conversar alegremente, logo seguidos por quase toda a aldeia misturada com outros estrangeiros.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O encontro entre Mirsulo e Tibaro foi comovente, o chefe estrangeiro não conseguiu deixar de verter uma lágrima. Apesar de ter dez filhos, aquele era o mais velho e o que ele esperava que lhe sucedesse. Não o conseguia dissuadir de participar nas caçadas… e esta quase lhe tinha sido fatal.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Apesar de quase não se conseguir ouvir, Tibaro falou com o pai e acalmou-o, dizendo que se sentia bem melhor e tecendo elogios à curandeira, à sacerdotisa, ao extraordinário chefe de Barinak e ao seu povo acolhedor. Foi o momento do silencioso companheiro de Mirsulo intervir e questionar diretamente o doente sobre o tipo de tratamentos que lhe fizeram.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Ao ver o esforço que Tibaro fazia para falar e notar que a sua respiração ficava cada vez mais ofegante, Nehir tocou no braço do estranho e pediu-lhe que não o maçasse mais; ela responderia a todas as perguntas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O homem, que estava curvado sobre o doente, ergueu-se e deu um passo atrás, olhando-a com um misto de desdém e escândalo: — Quieta, mulher! — Ordenou rispidamente numa voz de barítono. — Quem te deu ordem para falar?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Imediatamente, qual leoa a defender a cria, Zia colocou-se ao lado da filha: — Tu é que precisas de autorização para falar, homem! — Ela apontou-lhe o dedo ao peito. — És um convidado na tenda dela e nesta aldeia!</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Parem! — Interveio Erem olhando interrogativamente para Mirsulo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Elas têm razão, Savírio. — O chefe estrangeiro advertiu sem sorrir. — És um convidado aqui. Tens de respeitar os costumes. — Depois olhou diretamente para Erem e explicou. — Não estamos acostumados que as mulheres desempenhem estas funções e muito menos interpelem diretamente os homens.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <div style="mso-element: footnote-list; overflow-wrap: break-word; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font><font face="Georgia"> <hr align="left" size="1" style="margin-bottom: 10px; margin-top: 10px;" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///C:/Users/manue/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia" style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia" style="font-size: 10pt;"> Proto-indo-europeu: “Senhor de sua casa”, derivará em déspota.</font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font face="Georgia" size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font face="Georgia" size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font face="Georgia" size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font face="Georgia" size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font face="Georgia" size="2"></font></p> <font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"></font></p> <font face="Georgia"></font> <font face="Georgia"></font><font face="Georgia"></font><font face="Georgia"></font><font face="Georgia"></font><font face="Georgia"></font><font face="Georgia"></font><font face="Georgia"></font><br /><font style="font-size: 12pt;"><br /></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font>
<table border="0" cellpadding="2" cellspacing="0">
<tbody>
<tr>
<th valign="top"><h3>Anterior</h3>
</th>
<th valign="top">
</th>
<th valign="top"><h3>A seguir</h3>
</th>
</tr>
<tr>
<td valign="top"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja71JnhxVfYA2N7WvbcNc-yUDf6QStd-ucShZey7UKZNo9_8jUo9Kg1___7gS720EwGJp4PukxR2d2KKxtfT4a_NDe42qOFL8CVlnVuKMSutxmyGW8ONxrhFyRnaB2VkG6KaYHu-TsD0Zhb8wflladMjUHFLfeYPeOBSJpBphx7hljS5cpI2TqSNEjMzvE/s800/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEja71JnhxVfYA2N7WvbcNc-yUDf6QStd-ucShZey7UKZNo9_8jUo9Kg1___7gS720EwGJp4PukxR2d2KKxtfT4a_NDe42qOFL8CVlnVuKMSutxmyGW8ONxrhFyRnaB2VkG6KaYHu-TsD0Zhb8wflladMjUHFLfeYPeOBSJpBphx7hljS5cpI2TqSNEjMzvE/s320/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/10/medicina-primitiva.html">15 - Medicina Primitiva</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td><td></td>
<td valign="top"> <table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidxmcIiXkvAq3r9eFWHOTtPVhWGw9nA42zGAGU3uws1M__N77FgTMymVxGUKt68WoVc3l7Fx_W5OAGNwsappbfsAO-_zotu_t3R0PTpu4kvFtvZ79FnVy3GyuJmFPimpr5UFSFIs1si3jjS7EYwDUDUFd99Q2Rokp58ShxvwFdC8sYsk9ro2MB1SkFF8oo/s800/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidxmcIiXkvAq3r9eFWHOTtPVhWGw9nA42zGAGU3uws1M__N77FgTMymVxGUKt68WoVc3l7Fx_W5OAGNwsappbfsAO-_zotu_t3R0PTpu4kvFtvZ79FnVy3GyuJmFPimpr5UFSFIs1si3jjS7EYwDUDUFd99Q2Rokp58ShxvwFdC8sYsk9ro2MB1SkFF8oo/s320/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/12/o-conselho-de-barinak.html">17 - O Conselho de Barinak</a></td></tr></tbody></table><br /></td></tr><tr><td valign="top"><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td></tr></tbody></table><br /></td><td><br /></td><td valign="top"></td>
</tr>
</tbody>
</table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-87786301471769945442023-10-29T00:13:00.003+01:002024-01-18T09:02:19.479+00:00Medicina Primitiva<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXtB-_ah1WgBsW4l4bMPa6sXURolPAEdmvWVZt32UlOLps1hxaFDkrfBViQ9e4ZPL6UFI_BHHFguj7QD-c9hHah2SLSaXRRFPjP5c5wkfDC0wJpkPID_2eu8fj2ScOYayeeLlJl6hsNCS0k35VbchuwVCQaO1L0k_toO6ozLrSXuFViJ2cNuoM1XbQDUUB/s800/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiXtB-_ah1WgBsW4l4bMPa6sXURolPAEdmvWVZt32UlOLps1hxaFDkrfBViQ9e4ZPL6UFI_BHHFguj7QD-c9hHah2SLSaXRRFPjP5c5wkfDC0wJpkPID_2eu8fj2ScOYayeeLlJl6hsNCS0k35VbchuwVCQaO1L0k_toO6ozLrSXuFViJ2cNuoM1XbQDUUB/w400-h266/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" width="400" /></a></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 15</strong></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><strong></strong></div> <div align="left" class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <p align="right"><em><font size="2">A arte da medicina consiste em distrair o paciente enquanto a Natureza cuida da doença.</font></em></p> <p align="right"><em><font size="2">Voltaire </font></em></p> <p align="right"><em><font size="2">Escritor, historiador e filósofo iluminista francês</font></em></p> <p align="right"><em><font size="2">(1694-1778)</font></em></p> <p align="right"><em><font size="2"></font></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"></font></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Enquanto o grupo reunido por Himono e Kiala se apressavam noite dentro, Erem mandou quatro homens levar o jovem, que se debatia em aflição, para o santuário.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Transportaram o ferido numa padiola, logo seguidos por um dos estrangeiros, de nome Amanur e quase toda a população da aldeia. Passaram pela área ainda não preenchida do círculo que já contava com seis imponentes megálitos. Deitaram-no sobre a pedra que servia de mesa para os sacrifícios e mantiveram-lhe os braços seguros enquanto Zia invocava a atenção de Swol e Mensis.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O céu estava encoberto, mas as franjas das nuvens refletiam a luz forte da lua que brilhava bem acima delas. Não fora isso, estaria uma noite magnífica, de um céu estrelado onde Mensis governava invicta sobre as humildes estrelas, que eram as fogueiras do povo do céu.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O chefe apressou-se a ir buscar a sua cabeça de leão cerimonial e o cocar de penas da mulher. Vários homens acorreram a trazer madeira e fogo para acender no meio do círculo, aos pés da pedra sacrificial frente ao ídolo Swol. A cerimónia teria de ter tudo o que era exigido para obter o favor dos deuses.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Os mais próximos olhavam espantados enquanto Nehir esculpia e aguçava uma fíbula de corvo e utilizava os finos ossos das costelas para esvaziar o interior do osso maior. Em poucos minutos, obteve um pequeno tubo reluzente e afiado, que estendeu em oferta para o céu.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Zia, já devidamente ataviada com o seu cocar de penas de pomba, “cantava” a Swol, enquanto circulava em volta do monólito que o representava. Entoou a história, cantada por pais aos filhos durante incontáveis gerações, do dia em que Manu, o primeiro homem, abriu os olhos. Lembrou aos deuses como Swol e Mensis se apaixonaram por aquele ser indefeso e desceram dos céus para o ensinar a sobreviver sem garras nem dentes temíveis. Como Tharun atirou o fogo dos céus, fendendo em milhares de lascas o Grande Carvalho de onde nasceu o mundo, dando o fogo e criando as lanças para os homens. Lembrou como Swol, cuidou de Manu e usou o seu calor para derreter as neves e florescer as plantas e como o seu brilho atraiu os animais de todos os tamanhos e feitios para que ele se alimentasse. Cantou sobre Mensis que se transfigura no céu noturno e que vela sobre a noite, trazendo a luz sobre a escuridão e o poder sobre os espíritos das sombras.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">Depois estendeu as mãos sobre o objeto que a filha lhe apresentava e invocou os nomes Da Pater e Da Mater</font><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[1]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> para que guiassem a mão de Nehir. Em seguida, pegou de num cesto de vime fechado, uma pomba completamente cinzenta e, após a exibir aos céus por poucos segundos, torceu-lhe o pescoço sem cerimónia.</font></font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Um dos homens estendeu uma pequena taça de barro a recolher o sangue que a sacerdotisa vertia ao abrir ao meio a ave sacrificada.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">O círculo exterior do santuário estava preenchido por um enorme grupo de homens e mulheres, agora que se lhe juntavam os elementos da responsabilidade de Tailan. Erem, com a cabeça de leão sobre a sua, conduzia-os num som gutural grave, que fazia vibrar o peito e os próprios menires, ritmando com o bater de uma grossa vara numa pedra e acompanhado por alguns homens que ressoavam peles esticadas sobre quadrados de madeira.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">A sacerdotisa tomou a taça com o sangue e aspergiu o ferido que se debatia cada vez com menos intensidade. Depois pintou uma linha vermelha no rosto do paciente desde o queixo até ao cabelo, dividindo-o ao meio e exclamou: — Em nós, existem Swol e Mensis, o rei do dia e a rainha da noite. Unidos no nosso corpo como um só! — Repetiu a linha vermelha no rosto da filha e incentivou: — Que os deuses guiem a tua mão!</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Perante o olhar estarrecido de Amanur, Nehir, sussurrando o encantamento da cura, colocou a mão direita atravessada desde o queixo do moribundo cobrindo todo o pescoço. — Agarrem-no bem. — Avisou, enquanto com a esquerda, apontava a agulha de osso que preparara na parte mole logo abaixo da área tapada. De olhos postos no céu, que começava a ganhar cor, invocou a ajuda divina: — Swol! Salva o teu filho! Mensis, dá-me o poder da cura — Tornou a atenção para a mão que segura a agulha e, com a direita, deu-lhe uma pancada seca.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Um espirro de sangue aspergiu os mais próximos e no segundo seguinte, o som ofegante do ar a entrar e a sair começou a ouvir-se através da cânula. O paciente começou imediatamente a acalmar-se.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">— Da Mater te proteja e mantenha os maus Ansu</font><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2" name="_ftnref2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[2]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> afastados. — Pediu Nehir colocando a mão sobre a testa do ferido. </font></font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Amanur, ainda indeciso se o seu companheiro morria ou estaria salvo, continuava a agarrar-lhe o braço com força, até que a mão do, até aí moribundo, tocou-lhe, indicando que o magoava. Olhou para o rosto de Tibaro onde a tonalidade cinzenta começava a desvanecer-se. Os olhos dele estavam novamente abertos e vivos, aparentemente ainda a tentar perceber por onde respirava. A sua expressão exibia sofrimento pelo pescoço magoado.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Podem deixá-lo. — Anunciou Nehir para todos os que agarravam o ferido. — Swol ajudou-nos por agora, mas os próximos tempos é que dirão se se salva ou não.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Os outros têm de chegar com a cabeça do auroque antes do nascer do sol. — Zia sussurrou preocupada para a filha, antes de gritar para a audiência com os braços no ar: — Swol seja louvado!</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Swol! — Responderam os presentes em êxtase, fazendo ressoar as suas vozes nas pedras do círculo inacabado. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">A curandeira colocou, cuidadosamente, um pouco de mel em volta do novo ferimento para evitar infeções e segurar a agulha de osso que lhe permitia respirar. Depois untou-lhe o pescoço com uma pasta de urtiga e lavanda para reduzir a dor e a inflamação.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Vai viver? — Perguntou Amanur, quase para ninguém em especial.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">— Está salvo para já. Mas não pode falar e só poderá beber, não comer. Só respira por este buraco. — Confirmou Nehir sobre os gritos de graças dos acólitos. — Temos o mau Ansu</font><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn3" name="_ftnref3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[3]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> que está no pescoço e que o pode matar ainda. Se o tirarmos de lá, daqui a uns dias poderemos tirar o osso que lhe pus. Precisamos da cabeça do auroque. Vem, reza connosco.</font></font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Rezar? — O outro hesitou com um trejeito da boca. — Ao vosso deus? Swol? O nosso é Tarunte, o deus do trovão.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">— Também adoramos Tarhun, deus do trovão e da guerra. — Esclareceu Nehir com estranheza. — Mas é Swol, o rei dos céus, quem comanda a vida. Ele salvou o teu companheiro. — Encolheu os ombros e juntou-se ao coro.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Desconfiado, Amanur quedou-se de joelhos junto de Tibaro. O seu amigo estava salvo para já. Seria Swol ou Tarunte o seu salvador? Aquele círculo inacabado de pedras era tão rude quanto intimidante e o ídolo grosseiramente talhado no menir central parecia escarnecer dele.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">A curandeira e a xamã mandaram distribuir uma infusão de folhas de secas de papoila e ajoelharam-se, sentando-se sobre a parte anterior das pernas, sempre implorando a ajuda do deus. Todos os presentes colaboravam no som ressonante e profundo que parecia preencher todo o espaço e ressaltar nas pedras. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Rompiam os primeiros alvores da madrugada quando o grupo de oito homens, alagados em transpiração, surgiram no santuário. Quatro deles transportavam a descomunal cabeça segurando-a com esforço pelos longos cornos. Os outros quatro traziam as patas traseiras e dianteiras em cestos de vime. Os gritos de graças, que já duravam há uma eternidade, calaram-se abruptamente. O tamanho do troféu era maior do que alguma vez alguém havia visto.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Alguns homens e mulheres, entorpecidos pela imobilidade e atordoados pelos efeitos da infusão, acudiram a animar o fogo que era pouco mais do que umas pequenas chamas que refulgiam entre os troncos quase consumidos. Gerou-se de imediato uma atividade frenética e curiosidade em volta dos recém-chegados.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Amanur falou apressadamente com Kiala e Himono, apontando alternadamente para Nehir e Zia, contando tudo o que se passara durante a sua ausência. Ambos olharam com espanto para Tibaro e apertaram-lhe os braços com alegria, vendo-o a recuperar as cores.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">A Xamã, assim que achou a fogueira digna do sacrifício, reuniu seis guerreiros que com ela dançaram em volta da dos despojos do auroque, pousados no chão aos pés da pedra sacrificial onde estava ainda deitado Tibaro. A cada três passos, apontavam as lanças para a cabeça decepada, simulando atacá-la.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Os gritos de Swol dos assistentes e os de ameaça dos dançarinos, o rufar das peles deixava-os a todos como que hipnotizados, a transpirar e de olhos esbugalhados. Por fim, a um grito de Zia, com as mãos erguidas, todos se imobilizaram e o silêncio caiu como uma pedra em todo o espaço. Numa aproximação ritual, Erem, imponente debaixo da temível pele de leão, caminhou rodopiando artisticamente uma clava que desfechou com força na cabeça do auroque.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">— Swol! — Gritou Zia. — Salva o nosso irmão! — Como um eco, toda a assistência repetia as suas palavras. — Envia o mau Ansu</font><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn4" name="_ftnref4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[4]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> para junto de Welnos</font><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn5" name="_ftnref5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[5]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia">! — Nova pancada com a clava. — Oferecemos-te este ser magnífico, que deu a vida para que o nosso povo não tenha fome!</font></font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Com estas palavras, os guerreiros ergueram a cabeça decepada e colocaram-na sobre a fogueira onde começou a crepitar. Zia e Erem colocaram as patas dianteiras da besta a cada um dos lados da cabeça. As traseiras seriam depois atiradas ao rio para que o auroque nunca consiga completar-se e perseguir os seus matadores.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Durante horas, sob o olhar atento dos estrangeiros, homens e mulheres cantaram e dançaram em volta do fogo onde os restos da besta se consumiam, embora alguns desistissem e fossem e abandonando a cerimónia.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Quando apenas já pouco restava identificável na fogueira, eram apenas seis os membros do clã que ainda se mantinham a acompanhar o chefe, a xamã e a curandeira.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Tibaro acabara por adormecer na sua “cama” de pedra coberto com uma pele negra e só quando os cânticos foram substituídos pelas conversas dos resistentes é que despertou novamente. Zia e Nehir ajudaram-no a erguer-se e logo se aproximaram os seus companheiros, que até ali se haviam mantido sentados em pedras a assistir. O paciente foi levado para a tenda de Nehir onde continuaria o seu descanso tão necessário à recuperação.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font><font face="Georgia"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font face="Georgia" style="font-size: 12pt;">Erem, visivelmente cansado, despediu-se dos “resistentes” e dirigiu-se para a sua cabana, logo seguido por Zia. Mas os acontecimentos não haviam acabado naquela manhã, onde o sol já ia alto; no largo em frente à sua casa, o cativo jazia, ainda amarrado ao poste, com a cabeça pousada numa poça de sangue e lama. A pouca distância dele estava a pedra que utilizaram para o matar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div style="mso-element: footnote-list; overflow-wrap: break-word; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font> <hr align="left" size="1" style="margin-bottom: 8px; margin-top: 8px;" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Deus pai e deusa mãe.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2" name="_ftn2" style="mso-footnote-id: ftn2;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[2]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Espíritos</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn3" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref3" name="_ftn3" style="mso-footnote-id: ftn3;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[3]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Espírito</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn4" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref4" name="_ftn4" style="mso-footnote-id: ftn4;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[4]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Espírito</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn5" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///E:/MeocloudHome/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref5" name="_ftn5" style="mso-footnote-id: ftn5;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[5]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Deus do submundo</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody align="center" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tr>
<th><h3>ANTERIOR</h3></th>
<th><h3></h3></th>
<th><h3>A SEGUIR</h3></th>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_09o51GYX0bxbuVRDmkyRSrhu81l32OzkSArKFGmReY2wOUHCBnqMe3FPWcssfNZLTAFMYe2b4y5RQQPWxDGYusHjr3yxDcv7mXOizpszNujz8m8A6vsbXLfACbwp0iYR_2GxzJqm5-dAlZNCH-2UFl9FdY_EN12d7U15p7r52LwYiJV47_JG1tIEHUq8/s800/14%20-%20Decis%C3%A3o%20Dific%C3%ADl.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_09o51GYX0bxbuVRDmkyRSrhu81l32OzkSArKFGmReY2wOUHCBnqMe3FPWcssfNZLTAFMYe2b4y5RQQPWxDGYusHjr3yxDcv7mXOizpszNujz8m8A6vsbXLfACbwp0iYR_2GxzJqm5-dAlZNCH-2UFl9FdY_EN12d7U15p7r52LwYiJV47_JG1tIEHUq8/s320/14%20-%20Decis%C3%A3o%20Dific%C3%ADl.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/09/decisao-dificil.html">14 - Decisão Difícil</a></td></tr></tbody></table><br /></td><td></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1HbZSJsWrXhCGhTeOrO-zZMWU6cERr0oc1jjDViDxuSJQhjH45eNLgH2N1sMAtcC2Y7QzAntLnyG8Jktdpb0zJnVXp06y4Mze6TykhjfIsSK7X6kNVUVUqQUT5DHsQamSVDGCJHZWI68dQWzEOIvcvnFZJ3-HyjpR9FJXZHmpee3oRThqgZhaV8RTLMnk/s800/16%20-%20A%20embaixada.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1HbZSJsWrXhCGhTeOrO-zZMWU6cERr0oc1jjDViDxuSJQhjH45eNLgH2N1sMAtcC2Y7QzAntLnyG8Jktdpb0zJnVXp06y4Mze6TykhjfIsSK7X6kNVUVUqQUT5DHsQamSVDGCJHZWI68dQWzEOIvcvnFZJ3-HyjpR9FJXZHmpee3oRThqgZhaV8RTLMnk/s320/16%20-%20A%20embaixada.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/11/a-embaixada.html">16 - A Embaixada</a></td></tr></tbody></table><br /></td></tr><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td>
<td></td>
<td></td>
</tr>
</tbody>
</table>
Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-82356331865255652282023-09-29T00:01:00.001+01:002024-01-18T13:43:17.435+00:00Decisão Difícil<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFGM7409kqKK6e61WXMNkaZPoO5iNIvWA7EcieAN0ZUvy1gpZeJ-We3ECrntbSIy4RgUnczsPC8FQfjeMAVtQV_SxuZ_c9tbTGGjdXLWwBoGMcnTyV30Z6LWFBGvCvS_TvWBe4Hx4Tqnj7F9VEaw76KUHUr0PDE81iTv64to59p_jVB8-8YVKMaH1G79wR/s800/14%20-%20Decis%C3%A3o%20Dific%C3%ADl.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhFGM7409kqKK6e61WXMNkaZPoO5iNIvWA7EcieAN0ZUvy1gpZeJ-We3ECrntbSIy4RgUnczsPC8FQfjeMAVtQV_SxuZ_c9tbTGGjdXLWwBoGMcnTyV30Z6LWFBGvCvS_TvWBe4Hx4Tqnj7F9VEaw76KUHUr0PDE81iTv64to59p_jVB8-8YVKMaH1G79wR/w400-h266/14%20-%20Decis%C3%A3o%20Dific%C3%ADl.jpg" width="400" /></a></div> <p align="center"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 14</strong></p> <p> <br /><font style="font-size: 12pt;"></font></p> <p align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 184.3pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span><font size="2">Só quem nunca pensou chegou alguma vez a uma conclusão. Pensar é hesitar. Os homens de ação nunca pensam.</font></span></em></p> <p align="right"><em><span><font size="2">Fernando Pessoa (1888-1935)</font></span></em></p> <p align="right"><em><span><font size="2">Escritor português</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 127.6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;"> </font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3"></font></span></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Naci tomou a dianteira em direção ao pai, logo seguido por todos os outros, a mole de curiosos que se reunia em volta deles, abriu alas para que chegassem ao chefe.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Erem abraçou brevemente o filho e ouviu com atenção o relato nervoso do que acontecera, enquanto verificava que quase todos ostentavam ferimentos, a maioria ligeiros.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Nehir e Zia observaram o jovem que jazia desacordado na padiola a respirar curta e aflitivamente; tinha, como os outros, o cabelo escuro entrançado e decorado com esferas brilhantes, sobrancelhas espessas e o rosto pálido alongado, atravessado por um ferimento que sangrava abundantemente. Envergava uma túnica comprida castanha que lhe chegava aos joelhos e ostentava uma placa reluzente, marcada com traços, ao pescoço. Os pés e as pernas estavam envoltos em várias tiras de couro que seguravam uma mais grossa que lhe protegia a sola dos pés. A curandeira indicou que o levassem para a tenda dela, enquanto a mãe, ajudada por outras mulheres, começou a cuidar dos feridos menos graves.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Erem olhou com desconfiança para os seis altos e silenciosos guerreiros que seguiram o ferido para a tenda. Todos traziam o cabelo igual, com pequenas variantes, vestiam túnicas semelhantes e calçavam sandálias… tudo manufaturado com grande perfeição. Nem os melhores artesãos do clã conseguiriam reproduzir qualquer daquelas peças.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Naci fez tenção de os seguir, mas o pai tocou-lhe no braço e pediu-lhe que explicasse o que acontecera e quem eram os estranhos. Juntou-se de imediato grande parte do clã para escutar.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Temos dois belos auroques para ir buscar. — Cemil aproximou-se também, sorrindo para o irmão, havia uma nódoa negra na face direita e um corte na testa que eram as suas mais recentes “medalhas” e os dentes avermelhados exibiam um espaço negro onde haviam desaparecido alguns. — Vamos é ter de os dividir com os nossos novos amigos.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Mas que são eles? — Era evidente a suspeição de todos, verbalizada por Lemi, que, entretanto, se juntara para saber as novidades.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Dizem que o seu povo se chama Hati e vivem numa grande povoação toda construída em pedra. Para nós, são o povo das cascatas que se localiza a cerca de dois dias subindo o rio. — Esclareceu Cemil limpando um fio de sangue que lhe escorria para a barba. — O povoado chama-se Hatiweik falam como nós, mas há muitas palavras que não entendemos.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Estávamos escondidos a vigiar uma enorme manada de auroques, havia uma fêmea mais pequena que se distanciava lentamente dos outros. — Começou a contar Naci. — Esperávamos que estivesse longe o suficiente para o apanharmos sem que o resto da manada se apercebesse…</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— … quando aqueles malucos apareceram vindos não sei de onde a atacar o animal que nós vigiávamos. — Continuou Cemil rindo com a sua boca vermelha. — Claro que um enorme macho, que estava por perto, investiu sobre eles assim que se mostraram.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Num instante, a presa, os estrangeiros e o terrível macho corriam todos na nossa direção. — Naci arregalou os olhos e ergueu as mãos simulando as hastes do auroque.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Aqui o teu filho, — Cemil colocou o braço sobre o filho do chefe —, sem deixar que o medo o vencesse, ergueu-se da vegetação e atirou a lança certeira sobre o pescoço da nossa presa. O pior é que já estavam todos em cima de nós e eu demorei muito a levantar-me.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Foi uma enorme confusão. — Confirmou Naci rindo-se com vontade. — Assustaram-se todos connosco e o macho, que vinha logo atrás, começou a distribuir cornadas em todas as direções.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Quando dei por mim, — acrescentou excitadamente Cemil, exibindo mais uma vez a falta de dentes na boca ensanguentada —, voava de cara contra uma pedra.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Eu levei com um dos Hati em cima. — Continuou o filho do chefe. — Depois o auroque interessou-se por outro deles e ainda lhe deu umas boas pancadas, antes de nós todos juntos acabarmos com ele.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Ainda bem que os deuses vos trouxeram a salvo a todos. — Erem suspirou de alívio, mas logo acrescentou, batendo nas costas do irmão e rindo: — A uns mais inteiros que outros.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Todos riram com gosto, mas logo o chefe acrescentou: — Falem com Lemi para terem dois grupos a sair às primeiras luzes e trazer as carcaças da vossa excelente caçada. Eu agora verei como está o estrangeiro.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">A tenda de Nehir era invulgarmente grande; dava para estar em pé com uma criança às costas e cabiam três homens deitados ao comprido e quatro à largura. As peles de auroque, cozidas umas às outras, eram suportadas por enormes presas de mamute. Fora o primeiro lar de Erem e da família antes do chefe se decidir trocar por uma casa de pedra, mais pequena e logo mais fácil de aquecer. A filha não os quis acompanhar e continuou lá com o irmão Nuri, posteriormente assassinado pelos homens-macaco. Atualmente, aquele era o local onde todos os feridos e doentes recorriam, antes mesmo de ir pedir a Zia que intercedesse junto dos deuses.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Erem, acompanhado de Alim, que chegara, entretanto, informado do que se passara na caçada, aproximaram-se da entrada da tenda. Alguns membros do clã tentavam convencer os dois estrangeiros de que, se alguém podia salvar o seu companheiro, era aquela curandeira. Calaram-se ao avistar os recém-chegados.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">O chefe aproveitou para deitar mais uma mirada ao vestuário dos dois jovens que lhe devolveram uma pequena, mas respeitosa inclinação de cabeça, enquanto franqueavam a entrada.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Toda a tenda estava na penumbra, apenas iluminada pela luz vermelha do braseiro ao centro e o pequeno recipiente de argila, com gordura, que ardia na mão da curandeira. O estrangeiro estava deitado no chão, sem a túnica, apenas com um pedaço de tecido embrulhado na cinta.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Nehir, de joelhos, já havia limpado o longo ferimento do rosto do paciente e observava-lhe o pescoço, enquanto ele respirava com dificuldade em inspirações curtas e rápidas. A pele das faces tornava-se azulada e por vezes abria muito os olhos, como um peixe fora de água. Os braços batiam no chão alternadamente e empurrava com os pés, como se quisesse afastar-se de alguma coisa. </font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: 14pt; margin: 0cm 0cm 10pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 0cm; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">A curandeira olhou com preocupação para o pai e depois para o doente.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Escapa? — Quis saber Erem.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Não sei. — Ela fez uma careta com os dentes cerrados. — Está muito mal. Não consegue que o ar entre nele e se continuar assim morrerá em pouco tempo.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Mas não tem furos no peito nem nas costas. — Observou o chefe.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Pois não. — A filha concordou, tornando a olhar para o estrangeiro que parecia cada vez mais aflito. — Mas tem o pescoço muito vermelho e parece que não o consegue mexer. Acho que o espírito zangado do auroque que eles mataram se agarrou ali e vai sufocá-lo.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Zia entrou na tenda no preciso momento em que estas palavras eram proferidas. Examinou o pescoço do paciente, afastando-lhe as mãos com que se debatia.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Não podemos fazer uma oração para expulsar o mal? — Sugeriu Erem, torcendo a boca em desagrado. — Um sacrifício com o fígado do animal? O coração?</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Acho que morre antes disso. — Concluiu Zia para os outros dois, antes de se voltar para a filha: — Ainda te lembras, quando estávamos com Birol, de como Nida, a mulher do xamã Gokai salvou o teu tio depois do ataque do urso?</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Eu era pequena, mas lembro-me bem. — Nehir baixou os olhos. — Também já me lembrei disso, mas tenho medo de o fazer.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Fez um sacrifício com a cabeça do urso e as pontas das lanças dos guerreiros que o mataram… — Erem recordava-se — … ao por do sol!</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Ele não aguenta até ao por do sol. — Sentenciou Zia. — Além disso, não foi só o sacrifício que Gokai fez…</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Um gemido alto, apesar de sufocado, fez com que os companheiros do ferido entrassem alarmados.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— … Nida fez-lhe um buraco para entrar o ar. — Concluiu Nehir sem levantar os olhos.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Um buraco? — Alarmou-se um dos estrangeiros?</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Não consegues salvar Tibaro? — Quase sussurrou o outro, abordando diretamente Nehir.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Ele tem um mau espírito, possivelmente o auroque que mataram, no pescoço e não o deixa respirar. — Atirou Zia de chofre.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— E tu queres cortar-lhe o pescoço? — O primeiro dos estrangeiros indignou-se.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Espera, Himono. — Tornou o outro, antes de questionar, desta vez, Zia. — Achas que o salvas? Que pensas fazer?</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Já vimos salvar um parente nosso com o mesmo problema há muito tempo. — Explicou a mulher do chefe. — Não sabemos se resulta, mas, se não fizermos nada, só poderemos confiar nas orações a Swol. Penso que não verá os primeiros alvores.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Mas… — o chamado Himono continuava escandalizado —… cortar-lhe o pescoço? Estás louco Kiala? Temos de o levar para casa, para Mirsulo, ele saberá o que fazer.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Não é cortar o pescoço, é apenas um buraco… — tentou esclarecer Nehir.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Mirsulo é tão curandeiro como tu ou eu. — Sentenciou Kiala. — Teria de ser o curandeiro Savirio e não sei se aguentará até lá.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— São livres de partir quando quiserem, como eram livres quando chegaram cá. — Esclareceu Erem. — O vosso amigo está muito mal e se a minha mulher e filha dizem que não escapa se não se fizer nada, acredito que assim será. Se não quiserem fazer nada, nada faremos. Se quiserem levá-lo ao vosso curandeiro, enviarei alguns homens para vos acompanhar. De todas as formas, faremos um sacrifício no santuário, assim que formos buscar a cabeça e as mãos do auroque, para que Swol ajude a libertar os ares para o vosso amigo.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— São precisos dois dias para chegar lá, com todos saudáveis. Com ele assim, levaremos mais de três. Mandamos dois dos nossos avisar Mirsulo do sucedido com o filho, mas serão dois dias para lá e outros dois para cá. — Concluiu o chamado Kiala. — Também compreendo que ele não aguentará de nenhuma forma. — Baixou os olhos pensativamente.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— O sacrifício deve ser realizado ao nascer do dia ou ao cair da noite. — Explicou Zia. — Não podemos falhar. Se aparecer um pouquinho do sol nas montanhas do nascente antes de começarmos, terá de ser adiado para o por-do-sol. Se, nessa altura, já não houver luz nas montanhas de poente, não se poderá começar e adia-se para o dia seguinte…</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Por fim, Kiala exclamou, decidido: — Iremos buscar a cabeça e as mãos da besta. Com a tua autorização, pedirei a ajuda de Naci e mais alguns.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">— Podes dispor de tudo o que é nosso para salvar este homem. — Acedeu Erem.</font></span></p> <span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia" size="3">— Sei que Mirsulo ficará furioso, se Tibaro estiver morto quando ele chegar, mas mais furioso ficará se souber que nada fizemos para o salvar. — Kiala falou diretamente para o companheiro. — Agora deixemos os curandeiros trabalhar.</font></span> <p> </p>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" style="font-family: Georgia;">
<tr>
<th><h3>ANTERIOR</h3></th>
<th><h3></h3></th>
<th><h3>A SEGUIR</h3></th>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH9q7dK6cXvJUVfki4gz7tvpdoez6lpzUB5odSOnQnP6IfCGOnFoa_rAGGnxW9VehsgN5XtfO40Uw36OctCtgSXYn7oOtH-y3eGez7Gn4czb9e8iANVnL_AOFkTXcjghJl2x4cMQb9DQxxlRTHeD1nAf1EfER-WULxzD6oIuFz_7EC4uJZWuuwFNuoGLf8/s800/13%20-%20O%20Cativo.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH9q7dK6cXvJUVfki4gz7tvpdoez6lpzUB5odSOnQnP6IfCGOnFoa_rAGGnxW9VehsgN5XtfO40Uw36OctCtgSXYn7oOtH-y3eGez7Gn4czb9e8iANVnL_AOFkTXcjghJl2x4cMQb9DQxxlRTHeD1nAf1EfER-WULxzD6oIuFz_7EC4uJZWuuwFNuoGLf8/s320/13%20-%20O%20Cativo.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/08/o-cativo.html">13 - O Cativo</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td>
<td></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9hyphenhyphenylxqE_VNknxX0IFJ-HvA3XgI47S39YKnLjhDh12TBGoxglB_fa2qlTuHuX0xxgeFI4t5YgBkbrkQ8KUOckUxMaJ-tLAlHbrPvxq5_qCPHKd6V6mimPlscwT62RjPb6H3Panxjc7593qgbQ6b5psoBQBeZyuXaCz9uV5IR3YbveAo4DyNHXlYRs1Jsx/s800/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh9hyphenhyphenylxqE_VNknxX0IFJ-HvA3XgI47S39YKnLjhDh12TBGoxglB_fa2qlTuHuX0xxgeFI4t5YgBkbrkQ8KUOckUxMaJ-tLAlHbrPvxq5_qCPHKd6V6mimPlscwT62RjPb6H3Panxjc7593qgbQ6b5psoBQBeZyuXaCz9uV5IR3YbveAo4DyNHXlYRs1Jsx/s320/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/10/medicina-primitiva.html">15 - Medicina Primitiva</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td>
</tr>
<tr>
<td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td>
<td></td>
<td></td>
</tr>
</tbody>
</table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-29274700687898819972023-08-29T00:26:00.005+01:002023-09-28T08:38:53.652+01:00O Cativo<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD6UDMhkBjjZZoJRcYZD4vMzZPvD3XPtd26rFrRIvX9ip5P2DKCgvz6pKN7M_zjKCBAeTIGlXRXxoR5alYzNC3X1wZAVVDruI2sVwd-MBebC0T81IS6Ojr3LSbZx0EvJYgKyRKsqyTYfkY6Nmht0u8kQbuLMHZ7YpLZH25fMblHOarlLCL-b061C4UYbvU/s800/13%20-%20O%20Cativo.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhD6UDMhkBjjZZoJRcYZD4vMzZPvD3XPtd26rFrRIvX9ip5P2DKCgvz6pKN7M_zjKCBAeTIGlXRXxoR5alYzNC3X1wZAVVDruI2sVwd-MBebC0T81IS6Ojr3LSbZx0EvJYgKyRKsqyTYfkY6Nmht0u8kQbuLMHZ7YpLZH25fMblHOarlLCL-b061C4UYbvU/w400-h266/13%20-%20O%20Cativo.png" width="400" /></a></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 13</strong></div> <br /><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 4cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">O número dos nossos inimigos varia na proporção do crescimento da nossa importância. Acontece o mesmo com o número dos amigos.</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 4cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Paul Valéry</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 4cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Filósofo, escritor e poeta francês</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt 4cm; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">(1871-1945)</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><em><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><font style="font-size: 10pt;"> </font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><em><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><font style="font-size: 10pt;"> </font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Indecisos sobre o que fazer com o ladrão, amarraram-no a uma estaca no centro do povoado, mesmo em frente à casa de Erem. Na fúria vingativa, os aldeãos despojaram-no das roupas, encheram-no de pancadas e atiraram-lhe toda a espécie de objetos inomináveis. As tentativas para extrair algo de inteligível dele, porém, foram infrutíferas. Não conseguiam perceber a algaraviada do invasor, apesar de, por vezes, uma ou outra palavra parecer familiar. Chamaram vários dos estrangeiros residentes, mas nenhum conseguiu entabular uma comunicação. Por gestos, conseguiram perceber que ele provinha de algum lugar distante para lá das montanhas a norte e que eram um clã numeroso.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">O pequeno e improvisado, “conselho” com Erem, Lemi e os recém-admitidos, Alim e Tailan, discutiu o pouco que sabia. Se por um lado sentiam-se mais descansados por saber que os ladrões estavam longe, por outro, o facto de chegarem até ali, significava que se movimentavam… talvez na direção da aldeia. Além disso, possuíam armas de cobre; facas, espadas curtas, as pontas das flechas e até os próprios arcos estavam decorados com finas folhas trabalhadas do metal. Estavam obviamente perante um povo bem armado e com conhecimentos para além dos deles.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Distribuíram as armas pelos melhores guerreiros, mas Erem, satisfeito com o punhal que lhe fora oferecido há algum tempo por Alim, abdicou da espada que lhe caberia e permitiu que fosse entregue a outro.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Como havia trabalhos a desempenhar, gradualmente, o grupo que circundava o cativo foi ficando menor, reduzindo-se apenas às crianças que começaram a divertir-se atirando-lhe pedras. O homem gritava na sua língua incompreensível e rosnava-lhes sem sucesso, para alegria dos petizes. Foi Zia quem interveio fazendo-os dispersar. Antes dela própria se ir embora, ainda deitou um olhar preocupado ao prisioneiro; que haveriam de fazer com ele? Deveriam simplesmente matá-lo como muitos sugeriam? Oferecê-lo a Swol no círculo de pedra? Seria uma honra para os deuses ou iriam conspurcar o lugar sagrado?</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Já não chovia há uns dias e as planícies estavam forradas de erva tenra que veados e auroques pastavam livremente. Havia muito trabalho a caçar e a desmanchar as carcaças para secar as carnes. Além disso, também beneficiando dos dias que cresciam, a operação de construção do santuário recomeçou e as equipas para arrastar as pedras já saíam todos os dias para a sua atividade.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Ao anoitecer, todos regressavam e a fogueira no centro da aldeia já ardia, acendida pelas mulheres. Apesar da casa da reunião já ter sido terminada, desde que não nevasse ou chovesse, muitos preferiam continuar ali ao ar livre, em vez de fechados atrás de paredes.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">À medida que a luz desaparecia e o número de pessoas em volta da fogueira crescia, também os murmúrios acerca do prisioneiro se faziam ouvir. À semelhança das crianças, também os adultos atiravam pedras, ossos, ou mesmo brasas ao cativo.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">A chegada de Erem e Zia impôs algum respeito e os grupos familiares retomaram as suas atividades normais colocando pedaços de carne sobre as brasas que depois dividiam entre si. Alguns bebiam uma pasta de água e cereais mal triturados, acompanhados de carne seca. Tudo era melhor quando havia fruta, mas, para já, tinham de se contentar com algumas bagas ou amêndoas e nozes bolorentas.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Faltava apenas um dos grupos de caça… especificamente o de Naci e Fikri, que era o que normalmente se arriscava mais a afastar-se mais da aldeia, mas também era frequentemente o mais bem-sucedido.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Em volta da fogueira, as famílias faziam a refeição e falavam entre si ou em conversas cruzadas com os grupos vizinhos. Erem e Lemi, em grupos separados, debatiam o que deveriam fazer com o prisioneiro. Este último era de opinião que tinham de o matar; era culpado de roubo e quase de certeza matara ou colaborara nas mortes do último assalto. Ou entregavam-no aos familiares das vítimas para se vingarem, como muitos exigiam, ou sacrificavam-no aos deuses.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><font face="Georgia" size="3">Nehir, normalmente silenciosa nestes debates, interveio: “Swol e Mensis acasalaram e velam pelos homens desde Manu</font></span><a href="file:///C:/Users/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia" size="3">[1]</font></span></span></span></span></span></a><span><font face="Georgia" size="3">. Trazem a noite e o dia, as plantas e os animais que comemos, tudo isso para que os seus filhos não precisem de se matar e comer ou serem comidos. Matar outros homens é mau. Os deuses não gostam.”</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Zia assentiu para os outros gravemente e depois sorriu e acariciou carinhosamente o braço da filha.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Apesar da conversa importante, Erem estava distraído, atento a todos os movimentos para além da fogueira, sempre na esperança de ver chegar Naci e o seu grupo de caça. Ele era o seu eterno rival, que contestava a maioria das suas decisões, mas era também o alvo da sua admiração, amor e desvelo. Amava os outros filhos, claro; Nehir, a curandeira, sempre serena, atenta e mística, Asil, que escavava as pedras e bocados de madeira transformando-os em objetos de culto, Altan e Tekin, os mais velhos e mais sensatos. A angústia instalou-se-lhe no peito ao lembrar Nuri, morto pelos homens-macaco. Ninguém poderia duvidar do seu amor por todos os filhos e orgulho em todas as suas conquistas, mesmo as de Asil, que alguns homens desprezavam como sendo fraco e pouco dado a lutas; as suas esculturas de madeira levavam longe o nome de Barinak e as pedras do seu amado santuário ficavam maravilhosas após terem sido escavadas por ele… só era pena que demorasse tanto tempo. Às vezes ia espreitá-lo nas suas visitas ao santuário, a bater diligentemente com um pedaço de basalto num dos enormes monólitos até conseguir extrair da sua superfície o focinho de um leão, um cervo, ou mesmo um gafanhoto. Mas era Naci a sua eterna fonte de preocupações; arrojado, atirava-se de peito aberto a qualquer luta e saía quase sempre vencedor. Os deuses sorriam-lhe desde o nascimento, que acontecera numa noite escura, de grandes relâmpagos e trovões que abafavam os gritos de Zia. Durante o seu crescimento revelou-se um líder nato; os outros jovens seguiam-no cegamente deslumbrados com a sua coragem e ímpeto… mas Erem temia faltar-lhe ainda muita sensatez. Era demasiado jovem e as suas ações punham muitas vezes todos em risco, além dele próprio. Lemi dizia que Birol, o avô, também fora assim, mas foi gradualmente ganhando calma e discernimento.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Erem queria a opinião do filho, embora soubesse que na maior parte das vezes realizaria precisamente o oposto, deixando-o furioso. Servia-se dele como um dos pratos de uma balança onde tentava equilibrar a impetuosidade dele e a sua própria sensatez. Ao mesmo tempo, mostrava ao filho que, na maior parte das vezes, agir sem refletir seria um erro. Naci, porém, achava que o pai ficava velho e fraco e já tardava a hora em que um dos irmãos, ou mesmo ele, deveria tomar o seu lugar.</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">O chefe estava envolvido nesses pensamentos, com o olhar fixo no miserável prisioneiro amarrado ao poste, rodeado por imundícies e pedaços de comida que adultos e crianças lhe atiraram. Estava completamente nu e a sua pele clara marcada pelas equimoses das pancadas que levara. Só não estava já morto pelo respeito que Erem exigira. Como um animal selvagem encurralado, mantinha-se curvado e os olhos vivos circulavam pelos seus captores, sempre pronto a esquivar-se ao que lhe arremessavam. “Tenho de lhe deixar umas peles para dormir” — Refletiu de si para si. — “Não quero que morra gelado. Precisamos de saber o máximo que pudermos dele e do seu clã. Só então se decidirá o que fazer com ele.”</font></span></p> <font face="Georgia" size="3"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="Georgia" size="3">Murmúrios alterados e pequenos gritos de algumas mulheres fizeram-no olhar para além das casas mais próximas, a distância limitada pela escuridão. Ali pareciam materializar-se dois guerreiros magros, vestidos com túnicas compridas. Traziam o cabelo em finas tranças decoradas com pequenas esferas, empunhavam lanças bem direitas, mais altas um palmo do que eles. Vários membros do clã levantaram-se alarmados e preparavam-se para enfrentar a ameaça, quando, pelo meio dos recém-chegados, passou a trote um dos lobos que Cemil, um dos irmãos de Erem, criara desde filhote. O predador domesticado atravessou calmamente o centro do aldeamento, rosnando aos que estavam demasiado próximos, em direção ao amontoado de troncos onde dormia. Atrás dos estranhos, que se mantiveram imóveis, começavam a sair da escuridão os esperados membros do grupo de caça, seguidos por Fikri e Cemil. Dois homens arrastando uma padiola fechavam o cortejo.</font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div style="mso-element: footnote-list; overflow-wrap: break-word; word-wrap: break-word;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font> <hr align="left" size="1" style="margin-bottom: 8px; margin-top: 8px;" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><a href="file:///C:/Users/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1" style="mso-footnote-id: ftn1;" title=""><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> O Primeiro Homem</font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"></font></p> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"></font></p> <table border="0" cellpadding="2" cellspacing="2"><tbody> <tr> <td valign="top"> <p align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/07/as-aparencias-iludem.html" title="12 - As Aparências Iludem"><img alt="0_1925_Pikt_Doebel" border="0" height="164" src="https://drive.google.com/uc?id=1OFFgYd78E0d_C3v763QG4sNqYzOBBX48" style="background-image: none; display: inline;" title="0_1925_Pikt_Doebel" width="244" /></a> <br /><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/07/as-aparencias-iludem.html" title="12 – As Aparências Iludem">12 – As Aparências Iludem</a></p> </td> <td valign="top"> <p align="center"> </p> <p align="center"> </p> <p align="center">A seguir:</p> <p align="center"> </p> <p align="center">Decisão Dificíl</p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"> <p align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html" title="Introdução - Na Madrugada dos Tempos"><img alt="Na Madrugada dos Tempos" border="0" height="164" src="https://drive.google.com/uc?id=1MKPrhwcH3ox6Irc63L1-QApNoKOgNZo1" style="background-image: none; display: inline;" title="Na Madrugada dos Tempos" width="244" /></a> <br /><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html" title="Introdução – Na Madrugada dos Tempos">Introdução – Na Madrugada dos Tempos</a></p> </td> <td valign="top"> </td> </tr> </tbody></table> <p align="justify" class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;"><font size="2"> </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-77550371704704675742023-07-29T08:51:00.008+01:002024-01-18T13:50:02.016+00:00As Aparências Iludem<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj58aHIeGo-CjHy8ICAzN-LA96ubY5bJ-AEK5vweFuF6cO4LbtWPQrBOA30Al2QXben2lDpfBq7dYfEAXcXdZCwK9SzGDubdlTWFMXnrkmB7-rzr8BTmj84qKz0vqUn4WRFarbOZZZYGbivO-bP-qfhaprwXvGTwHxnujQVW_amVeDa_Sh6q0P3zy3Y67gZ/s800/12%20-%20As%20Apar%C3%AAncias%20Iludem.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj58aHIeGo-CjHy8ICAzN-LA96ubY5bJ-AEK5vweFuF6cO4LbtWPQrBOA30Al2QXben2lDpfBq7dYfEAXcXdZCwK9SzGDubdlTWFMXnrkmB7-rzr8BTmj84qKz0vqUn4WRFarbOZZZYGbivO-bP-qfhaprwXvGTwHxnujQVW_amVeDa_Sh6q0P3zy3Y67gZ/w400-h266/12%20-%20As%20Apar%C3%AAncias%20Iludem.jpg" width="400" /></a></div><br /><strong style="text-align: left;">Na Madrugada dos Tempos – Parte 12</strong></div> <p align="center"> </p> <blockquote> <p align="right"><em>As pessoas nunca são o que parecem. Nunca. </em></p> <p align="right"><em>Nem mesmo quando parecem ser o que são. </em></p> <p align="right"><em>A aparência nunca é a essência.</em></p> <p align="right"><em></em></p> <p align="right"><em>José Luís Nunes Martins</em></p> <p align="right"><em>Filósofo e escritor português</em></p> </blockquote> <p align="right"> </p> <p><font style="font-size: 12pt;"></font></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;"><font style="font-size: 10pt;"></font></span></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><font size="3"><font face="georgia"><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt;">O céu estava cor de chumbo e o vento uivava como milhares de longínquos lobos. O ar</span><span>, prenhe de pó e areia, </span><span>cegava e ardia nos olhos.</span></font></font></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">No meio da planície árida, com alguns troncos esquálidos aqui e ali à laia de árvores, os dois leões, um mais jovem que outro, rosnavam-se mutuamente como que discutindo opiniões contrárias.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Repentinamente, saída do nada, uma descomunal matilha de hienas de dentaduras proeminentes e aguçadas pingando baba soltava tétricas gargalhadas nervosas enquanto rodeava ameaçadoramente a dupla. Atiravam dentadas no ar, estalando os dentes, enquanto quase se afogavam em saliva, fazendo os ameaçados rodarem sobre si próprios, nunca perdendo as sanguinárias criaturas de vista.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Por fim, como que respondendo a um sinal, as hienas lançaram-se sobre os dois leões, que se defenderam com garras e coragem típicas da sua espécie.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">O combate durou poucos minutos, mas várias das atacantes jaziam em agonia com ossos partidos ou pavorosas lacerações de onde lhe jorrava a vida. As restantes fugiram rapidamente, dentes escorrendo baba e sangue, soltando gritos e gargalhadas que mais pareciam choros apavorados.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">O mais jovem dos leões partiu à desfilada atrás dos traiçoeiros atacantes, desprezando os seus próprios ferimentos. O leão mais velho deitou-se pesadamente, cansado, lambendo as dezenas de feridas a que conseguia chegar com a língua. No seu dorso, porém, alguns dos profundos rasgões feitos pelas dentadas haviam conseguido penetrar o grosso couro e expor a carne rubra e sanguinolenta.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Ainda mal o leão jovem desaparecera na distância quando parte do grupo das hienas regressou, muitas exibindo as feridas da luta anterior, mas com a mesma determinação. Sem dar tempo a resposta, lançaram-se sobre o velho leão num frenesim de dentadas e gritos e gargalhadas até se cansarem, saciadas e afastarem-se de uma massa ensanguentada e disforme de ossos.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Uma das criaturas mais afastada do grupo focou-se de repente nela, observadora de toda a tragédia. Os seus olhos pequenos e redondos constatavam a sua presença, os dentes pingando sangue arreganharam-se e, com uma gargalhada, atacou!</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Zia acordou com um grito sufocado. Estava completamente despida, encharcada em suor, deitada ao longo de um pequeno tubo onde mal cabia.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Respirou sofregamente tentando acalmar o bater violento e descompassado do coração, ainda apavorado pelo terrível pesadelo que a atormentara.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Lentamente acalmou-se e conseguiu respirar em profundidade, enchendo bem de ar a parte inferior do diafragma e soltando lentamente até o próprio coração ficar com as batidas normalizadas.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">“Tenho de deixar de fazer isto.” — Reconheceu, enquanto soltava as pedras que tapavam a cabeceira do estranho compartimento. — “Tenho de começar a ensinar uma das crianças…”</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Assim que ela removeu as primeiras pedras, rapidamente surgiram outras mãos a ajudá-la e a afastar as obstruções e a limpar o chão por onde arrastaram a sacerdotisa, colocando-a em pé. Esta, nua, coberta de transpiração e pó, rodeada por mulheres, foi tapada com peles e o seu cabelo sacudido do pó.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">“… que pena Nehir não se interessar pela adivinhação e pelas forças do mal que tentavam contrariar os desígnios dos deuses… — Zia continuava os seus pensamentos, alheada dos cuidados para com a sua pessoa — … continuava a ser ela, já velha, a ter de beber o sumo da flor-de-fogo, para através dos sonhos perceber o que as divindades tinham para lhes dizer.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Os joelhos fraquejaram-lhe e as companheiras agarraram-na enquanto lhe punham um cepo de madeira no chão para que se sentasse.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Erem irrompeu sem dificuldades pelo círculo protetor formado pelas mulheres e ajoelhou junto da sua companheira.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">— Então? — Interrogou de chofre. — Que viste?</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">— Não sei bem. — Suspirou ela, a cabeça pesada e os olhos semicerrados. — Preciso descansar, depois penso melhor sobre o assunto.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">— Mas que viste? — O chefe insistiu.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">— Não sei! — Reafirmou atordoada pelo cansaço. — Leões e hienas… à luta…</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">— E que mais?</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">— Não sei! Preciso descansar! — Ela arregalou-lhe os olhos e levantou a voz. — Não consigo pensar, está tudo baralhado na minha cabeça. — Depois acalmou-se e olhou suplicante para as companheiras. — Levem-me para a minha casa.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Zia dormiu durante quase o resto do dia. Não acordou para comer, se não já ao anoitecer e apenas para beber água e roer um pouco de carne seca, pensativamente. A sua visão perturbava-a e temia compreender o seu sentido; o velho leão seria deixado sozinho e despedaçado pelos inimigos… expedições como o ataque aos homens-macaco, que deixaram a aldeia desprotegida, poderiam ser o fim de tudo. Mas seria um aviso, ou um vislumbre do futuro? Com o inverno a prolongar-se e a falta de alimentos a fazer-se sentir, os grupos de caça eram maiores, percorriam mais distância e ausentavam-se mais tempo, também aí poderia haver perigo.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Erem respeitou o silêncio dela embora não deixasse de a observar, preocupado. Anoitecia quando regressou a casa. O frio lá fora fez com que todos regressassem cedo; a caça rendera um pouco melhor que o dia anterior, os grupos combinados com os estrangeiros tinham bons resultados, mas tudo deveria ser racionado e havia quem não quisesse partilhar. Vinha carrancudo e meditabundo quando entrou e deparou com a mulher sentada nas peles junto à fogueira a comer. Era bom sinal. Sentou-se ao pé dela em silêncio, sentindo o cheiro a fumo e a transpiração que enchiam a divisão. Pelo buraco do teto de onde saía o fumo conseguia ver a ominosa estrela brilhante que arrastava uma cabeleira de luz atrás de si.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Por fim ela resolveu falar e contou-lhe pormenorizadamente a sua visão, transmitiu-lhe os seus receios e comunicou-lhe a decisão de passar a trazer consigo uma ou duas crianças. A conversa prolongou-se durante horas até a lenha estar transformada em apenas brasas. A tudo o chefe acedeu e sugeriu as netas Cansu e Atye, respetivamente as filhas mais novas de Altan e Tekin, que eram suficientemente pequenas para começar a aprender. Zia, porém, disse precisar de alguém mais velho que tomasse contacto com ensinamentos mais complexos… se acontecesse algo antes das crianças estarem preparadas ficariam sem alguém para implorar aos deuses. Achava que Kiraz, viúva de Oran, um dos filhos de Lemi, parecia ter o necessário.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Erem ficou contente por tudo continuar na família e concordou que teriam de manter mais guardas na aldeia, até porque os homens que enviara aos povoados em redor relatavam também ataques e roubos de maior ou pequena monta. Os homens-macaco não eram, afinal, os únicos ladrões da região.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Quando finalmente se deitaram e abraçaram debaixo das peles ao lado do lume reavivado, Zia adormeceu imediatamente, mas Erem não conseguiu. O significado da visão não era ainda claro. Quereria dizer que o clã estava condenado? Aconteceriam divisões entre eles e os que restavam seriam exterminados? Se o leão representava o clã, quem eram as hienas? Inimigos internos ou externos? Será que o facto de permitir que os estrangeiros vivam entre eles era a semente para a destruição do clã? O tempo que deveria passar a dormir desvaneceu-se nestas cogitações até que o cansaço o venceu.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Ainda o sol não nascera quando foram acordados por gritos agitados de homens e mulheres.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Acorreram à agitação que acontecia perto da casa armazém. A multidão que se juntava abriu alas para o seu chefe que deparou com dois homens caídos. Um, estava morto quase de certeza, a avaliar pela quantidade de sangue que jazia empastado ao lado da cabeça, mas o outro, apesar dos vários ferimentos nas mãos e no rosto, mexia-se bem; deitado de costas, as mãos erguidas numa prece, chorava e implorava num idioma estranho.</font></span></p> <span style="font-family: georgia;"><font><font size="3"></font></font> </span><p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Alguns dos guardas do armazém, excitados, explicaram de forma ofegante e nervosa o acontecido; cerca de cinco estranhos atacaram o homem que guardava a entrada tendo sido surpreendidos pelos dois que os aguardavam na parte de dentro. Com os gritos de alarme e o acorrer de mais guardas, os atacantes lograram fugir, com a exceção daqueles dois. Eram estranhos à aldeia e não falavam a língua de nenhum dos povoados em redor.</font></span></p> <p align="justify" class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; overflow-wrap: break-word; text-indent: 36pt; word-wrap: break-word;"><span><font face="georgia" size="3">Erem fitou o homem vivo com intensidade que, pressentindo a autoridade nele, arrojou-se a seus pés, arengando num choro histérico. Os pensamentos do chefe, porém, não estavam no estranho em si, mas no que representava a presença de povos de outras regiões numa área que começava a estar sobrepovoada. As novidades não se ficavam, contudo, por ali. Um dos netos de Lemi, gritava para quem o quisesse ouvir que o invasor morto trazia ao pescoço o colar que oferecera à sua prometida, que fora assassinada durante o último ataque dos homens-macaco a Barinak… tudo indicava que afinal os atacantes foram outros. A terrível constatação pesava fortemente sobre o coração de Erem; destruíram e mataram um clã inteiro baseados numa suspeita que agora se revelava falsa<em>.</em></font></span> </p> <p align="right"><em><font size="3"></font></em></p> <em></em><br />
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" style="font-family: Georgia;">
<tr>
<th><h3>ANTERIOR</h3></th>
<th><h3></h3></th>
<th><h3>A SEGUIR</h3></th>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ6dkVAcmbuVKghmcXxCr15WO2WrPe56-3Pwti-t3N9lCIH8Qu5RIKxOtF7HxPwTYfdLsv4skWUSLr-V-Kozg7wITZWg9p8f7FmYI5o_sEwyu1lXRcM91_fkscABlxDYovjBsZcyyLPSvyNW1_mWOtEtuRdJS3YZG-gu-6sO3eYnlG52HVUNFqQhKltqjA/s800/11%20-%20O%20Povo%20de%20Barinak.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgZ6dkVAcmbuVKghmcXxCr15WO2WrPe56-3Pwti-t3N9lCIH8Qu5RIKxOtF7HxPwTYfdLsv4skWUSLr-V-Kozg7wITZWg9p8f7FmYI5o_sEwyu1lXRcM91_fkscABlxDYovjBsZcyyLPSvyNW1_mWOtEtuRdJS3YZG-gu-6sO3eYnlG52HVUNFqQhKltqjA/s320/11%20-%20O%20Povo%20de%20Barinak.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/06/o-povo-de-barinak.html">11 - O Povo de Barinak</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td><td></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH9q7dK6cXvJUVfki4gz7tvpdoez6lpzUB5odSOnQnP6IfCGOnFoa_rAGGnxW9VehsgN5XtfO40Uw36OctCtgSXYn7oOtH-y3eGez7Gn4czb9e8iANVnL_AOFkTXcjghJl2x4cMQb9DQxxlRTHeD1nAf1EfER-WULxzD6oIuFz_7EC4uJZWuuwFNuoGLf8/s800/13%20-%20O%20Cativo.png" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhH9q7dK6cXvJUVfki4gz7tvpdoez6lpzUB5odSOnQnP6IfCGOnFoa_rAGGnxW9VehsgN5XtfO40Uw36OctCtgSXYn7oOtH-y3eGez7Gn4czb9e8iANVnL_AOFkTXcjghJl2x4cMQb9DQxxlRTHeD1nAf1EfER-WULxzD6oIuFz_7EC4uJZWuuwFNuoGLf8/s320/13%20-%20O%20Cativo.png" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/08/o-cativo.html">13 - O Cativo</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td>
</tr>
<tr>
<td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td>
<td></td>
<td></td>
</tr>
</tbody>
</table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-49471378471321792732023-06-29T08:27:00.003+01:002024-01-18T14:01:49.311+00:00O Povo de Barinak<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9MBNTKQxgE52ds3VZWVZ0mejwKHGIDat3aRUQuo5Ut-ErHWGowyJtMLiD42kf0K4Tfve1vyLpmhpidS_bXETnGsFPjdBqQ-uiNwUR5GgXNiBPFvJujpK_ML4H_G4Z40wSXQOeuAoLusJnOF2VKX3CJzjJiPD1_NWwoOsXYx-kzHCw850muj2PrweCsAcP/s800/11%20-%20O%20Povo%20de%20Barinak.png" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="266" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9MBNTKQxgE52ds3VZWVZ0mejwKHGIDat3aRUQuo5Ut-ErHWGowyJtMLiD42kf0K4Tfve1vyLpmhpidS_bXETnGsFPjdBqQ-uiNwUR5GgXNiBPFvJujpK_ML4H_G4Z40wSXQOeuAoLusJnOF2VKX3CJzjJiPD1_NWwoOsXYx-kzHCw850muj2PrweCsAcP/w400-h266/11%20-%20O%20Povo%20de%20Barinak.png" width="400" /></a></div><br /><strong style="text-align: left;">Na Madrugada dos Tempos – Parte 11</strong></div> <blockquote> <p align="right"><em>Ninguém reprovará o seu irmão por ele ser o que é; mas com paciência e persistência, </em></p> <p align="right"><em>com inteligência e com amor, procurará levá-lo ao nível mais alto.</em></p> <p align="right"></p> <p align="right"><em>Agostinho Silva</em></p> <p align="right"> <em>Filósofo, poeta, ensaísta, professor e filólogo português</em></p> <p align="right"> <em>(1906-1994)</em></p> <p align="right"> </p> </blockquote> <div align="justify" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-family: georgia; font-size: 12pt;"> <p>Apesar de vitoriosos, o entusiasmo com que foram recebidos esmoreceu rapidamente assim que viúvas e órfãos aperceberam-se de que os corpos dos seus entes queridos nunca regressariam, reduzidos a cinzas algures nas montanhas inóspitas. Se a maioria os felicitava pela vitória total e maravilhava-se com os colares e artefactos vários saqueados no ataque, as famílias dos falecidos resmungavam revoltadas pelo ultraje. </p> <p>Erem tentou acalmá-los o melhor que soube e explicou virem todos esgotados e feridos, sem forças para arrastar os mortos. Foi Zia quem acabou por vir no seu auxílio, prometendo que fariam uma cerimónia especial pelos caídos e enterrariam no santuário os seus objetos pessoais em sua honra. Seria um agradecimento a Tharun por tão retumbante vitória, a Swol por permitir que sobrevivam aos inimigos e aos que fizeram o sacrifício último pelos seus vizinhos.</p> <p>A promessa agradou à maioria e pareceu transmitir algum contentamento a parte dos ofendidos, mas havia uma coisa de que ninguém falava, como se não tivessem reparado, mas que era uma grande questão que começava a incomodar; onde estava o resto dos alimentos roubados? </p> <p>Fora grande a quantidade de víveres furtada dos armazéns, era de esperar poderem recuperar uma boa parte deles na gruta dos infames homens-macaco, mas a verdade era que não encontraram peças de carne seca nem cereais dignos de nota. Não era possível que tivessem comido tudo no espaço de tempo entre o roubo e o ataque, apesar de serem muitos. Lemi sugeriu que teriam provavelmente escondido noutro local, mas Alim aventou que seriam poucos para transportar a totalidade do haviam roubado e que a maioria poderia estar enterrada algures a meio caminho para ser resgatada mais tarde… se assim era, o segredo estava morto como os seus donos. Fosse qual fosse a razão, o clã estava despojado dos seus recursos para o inverno e a sua sobrevivência estava ameaçada.</p> <p>A neve já não caía com a intensidade de há uns meses, tinha períodos mais ou menos longos, mas já não durava sequer um dia inteiro. A chuva que normalmente a seguia lavava a pouca que se agarrava nos locais expostos à luz do sol tímido que se filtrava pelas nuvens, restando apenas aquela em sítios sombrios ou mais húmidos, já transformada em gelo. Era este alívio das condições atmosféricas que permitia que os grupos de caça estendessem a sua ação, mesmo assim com pouco sucesso. O comércio com as outras povoações já não era tão frutífero; também elas racionavam os alimentos. Só o degelo dos rios permitia alguma pesca. Mais alguns migrantes engrossaram o número de tendas fora dos limites da aldeia, mas estes, ao contrário dos anteriores, eram miseráveis empurrados pela necessidade. Foram obrigados a ter grupos de dois homens a guardar a armazenagem dos víveres noite e dia, devido a pequenos roubos que aconteciam. O espectro da fome pairava sobre a aldeia e a primavera ainda estava longe. Medidas como a que Erem instituíra anos atrás, de entregar uma parte das caçadas para as viúvas e órfãos que não tinham meios de obter o seu alimento, começavam a ser contestadas. Para agravar tudo, nas noites menos nubladas, conseguia ver-se uma estrela gigante que parecia arrastar as outras atrás de si.</p> <p>Depois de algumas queixas, Erem mandou chamar Alim e recebeu-o na recém-terminada Casa da Reunião, usando a pele cerimonial com a cabeça de leão, sentado num banco feito com troncos cortados grosseiramente, mas cobertos com alvas peles. À sua esquerda, em pé, estavam Zia e Lemi e à direita, com a lança e o machado de caça, Naci e Fikri. </p> <p>Alim, que se fazia acompanhar do seu filho Beki, surpreendeu-se com a presença de Tailan e outro homem que mal conhecia e que aguardavam em pé à entrada. Sentiu a frieza e a majestade da receção, muito diferente da informalidade habitual entre eles. Não havia nada para se sentarem e a fogueira que costumava aquecer o espaço era apenas uma braseira que deformava o ar em ondas de calor. Como que combinados, os quatro homens avançaram para lá da fogueira, ficando a uns poucos metros de distância do chefe e da sua comitiva.</p> <p>— Chamaste-me, Erem? — Interrogou o homem mais velho, que não era pessoa de andar à volta dos problemas nem de evitar conflitos. Entretanto, deitou um olhar interrogativo aos outros dois que, com ele, pareciam estar a ser julgados.</p> <p>— Sim, meu amigo. — Começou o chefe sem se levantar. — Tenho assuntos desagradáveis para falar contigo e com Tailan, como representantes dos estrangeiros que aqui vivem.</p> <p>— Espanta-me que me chames amigo e logo a seguir digas que sou um estrangeiro. — O rosto de Alim pareceu ficar cinzento, enquanto o de Erem corou. — Eu e a minha família fomos os primeiros a juntar-nos a esta aldeia e damos um grande contributo para o bem de todos.</p> <p>— Também eu e todos os outros, estrangeiros como nos chamas, contribuímos com o nosso esforço em tudo o que se construiu e a partilha da caça e da pesca! — Tailan também estava corado, mas de indignação. — Não entendo esta… receção, nesta casa onde tantos “dos meus” trabalharam ao lado “dos teus”. De que nos acusas?</p> <p>As vozes na casa atraíam a atenção e já vários curiosos se amontoavam timidamente junto da parede da entrada.</p> <p>— Estrangeiros, sim! — Atirou Naci inesperadamente. — Antes de vocês chegarem, todos se respeitavam e cuidavam uns dos outros. Tudo podia estar à vista de todos, que ninguém mexia no que não lhes pertencia. — Ele apontava a lança acusadoramente. — Agora há queixas de desaparecimento de vasilhas, comida ou mesmo peles!</p> <p>— Espera Naci. — Interveio Erem.</p> <p>— Todas as noites alguém é visto a rondar os armazéns e, da última vez que perseguimos um desses intrusos, fomos parados à chegada às vossas tendas por homens com lanças. — Continuou Naci ignorando a interrupção do pai.</p> <p>— Cala-te! — Ordenou o chefe fazendo valer o seu estatuto. — Por causa disto que está aqui a acontecer é que não chamei mais ninguém, além daqueles que reconheço como representantes. Para nos entendermos e não para gritar. — Fez-se um silêncio sepulcral por uns segundos antes dele tornar a falar: — Tailan, ouviste as palavras do meu filho. Não gostei de saber que os homens que deixamos a guardar a aldeia não puderam perseguir um ladrão porque vocês não deixaram. Apareceram com lanças a fazer frente aos guardas, como se de inimigos se tratassem.</p> <p>— Erem. — Começou o representante dos estrangeiros, erguendo orgulhosamente a cabeça. — Reconheço-te como amigo e como chefe deste povoado que se desenvolve a olhos vistos. As tuas decisões são, na sua grande maioria, sábias e tomadas para o bem de todos, mas não podes esperar que um povo separado se comporte como um só. — Como não o interromperam, ele compôs a pele de lobo grisalha que lhe cobria os ombros e continuou: — Aceitas o nosso trabalho no santuário e as nossas vidas em combate, mas não permites que vivamos entre os teus, nem que construamos casas de pedra… nem os nossos mortos podem repousar ao lado deles. Quando definiste as guardas, fizeste-o na aldeia e deixaste de fora o acampamento onde estão aqueles que partilham contigo o fel, mas não o mel. Quando os homens-macaco atacaram da última vez, morreu um dos vossos, mas também dois dos nossos! Também temos de nos proteger e defender, que achas que pensaram os nossos guardas quando viram três ou quatro homens a correr para as tendas deles, armados de lanças e machados, a meio da noite?</p> <p>Lemi sussurrou próximo do ouvido do chefe, mas de forma que a restante “corte” escutasse. Naci, atirou um braço ao ar num gesto de desprezo.</p> <p>— Erem. — Interveio Alim. — O que vejo aqui é um mal-entendido causado pela desconfiança que deixas que habite entre os teus. Além disso, este problema podia ser resolvido com uma conversa entre vocês e não com esta exibição de poder e humilhação com que nos ofendes. Aqui estamos nós, apenas o povo de Barinak<a href="file:///C:/Users/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1_7153" name="_ftnref1_7153">[1]</a>, mas dividido em dois; os aldeões e os estrangeiros.</p> <p>— Não somos um só povo! — Gritou Naci incapaz de se conter. — Nós, somos filhos do Clã do Rio Brilhante, das grandes planícies do lago salgado! Vocês são montanheses sem-terra, deserdados dos deuses e que procuram agradar-lhes ajudando na homenagem que lhes fazemos. — Erem estendeu a mão para o silenciar, mas ele continuou: — Como se não bastasse, trazer a má-sorte até nós, agora também roubam a nossa comida.</p> <p>— Acalma-te, filho do chefe! — Tailan evitou propositadamente o nome do jovem. — Não acrescentes acusações falsas à ofensa que já é esta cerimónia.</p> <p>— Mas que tens a dizer sobre a verdade de que há roubos de comida? — Foi a vez de Lemi, que todos respeitavam como mais velho, intervir. — Já explicaste a razão para impedir o avanço dos guardas, que tens a dizer sobre os roubos, já que impediste a captura dos ladrões?</p> <p>O tio de Erem ultimamente caminhava cada vez mais curvado e apoiado num cajado de que nunca se separava, mas ali, deu um passo em frente sem apoio e cheio de majestade, apoiou a mão sobre o braço do sobrinho. A figura esquelética impunha autoridade com a grande calva, o cabelo que lhe restava e as barbas intrincados de brancas, repousando sobre uma túnica negra de pele de urso que lhe descia quase até aos pés calçados com as sandálias de madeira.</p> <p>— Não têm muito valor estas acusações, para além da ofensa de nos serem dirigidas… — Tailan olhou para o chão com uma expressão de tristeza. — … os roubos são feitos por gente de fora, que se esgueiram na floresta antes que os possamos apanhar. Na noite passada tentamos segui-los, mas perdemos-lhes o rasto. Talvez sejam das cascatas lá para Ner<a href="file:///C:/Users/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2_7153" name="_ftnref2_7153">[2]</a>, mas não temos a certeza. Vimos que usam facas de cobre, um dos nossos aproximou-se demais tendo sido ferido. Não está nada bem…</p> <p>— Chamaram Nehir? — Perguntou Erem.</p> <p>— Vocês não nos querem por perto, por que iriam deixar ir a vossa curandeira? — Rosnou o acompanhante de Tailan que se mantivera calado até aí.</p> <p>— Nunca vos foi recusada ajuda! — Atirou Zia rompendo também o silêncio. — Vou dizer-lhe que procure o ferido para o tratar.</p> <p>— Como veem, — começou Alim —, o grande problema aqui é de não falarmos. Esses ladrões, já podiam ter sido apanhados, se falássemos entre nós, em vez de lutar.</p> <p>— Que te faz pensar que sejam das cascatas? — Interrogou Erem.</p> <p>— Consta que têm lá um artífice a trabalhar o cobre e a fazer armas. — Esclareceu o companheiro de Tailan.</p> <p>— O que tem sido roubado não chega para uma aldeia inteira… — estranhou o chefe —… nada parecido com o que levaram os homens-macaco.</p> <p>— Se calhar porque não conseguiram ainda entrar na casa onde guardamos tudo depois do roubo deles. — Naci esclareceu. — Agora temos guardas e já não há alimentos espalhados por várias casas. </p> <p>— Podíamos ir lá exigir-lhes que parem com os roubos. — Aventou Lemi. — O chefe da aldeia pode nem saber do que se passa.</p> <p>— Rir-se-ão de nós. — Sentenciou Naci com uma careta. — Vão achar que somos uns fracos!</p> <p>— Então? — Tailan estava mais colaborante. — Vamos com um grupo de homens para lhes mostrar que estamos prontos para a guerra?</p> <p>— Isso seria ameaçá-los. Ficarão ofendidos e zangados. — Disse Erem pensativamente. — Vamos lá acusá-los e nem temos a certeza de que sejam eles.</p> <p>— Porque não fazemos uma armadilha? — Sugeriu Alim. — Se apanharmos os ladrões e os fizermos dizer de onde são… — Sim! — O rosto de Erem iluminou-se, enquanto se erguia e aproximava dos outros. — Essa é a melhor solução! Vamos reduzir os guardas, ter apenas dois na casa dos alimentos que se afastam por vezes. Mas mais dois lá dentro, que nunca saem. Se alguém os vir antes não pode dar o alarme, apenas corre a avisar os outros em silêncio. Temos de os apanhar vivos.</p> <p>— Isto, sim, é agir como somos: como irmãos, povo, o povo de Barinak! — Tailan estava obviamente satisfeito e deu um abraço a Erem.</p> <p>— Esta nossa conversa fez-me ver coisas que não estavam bem. — Concluiu o chefe com um sorriso. — E quando um homem acha que não está a agir bem, deve corrigir as suas maneiras; este plano para apanhar os ladrões deve ficar apenas entre nós, mas a partir de hoje, todos saberão que não há proibições para construir casas de pedra.</p> </font></div> <em> <hr align="left" size="1" width="33%" /> <p><a href="file:///C:/Users/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1_7153" name="_ftn1_7153">[1]</a> Do turco, santuário ou abrigo.</p> <p><a href="file:///C:/Users/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2_7153" name="_ftn2_7153">[2]</a> Proto Indo-Europeu: Esquerda (que acabará por ser o ponto cardeal Norte) por oposição ao sol do meio-dia</p> <div align="justify" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-family: georgia; font-size: 12pt;"> </font></div> </em><br /> <table border="0" cellspacing="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p> </p> <p> </p> <p> </p> </td> <td align="center"> <p align="center"> </p> <p align="center"><font color="#80ff00"> </font></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"> <p align="center"></p> </td> </tr> </tbody></table> <font style="font-size: 12pt;"></font>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0">
<tbody align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" style="font-family: Georgia;">
<tr>
<th><h3>ANTERIOR</h3></th>
<th><h3></h3></th>
<th><h3>A SEGUIR</h3></th>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT6jRwUH3V33ehjkFTAqVdJpGjpzdLNDWYrc5P61ZPh0Bp-cHOKM2Qk_5z4rVxtrc6n1ymskNnRvR4zsU-9YLKleRd_DrDIr9Y5-oQ8Nr1VUbeBkDhmR6tBTFnaasmDHO8RjvWdFiH6gXzgrrJ4P3M27RD1o5c8vmhbiRO5akuOi7_zhNT_U3uuC4A8GPS/s800/10%20-%20Olho%20por%20Olho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiT6jRwUH3V33ehjkFTAqVdJpGjpzdLNDWYrc5P61ZPh0Bp-cHOKM2Qk_5z4rVxtrc6n1ymskNnRvR4zsU-9YLKleRd_DrDIr9Y5-oQ8Nr1VUbeBkDhmR6tBTFnaasmDHO8RjvWdFiH6gXzgrrJ4P3M27RD1o5c8vmhbiRO5akuOi7_zhNT_U3uuC4A8GPS/s320/10%20-%20Olho%20por%20Olho.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/05/olho-por-olho.html">10 - Olho por Olho</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td>
<td></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOzJKss94HtASOaBtAdrJmZIQdDq7S6BhPKsAVnu3CF9LWN4rVgpJcCtw1CBztYVgjDodRfH-VacDECkGYUHpsAiE2uoAENVaJA3N_M277klCtDejP4BZxRgpOIuAIJNDadqry8IlRaFOqf7-G6oPx1Lk6ZDsnf4tZT5coAlY6yrOCBhHyeSBJqgNC3ivM/s404/12%20-%20As%20Apar%C3%AAncias%20Iludem.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="316" data-original-width="404" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhOzJKss94HtASOaBtAdrJmZIQdDq7S6BhPKsAVnu3CF9LWN4rVgpJcCtw1CBztYVgjDodRfH-VacDECkGYUHpsAiE2uoAENVaJA3N_M277klCtDejP4BZxRgpOIuAIJNDadqry8IlRaFOqf7-G6oPx1Lk6ZDsnf4tZT5coAlY6yrOCBhHyeSBJqgNC3ivM/w271-h212/12%20-%20As%20Apar%C3%AAncias%20Iludem.jpg" width="271" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/07/as-aparencias-iludem.html">12 - As Aparencias Iludem</a></td></tr></tbody></table><br /><br /></td>
</tr>
<tr>
<td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="175" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivqiNTJrUCcnbJ6d3ZyNR8z7-clEHfuXvCviAoLJuzfe_Y-vy8hanAkzojZFGeO0wljdPa77dDa4ugNwnFPLIhJgzrynpD9enTZ-Cu54y9NOtYqlSprGfHx_7wD5L-6td6SZpQMh_S5PelS-Rbs1Loo241GZBn1wxOql9RpplbdALDDbjcWzmGser0M0Qp/s320/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução</a></td>
<td></td>
<td></td>
</tr>
</tbody>
</table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-36676009794894413022023-05-28T22:20:00.002+01:002023-06-29T08:35:07.277+01:00Olho por Olho<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxXTW90u7Hf9GbtGJW2Oeg-tVsZN9e-jAOHkLEzNRgu3UsywrNm9798ceATNjIo4-FRuLh_E2cdQ4tYMDGfz-1hlpjbH8G2pTD58-d-9Ss-WArlxAVvQCvhdHa9SJ_dL4glss_Mx0FraDd-55Rc5JMtM3rgtpe4Q1djFKATfLTGcmlDcDiVUemLFMcWA/s650/10%20-%20Olho%20por%20Olho.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxXTW90u7Hf9GbtGJW2Oeg-tVsZN9e-jAOHkLEzNRgu3UsywrNm9798ceATNjIo4-FRuLh_E2cdQ4tYMDGfz-1hlpjbH8G2pTD58-d-9Ss-WArlxAVvQCvhdHa9SJ_dL4glss_Mx0FraDd-55Rc5JMtM3rgtpe4Q1djFKATfLTGcmlDcDiVUemLFMcWA/w400-h334/10%20-%20Olho%20por%20Olho.jpg" width="400" height="334" data-original-height="543" data-original-width="650" /></a></div> <br /> <p align="center"> <br /><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 10</strong>     </p> <blockquote> <p align="right"><em>A guerra é, a princípio, a esperança de que a vida nos venha a correr melhor,</em></p> <p align="right"><em> a seguir, a expectativa de que corra pior aos outros,</em></p> <p align="right"><em> depois, a satisfação por ela também não correr melhor aos outros, e,</em></p> <p align="right"><em> mais tarde, a surpresa por ela correr pior a ambos.</em></p> <p align="right"></p> <p align="right"><em>Karl Kraus, <em>Escritor austríaco</em></em></p> <p align="right">  <em>(1874-1936)</em></p> </blockquote> <div style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"> <p>Partiram ainda noite escura, em silêncio, uma extensa fila com vinte e dois elementos que marchava com dificuldade sobre a neve fofa debaixo de um ameaçador céu de chumbo. Entre as lanças empunhadas pela maioria destacavam-se os dois arcos de madeira e osso, fabricados por Alim e Beki, os nómadas adotados na aldeia. Este último e também Dogan, sobrinho-neto de Erem eram exímios atiradores e tornaram-se uma mais-valia entre os caçadores, permitindo-lhes matar ou ferir as presas, surpreendendo-as a grande distância.</p> <p>À cabeça do grupo seguiam Erem e Naci. Se o primeiro seguia de cenho carregado e apreensivo, o segundo exibia um ar de satisfação feroz. Atrás seguiam os restantes, maioritariamente homens, escolhidos a dedo por Lemi que, com exceção dos estrangeiros, conhecia intimamente cada um deles a quem ensinara as artes da caça desde crianças. As quatro mulheres escolhidas eram Ezgi e Eda, que já tinham revelado a sua mestria com a funda no primeiro ataque e duas outras estrangeiras, empunhando lanças e que quase só se distinguiam dos homens por não terem barba. Zia não acompanhou o grupo, para desilusão desta; o chefe convenceu-a a ficar com Nehir e Asil, porque decidira que desta vez não arriscaria que toda a governação do clã se perdesse de uma vez só.</p> <p>A luz da manhã já iluminava, tristonha, os montes de cristas nevadas e a paisagem ondulante de vegetação rasteira coberta por um manto branco. Esta região distinguia-se dos planaltos onde o clã vivia, era agreste, com pouquíssimas árvores e cortada por profundas brechas ou montes desproporcionais. Os deuses deviam estar furiosos quando fizeram aquela parte do mundo e via-se que era um terreno de exílio para uma espécie que se refugiava, a terra que ninguém queria.</p> <p>Num autêntico “déjà-vu”, o grupo reuniu-se no promontório que permitia uma ampla vista da entrada da gruta, mas que estava separado desta por uma funda garganta. Aquele era um bom ponto de observação, conseguiam ver, não só o seu objetivo, como uma grande distância em redor… o local ideal para uma sentinela. As pegadas recentes na neve fofa testemunhavam que houve atividade ali nas últimas horas. Havia a forte possibilidade de terem sido avistados.</p> <p>Erem observou atentamente todos os pormenores, enquanto lamentava não ter trazido Lemi, o seu indiscutível estratega. Ao fim de alguns segundos fez um gesto aos outros e todos se afastaram da crista para uma zona onde não seriam vistos pelo inimigo.</p> <p>O chefe ficou em silêncio fitando o chão, formados em círculo à sua volta, os outros respeitavam a introspeção. Depois ele ergueu os olhos para cada um deles, fixando-se nos dois archeiros.</p> <p>— Acham que conseguem atingir a entrada da gruta desde este promontório? — Atirou Erem repentinamente. — Derrubar quem apareça à entrada?</p> <p>Dogan, um dos mais jovens do grupo, fez uma expressão de incerteza, mas Beki, o mais velho dos filhos do nómada Alim, acenou com a cabeça afirmativamente.</p> <p>— Então está decidido. — O chefe concluiu. — Desta vez não seremos surpreendidos antes de estarmos todos no planalto de entrada. Eles manterão a vigilância, — explicou dirigindo-se aos outros — e se algum daqueles monstros sair, será morto ou pelo menos afugentado. Vamos escalar a parede até ao planalto e ninguém — aqui olhou conspicuamente para Naci —, repito, ninguém, ataca sem todos terminarem a subida. Subiremos em linhas de quatro, os mais novos e fortes à frente e ajudam os outros assim que chegarem. — Tomando a dianteira, ordenou: — Agora vamos!</p> <p>Os dois archeiros tomaram posição, o olhar fixo na entrada da gruta, sem descurar os companheiros que desciam a garganta.</p> <p>Uma águia piou no alto, na sua busca por alguma presa que se aventurasse fora da toca em cima da neve fofa. Tirando isso, não se avistava vivalma, o que começava a ser estranho. Era dia claro e aparentemente ninguém saía da gruta… esperavam que, pelo menos os caçadores, já estivessem fora há muito.</p> <p>Foram estes pensamentos que fizeram Beki olhar pelas redondezas dos seus companheiros e detetar o pequeno grupo de homens-macaco que, no fundo da garganta, saía de uma fenda na parede e avançava na direção deles. Gritou o alarme e começou a enviar dardos na direção dos inimigos. A primeira flecha cravou-se no tronco de um e a segunda no pescoço de outro, os restantes inimigos, porém, saíram da vista do atirador refugiando-se na parede contrária. Uma última flecha partiu-se contra as pedras; Dogan conseguira finalmente vencer as tremuras e atirar o primeiro dardo.</p> <p>Naci, Fikri, Altan e dois dos estrangeiros, à cabeça dos restantes, correram na direção indicada por Beki. Gritos de guerra e dor ecoavam no fundo da garganta fora da vista dos aflitos archeiros. Por fim, à medida que o restolho da refrega reduzia, viram um dos mais jovens estrangeiros a fugir perseguido de perto por um homem-macaco. Beki armou o arco e preparava-se para desfechar sobre o inimigo quando se apercebeu que Fikri corria logo a seguir. O corpulento inimigo estava quase a deitar as mãos ao franzino rapaz quando a lança do filho de Lemi cravou-se com um baque surdo nas costas dele, derrubando-o. O fugitivo parou imediatamente de correr e, fazendo jus à sede vingativa que os movia a todos, saltou sobre o homem-macaco tombado e começou a espetá-lo furiosamente com a faca de sílex. Era o filho de uma das mulheres assassinadas no assalto à aldeia. Fikri arrancou o seu dardo das costas do inimigo e ergueu-o num gesto de triunfo para os dois archeiros. Lentamente, os atacantes reuniram-se no fundo da garganta, havia feridos, mas não parecia faltar ninguém.</p> <p>Não havia agora dúvidas de que haviam sido avistados e os homens-macaco já estavam à espera do ataque. Deixaram aqueles fora da gruta para os apanhar pelas costas enquanto subiam e decerto haveria mais surpresas pela frente.</p> <p>Rapidamente e sem hesitação, todos se lançaram na escalada. Os dois archeiros mantinham-se vigilantes entre a observação atenta da entrada da gruta e a preocupação dos companheiros que subiam com esforço. Conseguiram perceber que alguém espreitava rapidamente da abertura escura e avisaram por gestos os primeiros que concluíram a subida, invariavelmente Naci e Fikri.</p> <p> Enquanto os archeiros concentravam a sua atenção nos companheiros, um restolho fê-los voltar-se de supetão; um homem-macaco erguia uma temível clava sobre Dogan. Tinha a cabeça e o rosto coberto de sangue pingando profusamente da haste partida de uma flecha cravada logo abaixo do ombro esquerdo. Beki, que nunca deixara de ter um dardo a postos no seu arco, lançou-o imediatamente sobre o inimigo, mas demasiado tarde para evitar que este descarregasse a moca em cima do companheiro. O infeliz Dogan ainda tentou esquivar-se da pancada, mas esta atingiu-o com violência sobre a clavícula e o braço com que se protegeu. O arco que empunhava desfez-se em pedaços quando o jovem rolou sobre ele.</p> <p>Tendo uma das ameaças eliminada, o homem-macaco, agora com nova flecha cravada no pescoço, soltou um grunhido inumano ao mesmo tempo que levantava a clava para atacar o outro. Beki recebeu-o atabalhoadamente com novo dardo no peito, mas não parou o ataque. Dogan, tombado aos pés do inimigo e com um braço sem ação, apanhou uma pedra e feriu-o várias vezes na parte desprotegida das pernas entre as botas de pele e a túnica de couro que envergava. Surpreendido pela dor inesperada, o formidável adversário saltou para o lado, pronto para lhe esmagar a cabeça, mas estes segundos foram preciosos para Beki empunhar a sua faca de cobre e saltar sobre ele. Sem espaço para manobrar a clava e sem poder fazer mais do que tentar esmagar o inimigo que se colava a ele, o homem-macaco caiu e debateu-se, enquanto Beki lhe cravava sucessivamente a adaga até aos copos, procurando atingir o coração. Dogan conseguiu arrastar-se até junto dos contendores e rasgou-lhe a garganta com a faca de sílex. Só assim terminou o combate.</p> <p>Beki ergueu-se ofegante e ajudou o companheiro, que se retorcia com dores, a sentar-se mais comodamente. Aparentava ter o úmero e a clavícula partidos e fora um esforço sobre-humano para se arrastar e ajudá-lo. Devia-lhe a vida com toda a certeza. Depois olhou para os restantes companheiros que terminavam a escalada, ignorando a luta de vida ou morte que acabara de ser travada.</p> <p>No patamar de acesso à gruta, os atacantes ajudaram os últimos a terminar a escalada e começaram a formar uma linha de cada lado da entrada. Começavam a tombar suavemente diáfanos flocos que pousavam sobre a neve calcada e suja do chão. Não se escutava qualquer ruído do interior escuro e intimidante. Um dos estrangeiros, ansioso por mostrar-se mais valente que os restantes ou incapaz de suportar a expetativa, avançou para a goela negra, tendo sido presenteado com uma lança no peito que o projetou para fora. Tombou numa posição pouco natural, com o peso do dardo a curvar-lhe o corpo para trás, os olhos esbugalhados perderam o brilho rapidamente… uma mancha rubra espalhou-se imediatamente sobre o tapete alvo.</p> <p>Desta vez, Naci tivera o bom senso de não se precipitar, mas mais dois corajosos jovens se lançaram para a abertura hiante para serem confrontados de imediato com um homem-macaco que derrubou ambos com possantes pancadas da clava que empunhava. Por estarem demasiado próximos, nenhum deles teve tempo de usar a lança que empunhava. Este foi o sinal, porém, para Erem gritar para o resto do grupo se lançar decididamente no ataque. Uns ainda com as lanças, outros, optando por armas mais manejáveis em lugares estreitos, largaram-nas e empunharam os machados de sílex que traziam à cintura.</p> <p>Chocados com a diferença entre a luz exterior e a penumbra da gruta, os primeiros invasores tiveram de combater por instinto com os quatro inimigos que os receberam com clavas e lanças. A vaga inicial quase foi travada, não fosse Naci espetar a sua lança, por cima do ombro de um dos companheiros, diretamente no pescoço de um dos defensores. Imitando a técnica, os seus companheiros eliminaram rapidamente a resistência e passaram por cima de mortos e feridos. Com os machados e as facas, acabaram violenta e sangrentamente com quantos inimigos tombados depararam. A presença dos amigos feridos e mortos só serviram para aumentar o ódio e raiva que sentiam. Ninguém ficou para os ajudar, todos respingados e inebriados de sangue, como demónios ululantes, atravessaram a estreita entrada e desembocaram numa ampla gruta fracamente iluminada pela fogueira que ardia sozinha no centro. As silhuetas de vários homens-macaco movimentavam-se a esconder-se nas sombras ou nas cavidades em redor.</p> <p>Soltando gritos horrendos, a horda demoníaca lançou-se como um rio que desagua num lago de águas calmas. Para ambos os lados partiram homens e mulheres com os machados ensanguentados em punho. Atacaram todas as figuras difusas que lhes apareciam pela frente. Fosse a fugir, fosse a defender-se, todos tombavam perante aquela maré de fúria homicida. Gritos apavorados de mulheres e crianças, misturavam-se com urros masculinos de dor ou raiva. Palavras desconhecidas misturavam-se com maldições, todas ecoando na alta abóbada da gruta.</p> <p>Ferido num braço por uma lança e a sangrar da cabeça por uma pancada de uma clava, para Erem tudo não passava de uma névoa rosada, enquanto se desviava dos ataques e devolvia pancadas selvagens com o seu machado. O corpo e os ferimentos doíam-lhe e começavam a faltar-lhe as forças para manejar a arma.</p> <p>Gradualmente, a gritaria converteu-se em murmúrios e gemidos, alguns calados violentamente ao som de pancadas surdas.</p> <p>Sem inimigos à vista, Erem deixou-se sentar pesadamente, arrastando as costas pela parede áspera. O chão de pedra estava morno e viscoso. Passou a mão pela cara para limpar os olhos, mas ficou a ver ainda pior. Deixou cair a cabeça para a frente e fechou os olhos, esgotado.</p> <p>— Pai? — A voz de Naci sobressaltou-o. — Estás bem?</p> <p>Levantou o rosto e sentiu a água gelada que lhe despejavam na cara. Esfregou os olhos e estava novamente na penumbra avermelhada da caverna. O cheiro fétido a sangue e carne era indescritível e misturava-se com o fedor de cabelos e pele queimados. Por onde os seus olhos vagueavam só via corpos caídos de bruços ou dorsal, em posições pouco naturais… quase só mulheres e crianças. Havia mesmo bebés tombados sem vida ao lado das progenitoras…</p> <p>Suspirou e escondeu o rosto entre as mãos. O estupor tomava conta dele ao mesmo tempo que se inteirava da enormidade do que haviam feito. Sentia as forças a faltar-lhe e era de muito longe que lhe chegavam as vozes dos companheiros.</p> <p>— Vencemos! — Apregoavam uns.</p> <p>— Acabamos com eles todos! — Gritavam outros.</p> <p>— Viva Erem, que nos trouxe a uma grande vitória! — Soltou outra voz, logo ovacionada por todos.</p> <p>O chefe ergueu-se ajudado por Naci e Fikri, que se haviam colocado um de cada lado e depois olhou os seus valorosos companheiros, onde não havia um rosto incólume. Abraçou o filho e deu umas palmadas afetuosas no ombro do filho de Lemi, enquanto sorria e acenava a cabeça tristemente para os outros.</p> <p>— Vamos pegar os nossos mortos e feridos e vamos embora deste lugar maldito. — Soltou Erem num quase gemido.</p> <p>Foi num silêncio quase total que revistaram o espaço pejado de cadáveres em busca dos companheiros perdidos, antes de se reunirem todos no exterior. O ataque “bem-sucedido”, saldara-se em seis mortos e quatro feridos com gravidade. Na realidade, ninguém escapara sem ferimentos e a distinção era apenas se precisava de ajuda para andar ou não. Da parte dos homens-macaco, a derrota fora total; quase trinta adultos e várias crianças. Não restara nenhum vivo, os atacantes certificaram-se disso enquanto procuravam os amigos.</p> <p>Havia poucos deles em condições para arrastar um corpo morto durante as várias horas que lhes levaria o regresso à aldeia, além disso, precisavam de transportar a carne seca e os cereais que encontraram por isso e após animada discussão, resolveram deixá-los. Os cadáveres dos companheiros foram alinhados numa pira feita com a lenha que os inimigos haviam armazenado e incendiada. Os corpos dos homens-macaco ficaram onde caíram, os lobos e os abutres teriam o festim assegurado por vários dias.</p> <p> </p> <table cellspacing="0" cellpadding="2" border="0"><tbody> <tr> <td valign="top"> <p align="center"><a title="Parte 9 - Velhos Inimigos" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/04/velhos-inimigos.html"><img title="9 - Velhos Inimigos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="9 - Velhos Inimigos" src="https://drive.google.com/uc?id=1v1by-Iv-5WXDnPum3G_meexhW8V7QXLh" width="200" height="163" /></a><a title="Velhos Inimigos" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/04/velhos-inimigos.html">Parte 9 – Velhos Inimigos</a> <br /></p> </td> <td valign="top"> <p align="center"><a title="Parte 11 - O Povo de Barinak" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/06/o-povo-de-barinak.html"><img title="11 - O Povo de Barinak" style="border: 0px currentcolor; display: inline; background-image: none;" border="0" alt="11 - O Povo de Barinak" src="https://drive.google.com/uc?id=15dFUsP2y5Lr1YsS0NPKexkgI446ddSc5" width="212" height="165" /><a title="Parte 11 – O Povo de Barinak" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/06/o-povo-de-barinak.html"> <br />Parte 11 – O Povo de Barinak</a></a> </p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="211" height="159" /></a><a title="Introdução - Na Madrugada dos Tempos" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução – Na Madrugada dos tempos</a></td> <td valign="top"> </td> </tr> </tbody></table> <p> </p> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p> </p> <p> </p> <p> </p> </td> <td align="center"> <p align="center"> </p> <p align="center"><font color="#80ff00"> </font></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top">          <p align="center"></p> </td> </tr> </tbody></table> <font style="font-size: 12pt;"></font></font></div>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-29267698057726078802023-04-28T23:56:00.002+01:002023-05-28T22:56:38.152+01:00Velhos Inimigos<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIkPIn1OK3QByyE9Znok1WulimKYNFAJS8LOrIeiN0SRkCJ3AT1x0dZP2ECdEyMI0HkmchjwJm4X6T6cueLteQd_sDKklo_rBLjUulIa5bnYiJp0nwTjkGGjzjKAAP9o9PBq9N-RqhveOuM9DPDFeZ5k2IeAGgrKPgA-aJ6RLlcwjTtNLifo8OHguszw/s714/9%20-%20Velhos%20Inimigos.jpeg"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgIkPIn1OK3QByyE9Znok1WulimKYNFAJS8LOrIeiN0SRkCJ3AT1x0dZP2ECdEyMI0HkmchjwJm4X6T6cueLteQd_sDKklo_rBLjUulIa5bnYiJp0nwTjkGGjzjKAAP9o9PBq9N-RqhveOuM9DPDFeZ5k2IeAGgrKPgA-aJ6RLlcwjTtNLifo8OHguszw/w400-h278/9%20-%20Velhos%20Inimigos.jpeg" width="400" height="278" data-original-height="636" data-original-width="714" /></a></div> <p align="center"> <br /><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 9</strong>     </p> <p class="MsoQuoteCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Certamente têm razão aqueles que definem a guerra como estado primitivo e natural. Enquanto o homem for um animal, viverá por meio de luta e à custa dos outros, temerá e odiará o próximo. A vida, portanto, é guerra. </font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Hermann Hesse</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Escritor e pintor alemão</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 6pt 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">(1877-1962)</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"> </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Todos estavam indignados com a audácia dos homens-macaco, principalmente os estrangeiros pelo assassinato dos dois homens. Aquele grupo, que se mantinha mais ou menos segregado da aldeia, já tinha quase tantos elementos como o próprio clã e, se inicialmente eram olhados com desconfiança, já circulavam livremente entre os demais, fazendo trocas e trabalhando onde era preciso.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Erem convocou um conselho para a semiconstruída casa da reunião, como todos lhe chamavam. As paredes não estavam totalmente erguidas, mas já representavam uma barreira eficaz contra o vento gelado. Os grandes troncos, previamente limpos das cascas, estavam enterrados profundamente à distância de dois homens e o espaço entre eles era diligentemente preenchido com camadas bem equilibradas de pedra. O objetivo era erguer aquelas paredes até ao limite dos troncos onde seriam “fechadas” com travessas de madeira, sobre as quais assentaria o telhado de colmo. Seria uma obra única nas redondezas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Toda a população da aldeia já representava uma pequena multidão que Altan, o filho mais velho do chefe e Civam, um irmão de Zia tentavam silenciar. Foi, porém, a voz forte de Lemi que conseguiu impor respeito e gradualmente todos se calaram. Erem olhou com satisfação o amigo e tio, embora se sentindo preocupado pelo envelhecimento que este inverno estava a produzir nele.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">O chefe subiu a uma pedra para poder olhar para todos e para ser visto. A seu lado esquerdo colocaram-se Zia e Civam e ao direito os seus filhos Altan, Tekin e Asil… uma vez mais Naci primava pela ausência.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Amigos e vizinhos. — Começou ele à laia de apresentação. — Na noite passada sofremos uma grave afronta; mataram e feriram alguns dos nossos e roubaram e destruíram alimentos que nos irão fazer muita falta. — Um coro de vozes iradas e punhos erguidos ameaçadoramente apoiaram as palavras do chefe que fez um gesto a pedir silêncio. — Não nos bastam já as vezes que atacam os nossos grupos de caça, ou roubam as peças que perseguimos, como agora invadem as nossas próprias casas. — Novas vozes indignadas. — Por muito que me custe, tenho de vos pedir novamente para arriscar a vida pela nossa sobrevivência. Temos de voltar à gruta do nosso inimigo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Mas desta vez, temos de acabar o serviço de vez! — Gritou Naci da entrada do edifício. — A nossa covardia colocou-nos nesta situação; morreram alguns de nós no ataque, mas não devíamos ter desistido! Devíamos ter voltado, nem que fosse com todo o nosso clã, nem que morresse metade de nós, mas teríamos acabado com eles de uma vez por todas! — Havia alguns murmúrios de aprovação na audiência. — Em vez disso, andamos a arrastar pedras pelas montanhas e vales.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— O apoio dos deuses é o mais importante! — Gritou Zia, incapaz de se conter, sobrepondo-se ao coro de vários elementos da audiência que também se indignavam pelas palavras heréticas do filho do chefe. — Sem os deuses nada somos! Que podemos nós contra <i>Tarhun</i><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[1]</span></span></span></span></a>, quando atroa os céus e destrói grandes árvores ou queima florestas inteiras? Que podemos nós contra <i>Swol</i> que tanto nos traz o suave calor quando a noite deixa de ser maior que o dia, como abrasa o ar e seca os chãos quando o dia é maior que a noite?</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Temos de eliminar a ameaça, sim. — Interveio Erem para conciliar as partes. — Temos de a eliminar de vez, mas agora invocaremos o apoio dos deuses antes de ir. Quero que todos quantos podem lutar se armem e se preparem para a viagem, ficam apenas os velhos, os doentes e as mulheres com crianças. Lemi organizará os grupos e escolherá alguns guerreiros que ficarão com ele a guardar a aldeia. Partiremos amanhã à primeira luz. Não pode ir ninguém ferido, nem doente, lembrem-se que está muito frio e as neves estão altas. Vai ser uma caminhada muito difícil. Quero aqui aproveitar — olhou na direção dos estrangeiros — para pedir a ajuda dos nossos vizinhos, para que nos cedam os guerreiros que puderem para combater esta ameaça.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Destacou-se entre o grupo um homem chamado Tailan, visto pela maioria como o porta-voz. Era dos mais velhos, o rosto alongado e enrugado de muitos sóis, o cabelo comprido preso num rabo de cavalo e a barba mantida curta. Envergava uma camisola de lã escura por baixo de um capote de peles de lobo. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Apoiaremos de bom grado, grande chefe! — Respondeu ele na sua voz forte e de sotaque carregado. — Mas quero também pedir uma graça, a ti e a todos os que em Barinak<a title="" style="mso-footnote-id: ftn2;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2" name="_ftnref2"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;">[2]</span></span></span></span></a> nos têm acolhido tão bem; gostaríamos de também poder enterrar os nossos mortos no santuário que estamos a ajudar a construir. Os mortos desta noite… — O homem calou-se à medida que vozes indignadas se faziam ouvir na audiência.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Esperem! — Mandou Erem. — Acalmem-se, vá! — Insistiu o chefe sobre os descontentes. — Por que o não hão de merecer eles? Não trabalham lá como nós? Não colaboram em todas as atividades do clã como todos os outros? Mesmo nas construções na aldeia, que já não lhes diria respeito? — O descontentamento reduzia-se a alguns resmungos. — Bem sei que são estrangeiros, não são descendentes do grande clã de Birol, mas partilham connosco as dificuldades. Proponho que enterrem os seus mortos no santuário, sim, mas, tal como vivem nos limites da aldeia, os enterramentos serão em volta do círculo e não dentro. O círculo interior fica reservado aos elementos do nosso clã.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Tailan curvou a cabeça em agradecimento, ignorando alguns elementos da audiência que insistiam em manter a discriminação mais acentuada.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Daqui vamos todos para o santuário — Zia tomou a palavra com autoridade, dando por encerrada a discussão —, sacrificaremos uma cabra e um cabrito. Farei a leitura das entranhas da velha para a aldeia e da nova para o nosso futuro. Invocaremos o favor dos deuses na nossa jornada e, com ajuda deles, desta vez venceremos.</font><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Foi uma grande comunidade que se juntou no santuário onde havia agora cinco monólitos. As condições climatéricas limitavam muito o tempo de trabalho e a pedra com o tamanho necessário e as características exigidas por Zia ou Nehir encontrava-se cada vez mais distante. Por vezes faziam grandes caminhadas para ver um megálito referenciado por um dos caçadores, para chegar à conclusão que não era do material certo, não tinha tamanho ou estava quebrado. Agora optavam por duas equipas chefiadas por uma das mulheres que localizavam as pedras e deixavam lá aqueles que a iriam desbastar para a tornar mais leve e transportável. Só depois se iniciaria o transporte. Tudo tomava mais tempo; encontrar os objetos, a distância e os obstáculos naturais.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Erem, Zia e Nehir compareceram no santuário envergando as vestes e símbolos dos seus altos cargos. Ele trazia a cabeça e a pele de leão, que eram a majestade e o poder sobre os outros e a lança, que representava, ao mesmo tempo, a ferramenta que alimentava o clã e a arma que o defendia. Zia e Nehir envergavam alvos casacos de peles de carneiro que lhes desciam até aos joelhos com as golas e punhos de pele de coelho matizados de branco e cinzento. A mãe estava coroada com o cocar de penas de corvo e pomba cinzenta e a filha com outro de pomba branca, distinguindo os seus estatutos de sacerdotisa/oráculo e o acólito.</font><span style="mso-spacerun: yes;"><font style="font-size: 12pt;">  </font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Ainda havia murmúrios descontentes quando Zia executou as mortes rituais junto à fogueira no centro do círculo e invocou os deuses para que vissem o sacrifício que faziam. Aqueles animais eram preciosos e podiam, no espaço de poucas semanas, serem essenciais para evitar a morte pela fome de alguns deles, no entanto, faziam aquela oferenda para que as divindades percebessem que lhes davam mais importância do que à sua própria subsistência.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">A noite descia rapidamente sobre o povoado e refletia-se apenas em pequenos espaços deixados entre as nuvens escuras que praticamente cobriam o céu. A luz bruxuleante das chamas projetava a sombra da sacerdotisa nas pedras: um gigante com enormes chifres que parecia querer libertar-se para avançar sobre os crentes. Também o som ressoava de forma impressionante nos monólitos, os que estavam mais perto, sentiam a vibração que deles provinha e as palavras do oráculo ressaltavam e pareciam ficar suspensas no ar. Zia invocava a presença de <i>Swol</i> que não os abandonasse e regressasse rápido com o calor, a caça e as colheitas, de <i>Mensis</i> para que lhes iluminasse a noite e os caçadores não se perdessem no caminho e de <i>Tarhun</i> para que os conduzisse à vitória sobre os inimigos. Enquanto isso, retirava as entranhas dos animais sacrificados para potes de barro que lhe eram estendidos por Nehir.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">O chefe do clã colocou-se no meio das duas mulheres e aproximou-se da sacerdotisa para receber a premonição. Nehir marcou-lhe o peito com uma sanguinolenta mão aberta sobre o coração e Zia riscou-lhe o rosto com três dedos sangrentos em cada face antes de lhe segredar o que vira nas entranhas dos animais. Ele olhou-a com profundidade antes de confirmar com um aceno de cabeça que aceitava a previsão que podia ser divulgada ao povo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Voltaram-se os três de costas para o altar sacrificial, de mãos dadas, os rostos negros e dourados pela luz da fogueira transformados em máscaras divinas, prestes a revelar a vontade dos deuses.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— <i>Swol</i>, — gritou Zia, acima dos murmúrios que se silenciaram de imediato —, abraça os seus filhos e recomenda paciência para regressar em força e abundância. <i>Mensis,</i> diz; as noites serão calmas e, embora as nuvens de neve por vezes ensombrem os céus, ela estará lá para velar por nós. <i>Tarhun</i> dá-nos a sua bênção para levar a vingança aos nossos inimigos. A luta será difícil, mas o nosso clã prevalecerá!</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Gritos de alegria e vitória ecoaram entre os crentes que se felicitavam mutuamente por tão auspicioso augúrio. Mas logo Zia tornou a erguer as mãos para impor o silêncio.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Amanhã será um dia muito comprido e difícil. — Anunciou ela assim que todos se calaram, erguendo um dos potes de barro utilizados na cerimónia. — Aqui estão o sangue da cabra e do cabrito; o velho e o novo misturados e inseparáveis, como sempre deve ser.<span style="mso-spacerun: yes;">  </span>— Com um ramo de oliveira aspergiu pingos carmins sobre os crentes. — Todos devem molhar as mãos nele e marcar as faces com três dedos, que dá a força de três homens e as roupas com a mão aberta que dá a coragem do nosso povo. Depois vamos descansar nos braços de <i>Mensis</i> e acordaremos ao som das cornetas de <i>Tarhun</i>.</font><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div style="line-height: normal; mso-element: footnote-list;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font> <hr style="border-color: rgb(0, 0, 0); margin-top: 8px; margin-bottom: 8px;" align="left" size="1" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Deus do trovão, da caça e da guerra</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/Lv98 - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2" name="_ftn2"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[2]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Santuário</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <table cellspacing="0" cellpadding="2" border="0"><tbody> <tr> <td valign="top"> <p align="center"><a title="O Mundo Pula e Avança" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/03/o-mundo-pula-e-avanca.html"><img title="8 - O Mundo Pula e Avança" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="8 - O Mundo Pula e Avança" src="https://drive.google.com/uc?id=1ohAXKpc6BiUemV8jzVM6zQaPmTACIk5f" width="207" height="170" /></a> <br /><font color="#00ff00"><a title="Parte 8 – O Mundo Pula e Avança" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/03/o-mundo-pula-e-avanca.html">Parte 8 – O Mundo Pula e Avança</a></font></p> </td> <p align="center"></p> <td valign="top"> <p align="center"><a title="Parte 10 - Olho por Olho" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/05/olho-por-olho.html"><img title="10 - Olho por Olho" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="10 - Olho por Olho" src="https://drive.google.com/uc?id=1u1lZdAh_np9cWKJ3-_dK1Aq5vWY3nm5e" width="200" height="167" /></a> <br /><a title="Parte 10 - Olho por Olho" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/05/olho-por-olho.html">Parte 10 – Olho por Olho</a></p> </td> <p align="center"></p> </tr> <p align="center"></p> <tr> <p align="center"></p> <td valign="top"> <p align="center"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="200" height="137" /></a> <br /><a title="Introdução - Na Madrugada dos Tempos" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução – Na Madrugada dos Tempos</a></p> </td> <p align="center"></p> <td valign="top"> <p align="center"> </p> <p align="center"><font color="#80ff00"></font></p> </td> <p align="center"></p> </tr> <p align="center"></p> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-77350360009687067332023-04-01T14:22:00.005+01:002023-04-06T10:41:43.862+01:00O Dia d’Os Hóspedes<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://www.debaixodosceus.pt/os-meus-hospedes" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;" title="Capa "Os Meus Hóspedes""><img border="0" data-original-height="5550" data-original-width="7767" height="286" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2lwEx0LWmhkv6XgoHzjzcGlvREltaf37dxrYDxXwaWB7qSNKFDo5MI-QrIMVW08JrwhIb0DXY6hK_uucBvlNv4KcYo9jwDfrlW8xCteFqk-GY0PyGf4YLswdvyez09MdOyn1dTe3tVZvCWb5ymZDEuBpHVps1O2hEEzemmS26RnZqc2xoZR6urKn5EA/w400-h286/Capa%20Os%20Meus%20Hospedes.png" width="400" /></a></div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">Capa do livro “Os Meus Hóspedes”</div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">de Fernando Ventura Morgado</div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Foi no passado dia 1 de abril, sim, é verdade, no dia das mentiras, que fui assistir à apresentação do livro "Os Meus Hóspedes" do meu grande amigo Fernando Ventura Morgado e mais uma produção das <a href="https://www.debaixodosceus.pt/" title="Produções Debaixo dos Céus">Produções Debaixo dos Céus</a>.</div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">A capa, com o design da produtora, usufruiu de uma das belas fotografias tiradas pela companheira e musa inspiradora do nosso escritor, a doce <a href="https://www.facebook.com/fernanda.morais.7524">Fernanda Morgado</a>.</div> <a href="https://www.facebook.com/fernanda.morais.7524" title="Fernanda Morgado"><img alt="339312080_899874944459502_6465070647147097903_n" border="0" height="244" src="https://drive.google.com/uc?id=112PIAxTjdu9ETxHidNgoN8YJ_SWaoGPZ" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="339312080_899874944459502_6465070647147097903_n" width="164" /></a> <h6 align="center"><font size="2">Fernanda Morgado</font></h6> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">O evento aconteceu na bonita Vila de Alijó que, para quem não sabe, fica no extremo nordeste do distrito de Vila Real e grande parte do seu território está dentro da Região Demarcada do Douro, além de ser berço do célebre Moscatel de Favaios, produzido principalmente na freguesia que lhe empresta o nome.</div> <div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"> </div> <a href="https://www.cm-alijo.pt/" title="Câma Municipal de Alijó"><img alt="O Homem do Douro" border="0" height="429" src="https://drive.google.com/uc?id=126QbSP7O4ZZnW-RYrjoMECYAb9fgbdTu" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="O Homem do Douro" width="644" /></a> <p align="center"><font size="2">A estátua do Homem do Douro numa montagem extraída do Facebook do município</font></p> <div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt;"><font size="2"></font></div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">E que foi o meu amigo Morgado, um miragaiense, tripeiro dos quatro costados, fazer para o “Reino Maravilhoso”, distrito natal do grande e saudoso Miguel Torga? É fácil; como homem de paixões que é, apaixonou-se pela região e não mais parou sem conhecer melhor aquela terra e escrever sobre ela e as suas gentes. Fez lá vários amigos, claro, há alguém que consiga resistir ao sorriso, humildade e entusiasmo do Fernando Ventura Morgado? Como poderia ser de outra forma? Também os portuenses são homens do Douro, dos seus limites pois sim, daquele local onde o majestoso rio se liberta de paredes abruptas e dos montes rochosos e vai conhecer o mar. São portanto durienses também, os habitantes da Invicta, filhos e netos dos outros, daqueles que como o rio, um dia desaguaram para a última cidade antes do mar. Esse rio que lhes corre nas veias, como se sangue fosse, é um laço de irmandade que faz com que se reconheçam e se sintam irmãos.</div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Foi assim que o “duriense da foz” retornou às origens dos seus antepassados, “durienses transmontanos” para escrever mais um romance de amor, onde consta que um tal de Blamy e uma Joana se conheceram e se relacionaram tendo como pano de fundo a magnífica paisagem transmontana. Não foram sequer esquecidos os cheiros e os sabores das uvas e dos néctares que aqui se produzem. Para saberem mais do que isto terão de ler este excelente romance... talvez depois disso também desejem ir conhecer Casal de Loivos, onde parte da ação decorre.</div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Mas o que me traz aqui é a apresentação que aconteceu no passado dia um, onde o Fernando Morgado apresentou à sociedade a sua mais recente criação.</div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">“Os Meus Hóspedes” tiveram o apoio da Câmara Municipal, representada nas pessoas da Vereadora da Cultura a Dra. Mafalda Mendes e a diretora da biblioteca, Dra. Otília Magalhães, que muito amavelmente cedeu as elegantes instalações da Biblioteca Municipal.</div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=112Au21INyOECNAIdJ5ddd_ca4rxpDBnl"><img alt="338883468_972107017117013_6521091081225383613_n" border="0" height="378" src="https://drive.google.com/uc?id=1GMpsCpedPMGOOZouhRhjXt0nfZn3WkIr" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="338883468_972107017117013_6521091081225383613_n" width="253" /></a> <h6 align="center">Da esquerda para a direita: </h6> <h6 align="center">Otília Magalhães, Fernando Morgado, Mafalda Mendes</h6> <div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Depois de uma pequena abordagem ao livro e à obra de Fernando Morgado por parte da revisora e amiga, <a href="https://www.facebook.com/suzete.fraga" title="Suzete Fraga">Suzete Fraga</a>, autora do livro “<a href="https://www.amazon.es/-/pt/dp/9898856033" title="Livro Almas Feridas">Almas Feridas</a>” (Euedito/Sui Generis 2016), houve direito a uma impressionante leitura de um pequeno excerto do livro por Ana Cristina que, além de funcionária da biblioteca é Monitora de Expressão Dramática e dinamizadora da cultura popular.</div> <p> </p> <div> <div align="center"> <table border="0" cellpadding="2" cellspacing="0"><tbody> <tr> <td valign="top" width="47"><a href="https://www.facebook.com/suzete.fraga" title="Suzete Fraga"><img alt="339446538_600717555268393_8723370172119555712_n" border="0" height="348" src="https://drive.google.com/uc?id=1jrg02QHN6sHh6QPsYxogtun10FGInzyN" style="background-image: none; display: inline;" title="339446538_600717555268393_8723370172119555712_n" width="233" /></a> <p align="center"><font size="2">Suzete Fraga</font></p> </td> <td valign="top" width="62"><a href="https://drive.google.com/uc?id=1qp11IkgKn38tPLluUuOisio3_d-kKteP"><img alt="339431119_181820468045041_2592259597283309120_n" border="0" height="348" src="https://drive.google.com/uc?id=1_OLo76aSuvu1Vdg_OASGjOmSEwTom0UJ" style="background-image: none; display: inline;" title="339431119_181820468045041_2592259597283309120_n" width="233" /></a> <h6 align="center"><font size="2">Ana Cristina</font></h6> </td> </tr> </tbody></table> </div> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Foi também uma oportunidade para se juntarem, quase de surpresa, os fundadores do grupo de escritores <a href="https://www.amazon.com/author/pentautores" title="Pentautores">Pentautores</a> do qual o nosso Fernando Morgado é praticamente um membro honorário por direito próprio. Este grupo já produziu várias obras conjuntas de contos, como “<a href="https://www.debaixodosceus.pt/herancas" title="Livro Heranças">Heranças</a>”, “<a href="https://www.debaixodosceus.pt/historiasdachuvaedovento" title="Livro Histórias da Chuva e do Vento">Histórias da Chuva e do Vento</a>” ou “<a href="https://www.debaixodosceus.pt/deusas-fadas-bruxas" title="Livro Deusas, Fadas e Bruxas">Deusas, Fadas e Bruxas</a>”, entre outras.</div> <a href="https://www.amazon.com/author/pentautores" title="Pentautores"><img alt="Logotipo" border="0" height="222" src="https://drive.google.com/uc?id=15M5nxkvgUq0qBmYk3lhJNSDodFjrqBhp" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="Logotipo" width="244" /></a> <p align="center">Os Pentautores</p> <p align="center">Clique nas imagens para saber mais sobre eles</p> <div align="center"> <table align="center" border="0" cellpadding="2" cellspacing="0"><tbody> <tr> <td valign="top"><a href="https://www.facebook.com/suzete.fraga" title="Suzete Fraga"><img alt="Suzete Fraga" border="0" height="183" src="https://drive.google.com/uc?id=1Xq6BBtfiXGo69hIJXrv2KzeVbF7pv17k" style="background-image: none; display: inline;" title="Suzete Fraga" width="164" /></a> <p align="center">Suzete Fraga</p> </td> <td valign="top"><a href="https://www.facebook.com/carlos.arinto" title="Carlos Arinto"><img alt="Carlos Arinto" border="0" height="183" src="https://drive.google.com/uc?id=1zqdHf0yAQp6dLZa49MlsoeeRywPhl-cU" style="background-image: none; display: inline;" title="Carlos Arinto" width="163" /></a> <p align="center">Carlos Arinto</p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a href="https://www.debaixodosceus.pt/about" title="Manuel Amaro Mendonça"><img alt="Manuel Amaro Mendonça" border="0" height="196" src="https://drive.google.com/uc?id=1y7O1S6iL7xCWI8_cdDIkc9QoyAmU3gkT" style="background-image: none; display: inline;" title="Manuel Amaro Mendonça" width="166" /></a> <p>Manuel Amaro Mendonça</p> </td> <td valign="top"><a href="https://www.facebook.com/jorgealexandresantos" title="Jorge Santos"><img alt="JorgeSantos" border="0" height="193" src="https://drive.google.com/uc?id=1amFkl8lOrRcg66ulW5UpqJML7GoHpDlb" style="background-image: none; display: inline;" title="JorgeSantos" width="168" /></a> <p align="center">Jorge Santos</p> </td> </tr> </tbody></table> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Toda a sessão decorreu de forma mais ou menos espontânea e informal, enquanto o autor descreveu as suas “aventuras” em terras de Alijó e dos muitos amigos que fez, com especial referência ao senhor Albano Pereira, de Casal de Loivos, ex-autarca dessa freguesia e do Pinhão, a quem atribui grande mérito na produção deste romance e ao senhor Faustino e a esposa Leonilde, proprietários da <a href="https://www.quintadojalloto.pt/" title="Quinta do Jalloto">Quinta do Jalloto</a>, em Casal de Loivos, a quem teceu rasgados elogios de hospitalidade e simpatia. </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Numa sala bem composta, a apresentação acabou por derivar nos problemas que afligem o mundo das letras, numa enorme revolução motivada pelos meios eletrónicos e nas novas gerações, no seu desinteresse pelos livros e pela escrita, completamente rendidos aos telemóveis, tablets e computadores. </div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=1WLL0ZadM14TBNPCVFnteZo0JTXoSWWDV"><img alt="iPhone - Foto 2023-04-01 16_42_16" border="0" height="484" src="https://drive.google.com/uc?id=1bbLYt1MCXqxJw-41Xt4B1zPXUUQhJ8QX" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="iPhone - Foto 2023-04-01 16_42_16" width="644" /></a><a href="https://drive.google.com/uc?id=1uTJhsm9rEwQZ4KQGwgl3P8wAIiJk3j5A"><img alt="339409560_2159902470860495_2963555878899343283_n" border="0" height="484" src="https://drive.google.com/uc?id=1uFv-H24E8NlhUnGkCW68-vfr2TkX6Rpa" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="339409560_2159902470860495_2963555878899343283_n" width="644" /></a><a href="https://drive.google.com/uc?id=1ZxJfIMU-006DEfJ9Gqxnoft_eudCKcNN"><img alt="iPhone - Foto 2023-04-01 17_04_57" border="0" height="484" src="https://drive.google.com/uc?id=1t3bA1Yiajm4bHGUYUYq5wmBaBxRS1-mU" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="iPhone - Foto 2023-04-01 17_04_57" width="644" /></a> <p> </p> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">No fim houve livros e autógrafos para quem quis, além de um pequeno lanche fornecido pela Câmara Municipal, onde não podia faltar o incontornável Moscatel de Favaios.</div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"> </div> <a href="https://drive.google.com/uc?id=15AhiHLvF1gwHxPQEEdxYA_GHyNUkP0gk"><img alt="Livros" border="0" height="484" src="https://drive.google.com/uc?id=10jQ0ywqPaKa83l5-BObe77W0H0DXsOeN" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="Livros" width="644" /></a> <p> </p> <div align="center"> <table align="center" border="0" cellpadding="2" cellspacing="0"><tbody> <tr> <td valign="top"> <p><a href="https://drive.google.com/uc?id=1U0Xq7I2w0IUhlmvRMmD-atm0MB3eH0JN"><img alt="339323006_1057408115641835_5709433510889973357_n" border="0" height="188" src="https://drive.google.com/uc?id=1HWd98inVMQuT8ofLDZMZHl_UInk3qh1G" style="background-image: none; display: inline;" title="339323006_1057408115641835_5709433510889973357_n" width="279" /> </a></p> </td> <td valign="top"> <p><a href="https://drive.google.com/uc?id=1dVyabDVHz66KijRhNInQ_UBnYWRVNGaq"><img alt="339455600_151613991169884_2189910919116477404_n" border="0" height="185" src="https://drive.google.com/uc?id=1D910_Re7VDneYjJz8j01Nm8K60Xbrrwk" style="background-image: none; display: inline;" title="339455600_151613991169884_2189910919116477404_n" width="275" /> </a></p> </td> </tr> </tbody></table> </div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Foi um dia maravilhoso e enriquecedor que tenho a certeza agradou a todos quantos nele participaram e, com toda a propriedade, encheu o Fernando Morgado de orgulho.</div> <div align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;">Um dia a reter na memória e a inscrever na carreira deste “jovem” escritor.</div> <p><a href="https://drive.google.com/uc?id=1pMKrSx_zFmyHQMasRDPayRKizCRZ4Y5x"><img alt="338594153_3412519085688440_2485890293843466838_n" border="0" height="431" src="https://drive.google.com/uc?id=15RyWerwPZBLvscw3cLRgTa3Uwoa5j1li" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="338594153_3412519085688440_2485890293843466838_n" width="644" /></a></p> <p> </p> <p>Veja o vídeo de apresentação no Youtube:</p> <div class="wlWriterEditableSmartContent" id="scid:0ABB7CC8-30EB-4F34-8080-22DA77ED20C3:4da4fa77-81b7-409d-8e3f-e3fef2aa4f15" style="display: inline; float: none; margin: 0px; padding: 0px;"><div><iframe allow="accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen="" frameborder="0" height="239" src="http://www.youtube.com/embed/mLROYZPEgec" width="425"></iframe></div></div> <p><img alt="PDDC_Square_preto_transparente" border="0" height="180" src="https://drive.google.com/uc?id=1mWHOKo3BV-OnMubS1kCKuJQ-7rs3i1uA" style="background-image: none; border: 0px currentcolor; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="PDDC_Square_preto_transparente" width="240" /></p><p>Fotos: </p><p></p><ul style="text-align: left;"><li>Fernanda Morgado</li><li>Jorge Santos</li><li>Manuel Amaro Mendonça</li></ul><p></p><p>Imagens várias retiradas do sítio do Município de Alijó</p>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-12792582135698010852023-03-29T00:11:00.003+01:002023-05-30T22:41:38.806+01:00O Mundo Pula e Avança<p> </p> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWTK7Y3fcwXfpIKbUwcs5p4LuVL7c32dv4kiJks_DSqAWV7BeoESwoQ3tO0HOvwgdro8XDM9mgMe1qTCPA25NQYJWScEh-y_avwT6o5BxlS9zgZwOJl2EcJOXnGSaVePX6KZLelBh5CsUXzhQTEteDRMtUgPHN-A93St0QZcvDQrnaano65ZzWNsC9PA/s600/8%20-%20O%20Mundo%20Pula%20e%20Avan%C3%A7a.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="338" data-original-width="600" height="345" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWTK7Y3fcwXfpIKbUwcs5p4LuVL7c32dv4kiJks_DSqAWV7BeoESwoQ3tO0HOvwgdro8XDM9mgMe1qTCPA25NQYJWScEh-y_avwT6o5BxlS9zgZwOJl2EcJOXnGSaVePX6KZLelBh5CsUXzhQTEteDRMtUgPHN-A93St0QZcvDQrnaano65ZzWNsC9PA/w614-h345/8%20-%20O%20Mundo%20Pula%20e%20Avan%C3%A7a.jpg" style="display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" width="614" /></a></div> <p align="center"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 8</strong> <br /><font style="font-size: 12pt;"></font></p> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpFirst" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Eles não sabem nem sonham</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Que o sonho comanda a vida</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">E que sempre que o homem sonha</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">O mundo pula e avança</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;"> </font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho)</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Professor e poeta português</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="right" class="MsoQuoteCxSpLast" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt 99.25pt;"><em><span><font style="font-size: 10pt;">(1906-1997)</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Apesar do choque inicial, a maioria das pessoas achou que as cabeças dos homens-macaco seriam uma boa oferenda aos deuses e não foram por isso removidas dos postes onde foram empaladas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">O inverno avançava em passos largos e os grupos de caça já regressavam com presas cada vez mais pequenas ou mesmo de mãos vazias. A neve caía, por vezes durante dias sem interrupção e havia um manto branco mais ou menos permanente a cobrir toda a paisagem.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Os cereais começavam a reduzir drasticamente e as frutas armazenadas comeram-se ou tiveram de se deitar fora por se estragarem. Temendo a fome no clã, Erem mandou convocar aqueles cuja opinião tinha em maior conta, embora o acesso fosse livre e frequentado pela maior parte dos aldeões. Em volta de uma enorme fogueira que derretera toda a neve e gelo em volta, os enregelados vizinhos foram-se acumulando, mantendo-se encostados para conservar ao máximo o calor corporal.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Na sua voz grave, Erem expôs o problema que todos tinham conhecimento; corriam o risco de não ter alimentos suficientes para sobreviver à época dos grandes frios e necessitavam de arranjar soluções.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Depois de várias vozes que se limitaram a apresentar queixas ou sublinhar as dificuldades já sentidas, pediu a palavra Alim, o mais velho dos nómadas, cujo grupo estava já completamente integrado na comunidade.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Ele começou por abordar o frio que todos sentiam nestas reuniões, que, aliás, deveriam repetir-se mais vezes sobre outros assuntos. Sugeriu que fosse construído um edifício maior onde coubessem de forma confortável os membros de um conselho que debateria o futuro do clã. Necessitariam de menos lenha para se aquecerem e os problemas das pessoas teriam um lugar onde serem apresentados para se obterem soluções.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Imediatamente se levantaram um conjunto de vozes discordantes que alegavam a incapacidade de se construir um espaço grande o suficiente, duvidavam da necessidade do mesmo ou até se queixavam do tempo que levaria a construir. No entanto, havia muitos rostos sorridentes que aprovavam a ideia.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Erem foi um dos que se interessou e pediu silêncio, fazendo sinal ao outro para continuar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Alim explicou que era o que se fazia em muitas das localidades por onde passaram e que a construção de espaços maiores do que as pequenas casas redondas que erguiam não era muito complicada. O seu filho Beki ajudara por várias vezes nessas construções que juntavam madeira encaixadas e pedras, tudo unido por lamas endurecidas. Estava certo de que conseguiriam construir algo suficientemente digno recorrendo a esses conhecimentos. O tempo para o fazer; não há caça, nem agricultura, nem frutas, de certeza que se arranjará sempre uns pares de mãos para se avançar com a obra. A necessidade da mesma era outra questão: todos sentiram uma vez ou outra dificuldade ou um assunto que deveria ser trazido ao conhecimento da comunidade e que por vezes até nem o fazia porque chovia, ou estava muito frio, ou até muito calor.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Lemi, Erem e Zia conferenciaram entre eles em voz baixa enquanto Fikri ridicularizava a ideia, secundado por alguns outros. Naci, que chegara tarde e indolentemente, aproveitou o desdém do amigo para afirmar que quem decidia o que devia ou não ser apresentado ao clã era o seu chefe e não um estrangeiro qualquer.</font><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Uma vez mais, Erem ergueu as mãos a pedir silêncio. Reafirmou que a ideia tinha interesse e iria ser discutida com ele mais em pormenor… via muitas possibilidades para essas “casas grandes” nomeadamente para um melhor armazenamento dos víveres do clã, em vez de estarem distribuídos por várias pequenas casas. O problema que os trouxe ali, no entanto, continuava sem sugestões de resolução, mas também nesse tema Alim alegava ter algo a sugerir e o chefe fez-lhe sinal para que continuasse, enquanto Lemi exigia silêncio às vozes discordantes.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">A sugestão do homem ia no sentido de se iniciar uma atividade por demais conhecida por ele e o seu grupo: o comércio; tinham pouca comida, mas havia peles e ossos trabalhados, alguns tecidos, ou mesmo um, ou outro animal. Visitariam as aldeias em redor e fariam trocas por outros itens mais vantajosos e comida. Asil poderia dar algumas das estatuetas que esculpia, Enis os tecidos que produzia, até mesmo algumas das mezinhas de Nehir se podiam trocar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Uma vez mais, Naci fez-se ouvir acima dos outros alegando que ninguém no seu juízo perfeito trocaria comida em pleno inverno, o outro, porém, tinha a resposta na ponta da língua; lembrou terem peles curtidas e arranjadas e que haveria quem trocasse animais vivos por elas, que consomem muito tempo e necessitam habilidade para ficar prontas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Mas Alim tinha mais uma surpresa; aproveitando ter deixado o seu oponente sem resposta, informou ter um presente para o chefe da tribo, enquanto se aproximava e ofertava Erem com um objeto comprido, quase do seu tamanho, enrolado em pele.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Erem desenrolou rapidamente o objeto, revelando ser um elegante arco recurvado, totalmente diferente daqueles grosseiros que quase não utilizavam devido ao pouco alcance e força obtidos. Observou cuidadosamente a obra, perante os olhares admirados da assistência e apreciou como era composto por osso, madeira e couro endurecido, formando um elemento só mantido sob tensão por uma corda de tendão. O estrangeiro sorriu-lhe e explicou, enquanto lhe entregava uma seta, que levou muito tempo a fazer aquele trabalho, porque a cola utilizada precisava secar por muitos dias. Também a seta era habilmente trabalhada, resultando numa haste direita, lisa, com algumas penas na parte de trás e uma reluzente ponta de cobre.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">A assistência abriu um caminho, sem que fosse preciso pedir, assim que o chefe em gestos lentos preparou-se para disparar a elegante arma.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Erem apreciou a tensão obtida no arco e esticou o máximo que pode, sempre pronto para ouvir o conhecido estalo que significava a destruição por esforço do utensílio. Não conseguiu, porém, que o objeto se partisse; estava já a ficar sem força para esticar muito mais quando soltou a corda e um velocíssimo projétil voou com um silvo pelo espaço aberto pela comunidade, desaparecendo de vista depois das últimas casas da aldeia. Algumas crianças saíram a correr a persegui-lo, apesar dos gritos de dissuasão das mães, para que não se afastassem, pois começava a escurecer. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">Um clamor de espanto e admiração ecoou por toda a assistência, enquanto falavam entusiasticamente uns com os outros. Aquela era uma arma fantástica; poderiam caçar animais de distâncias maiores, antes que eles se apercebessem nem sequer da sua presença. Entre a alegria e excitação, ninguém se apercebeu do olhar rancoroso de Naci, que abandonou a reunião logo seguido por Fikri.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">As novas ideias eram bem recebidas pelo chefe do clã e pela maior parte dos seus elementos, ajudava a isso a presença de estrangeiros das outras aldeias, que começava a ser frequente, fruto da admiração pela construção do santuário. Começavam a ser encarados com alguma naturalidade os grupos que vinham ajudar na construção por um ou dois dias, trazer oferendas ou simplesmente rezar aos deuses. Alguns fixavam-se em tendas nos arredores, com autorização do chefe, embora com o aviso de que teriam de respeitar as determinações do chefe, não teriam a palavra nas reuniões do clã, nem teriam acesso à distribuição de alimentos que era feita aos doentes, velhos e órfãos. Mas mesmo assim, isso representava uma ofensa para Naci e um reduzido rol de descontentes que desprezavam os estrangeiros e os seus conhecimentos.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">As sugestões de comércio de Alim produziram o resultado necessário e poucos dias após partir com mais três homens e dois trenós carregados de bens, ele regressou com várias cabras, ovelhas e cereal. Ficou muito feliz ao deparar com a construção de um grande edifício a decorrer no extremo do casario. O progresso chegara a Barinak, que quer dizer santuário, o nome pelo qual começava a ser conhecida a aldeia nas redondezas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">O inverno estava no seu pico. A neve depositava-se sobre neve tornando as deslocações difíceis, alguns dos estrangeiros que visitavam o santuário, procuravam Asil pelas suas estatuetas em madeira que trocavam por objetos decorativos e até já havia encomendas para objetos de maior tamanho que seriam pagos com algumas cabras ou mesmo meio javali. Alguns queixavam-se de serem atacados e roubados no caminho para Barinak, outros diziam ter conhecimento da morte de um ou outro “peregrino”. Além de penosas, as viagens tornavam-se perigosas.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p align="justify" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 6pt; text-indent: 36pt;"><font style="font-size: 12pt;">O Clã do Leão das Montanhas florescia em pleno inverno, quando a maioria apenas sobrevivia, mas os velhos inimigos não dormem. Uma noite, envolvido na escuridão, um estranho bando invadiu a aldeia e matou dois dos estrangeiros que residiam nos arredores, feriu com gravidade uma mulher do clã e roubaram toda a carne pendurada a secar. Entraram numa das casas onde estava armazenado cereal e levaram o que puderam, espalhando e espezinhando o restante pelo chão. Os homens-macaco haviam chegado.</font><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p> </p> <p> </p> <table border="0" cellspacing="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p align="center"> </p> <a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/02/a-obra-nasce.html" title="Parte 7 - A Obra Nasce"><img alt="7 - A Obra Nasce" border="0" height="163" src="https://drive.google.com/uc?id=13lb-LMRp1MT3lgbGBlT9oRJCz7Z3oxDl" style="background-image: none; display: inline;" title="7 - A Obra Nasce" width="244" /></a> <p><font color="#00ff00"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/02/a-obra-nasce.html">Parte 7 – A Obra Nasce</a></font></p></td><td align="center"> <p align="center"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk-yJKmFTgzUvex3cmj5uU4HwlLsPL0Bx91IqmxG08XK2qcOX1auiYtzMSnK-5Hu9syVjK7wafv4yx0lJIEjjm_yc4-avYytS8NpGDr8sVb0qP1lzQ1biKVn-6lKNTB4OeMorZqBkwufuyaJAJpZqT6cbnmzaK_v56romQpi3dHtE8PHV8d3rxLhXzew/s714/9%20-%20Velhos%20Inimigos.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="636" data-original-width="714" height="165" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjk-yJKmFTgzUvex3cmj5uU4HwlLsPL0Bx91IqmxG08XK2qcOX1auiYtzMSnK-5Hu9syVjK7wafv4yx0lJIEjjm_yc4-avYytS8NpGDr8sVb0qP1lzQ1biKVn-6lKNTB4OeMorZqBkwufuyaJAJpZqT6cbnmzaK_v56romQpi3dHtE8PHV8d3rxLhXzew/w230-h165/9%20-%20Velhos%20Inimigos.jpeg" width="230" /></a></div><span style="color: #80ff00; text-align: left;"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/04/velhos-inimigos.html">Parte 9 – Velhos Inimigos</a></span><p></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html" title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução"><img alt="Na Madrugada dos Tempos" border="0" height="135" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" style="background-image: none; display: block; float: none; margin-left: auto; margin-right: auto;" title="Na Madrugada dos Tempos" width="244" /></a> <p align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html" title="Introdução"><font color="#00ff00">Introdução – Na Madrugada dos tempos</font></a></p> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-41806894129022856762023-02-28T07:58:00.001+00:002023-03-29T08:16:51.443+01:00A Obra Nasce<p><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwLA2vdAdxItmHmlDIWNuJ2vJM1Hc8PdM3z8xibd3418TOZx6MMGDWKBSBumXoXEIvvk7R8dmcqqz30penE5QmuLcLhb7SMZ2MdRAdfdZ9dQgriRKdzVN56gcVSQy-7SEDhi8r-dzpO_nxLmXullrYIO9TQgI9FTxQAUQaXNJy63wRz7pEb_htmVy5-w/s1280/7%20-%20A%20Obra%20Nasce.jpg" imageanchor="1"><img style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block;" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhwLA2vdAdxItmHmlDIWNuJ2vJM1Hc8PdM3z8xibd3418TOZx6MMGDWKBSBumXoXEIvvk7R8dmcqqz30penE5QmuLcLhb7SMZ2MdRAdfdZ9dQgriRKdzVN56gcVSQy-7SEDhi8r-dzpO_nxLmXullrYIO9TQgI9FTxQAUQaXNJy63wRz7pEb_htmVy5-w/s320/7%20-%20A%20Obra%20Nasce.jpg" width="493" height="328" data-original-height="850" data-original-width="1280" /></a></p> <p align="center">Na Madrugada dos Tempos – Parte 7</p> <p align="center"> </p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Deus quer, o Homem sonha,</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">A obra nasce.</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;"> </font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Fernando Pessoa</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">Escritor português</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoQuoteCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 6pt 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><em><span><font style="font-size: 10pt;">(1888-1935)</font></span></em></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"> </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">O pequeno grupo de nómadas estabeleceu-se na aldeia e gradualmente, o clima de desconfiança da maioria dos vizinhos desvaneceu-se. Claro que havia exceções, sendo as mais conhecidas Fikri e Naci, a que se juntava Cemil, um dos irmãos de Erem, que continuavam a desprezar os recém-chegados. Acreditavam que eles eram deserdados da sorte, sem casa e atacados por todos, porque não tinham o favor dos deuses e estes não iriam gostar que os acolhessem. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Naci estava principalmente sensível devido ao estado de saúde da sua mulher Su, que nunca recuperara completamente desde o ataque aos homens-macaco. Nehir lograra fechar o ferimento, mas ocasionalmente atacavam-lhe “uns calores” muitos fortes e caía desacordada com o corpo todo a ferver. Nessas alturas, a curandeira passava o dia inteiro a tentar baixar-lhe a temperatura com folhas de videira molhadas na testa e fazendo-a engolir pastas de alho e mel para combater os maus espíritos do corpo, mas após cada uma dessas crises, ela estava mais fraca que antes.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Ignorando as vozes discordantes, vários aldeãos emprestaram peles e ajudaram os nómadas a erguer quatro tendas nos limites da povoação. Como agradecimento, a noite fria em volta da fogueira foi abrilhantada por Beki e os irmãos que fizeram um pequeno espetáculo de malabarismo e dança. O ritmo era mantido pelo bater sobre peles esticadas em vimes entrançados num círculo. Todos ficaram extasiados pelas cabriolas acrobáticas dos jovens, pela percussão e pelas cantigas das mulheres. Gritos de alegria e assombro ecoaram na noite sob o límpido teto de veludo ponteado a prata antes de todos irem descansar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Nos dias seguintes, Erem avisou Alim que se esperava deles a participação em todas as atividades da comunidade e, entre elas, a construção do santuário. Todos os que tivessem força para levantar um pote de barro cheio de água teriam de ser recrutados para as tarefas. Foi uma forma de os integrar e dar mais confiança.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Após consultar os astros e conferenciar com as outras mulheres, Zia anunciou a chegada da Noite das Sombras, que marcava o início da estação fria<a title="" style="mso-footnote-id: ftn1;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;">[1]</span></span></span></span></a>. Nesta noite, dizia-se, os espíritos dos que já se foram podiam vaguear entre mundo das sombras e o dos vivos. Havia até quem afirmasse que, nas noites de nevoeiro, podiam-se distinguir as fogueiras do lado das sombras. Era uma noite de apreensão, pois representava o fim do período de maior abundância de caça e frutas. Os cereais estavam já moídos em farinha que se esperava que aguentasse muitos meses e as cabras e ovelhas mais velhas abatidas e a sua carne seca para consumir durante o inverno. As peles e os ossos resultantes da matança armazenaram-se para utilização futura. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Zia preparava a cerimónia que daria as boas-vindas ao inverno; a época dos dias frios em que o sol dava mostras de morrer e no coração de todos ficava o medo de que não voltasse. Em volta dos ídolos de <i>Swol</i> e <i>Mensis</i> já se erguiam quatro imponentes megálitos, dos vinte e quatro previstos. As pedras eretas foram coroadas com ramos de oliveira e colocaram-se coroas e folhas nos locais onde se previam erigir as restantes. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Desde o início da construção existiu grande polémica acerca do número de pedras a erguer no santuário e se no início pensaram apenas em dezasseis, cedo começaram as discussões se não deveriam, isso, sim, representar toda a aldeia e erguer uma pedra por cada um. Nem assim chegavam a acordo, pois, se nascesse alguma criança, teriam de erguer rapidamente outra pedra, ou retirar se morresse alguém. As discussões em redor da fogueira por vezes eram apaixonadas e se uns achavam serem precisas muitas para honrar os deuses, outros havia que não queriam arrastar mais do que as estritamente necessárias… ou mesmo nenhumas. Por fim, foi Lemi quem deu a solução para resolver o dilema; cada homem tem dez dedos nas mãos e a mulher, porque um homem não deve viver sozinho, tem outros tantos dedos. Não teriam uma pedra para cada homem e cada mulher, mas apenas duas vezes dez pedras, isso simbolizava todo o clã, o número de dedos com que produzem tudo o que necessitam para sobreviver! Após uns segundos a “digerir” a ideia, ergueu-se um clamor de aprovação de toda a audiência. Zia acalmou-os erguendo as mãos e pedindo a palavra: “Concordo com as vinte pedras.” — Informou ela erguendo a voz acima do burburinho. — “Mas acrescento quatro! Quatro pedras que definirão esse círculo de dez mais dez e defini-lo-ão da mesma forma que é marcado e definido o círculo da nossa vida. Como nascemos, crescemos, amadurecemos e morremos, também <i>Swol</i> assim é. Renasce ao fim de muitos dias moribundo e começa a ganhar força, a erguer-se no céu e a trazer a luz por mais tempo, trazendo o cio nos dentes e despertando a caça. Depois reina sobre o céu, inchando os dias com luz e calor, dourando as espigas e chamando as grandes manadas de auroques e bisontes. Mais tarde começa a perder a força, no período das colheitas, enquanto se aproxima do fim da terra, até ficar moribundo. Fica depois quase morto com a chegada dos grandes frios, quando as sombras ameaçam a luz e trazem a incerteza do seu renascimento… quatro pedras do ciclo da vida de <i>Swol</i>.”</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Zia era a autoridade incontestável na marcação dos dias e todos confiavam cegamente nas suas indicações de quando era a época para deitar as sementes à terra, quando haveria mais abundância de caça ou quando seria a altura de o rio transbordar. Com os muitos conhecimentos passados de pais para filhos, ela possuía uma pele onde estavam meticulosamente atados um conjunto de ossos e paus enfileirados que era um dos seus guias. Por ali conseguia seguir as fases da lua e complementava as suas medições com a observação do tamanho das sombras projetadas por um pau espetado no chão para distinguir os solstícios e os equinócios. A mulher, munida daquele compêndio dos saberes dos antigos, era um calendário vivo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Dos quatro grandes monólitos que começavam a demarcar o círculo, o último, erguido apenas no dia anterior e era o que representaria o início da estação dos grandes frios, a morte de <i>Swol</i><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2" name="_ftnref2"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;">[2]</span></span></span></span></a>. Estava perfeitamente alinhado com o sol do meio-dia e a sua sombra alongada tocava o ídolo correspondente ao astro-rei no centro do complexo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Zia fazia-se acompanhar de uma Su débil e insegura, que ninguém conseguira demover de colaborar na preparação das cerimónias. A sogra obrigava-a a que estivesse sentada a entrançar as plantas para as coroas, enquanto as restantes mulheres iam recolhê-las entre as árvores da floresta. Apesar do frio que já dominava, aquele dia mostrava-se com um sol invulgarmente quente que fazia transpirar os laboriosos celebrantes.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Su, tendo terminada uma pequena coroa verde que adornou com alguns fios dourados de feno, ergueu-se e caminhou até ao local onde haviam enterrado Ediz. A terra remexida, na sombra de um dos megálitos, ainda estava húmida pela geada noturna e a rapariga baixou-se para pousar a singela homenagem no lugar onde estaria a cabeça do guerreiro. Quando se ergueu, sentiu que todo o mundo começara a correr à sua volta e as enormes pedras rodopiavam e cabriolavam ameaçando cair sobre ela. A cabeça parecia explodir com uma dor insuportável e soltou um grito lancinante antes de cair desacordada.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Quando Naci chegou com os grupos que arrastavam os grandes toros de lenha para a fogueira no santuário, já a sua jovem esposa havia partido deste mundo. Ele soltou gritos furiosos, com os olhos injetados de sangue, empurrou quem o tentou acalmar e nem mesmo a mãe conseguiu que sossegasse. Entrou como um ciclone na sua casa, fazendo fugir as mulheres que velavam e ajoelhou-se banhado em lágrimas ao lado do corpo débil e sem vida da companheira. Saiu depois a correr cegamente na direção da floresta gritando imprecações contra os deuses.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Ficava assombrada com tal perda a celebração do primeiro dia de inverno. Alguns diziam que uma morte no recinto do santuário não era um bom presságio, mas logo outros contrapunham que ela morrera na sua casa e não ali e, mesmo que assim não fosse, não era aquele também um monumento aos mortos? Embora com muito menos ânimo, resolveram continuar com os preparativos.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Erem, que começava a ficar preocupado com Naci, mandou dois homens procurá-lo, mas eles voltaram passado algum tempo sem o encontrarem. Acrescentaram que ele era um caçador experiente e conhecia bem as florestas e, se não quisesse ser encontrado não seria. Com a noite a cair, Zia estava preocupada porque o cadáver de Su não devia ficar insepulto depois do por-do-sol. Se isso acontecesse, ela não conseguiria encontrar o caminho para as grandes pastagens nos braços da <i>Da Matter</i><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn3" name="_ftnref3"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;">[3]</span></span></span></span></a>e ficaria eternamente a vaguear sobre a terra como um <i>Ansu</i><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn4" name="_ftnref4"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;">[4]</span></span></span></span></a><i> </i>perdido.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">A sacerdotisa tomou a iniciativa e mandou que fossem buscar a infeliz para o santuário; ficaria ali sepultada, no local onde tanto se esforçara para estar. Os filhos Zilo e Nali, o rapaz com quatro e a rapariga com dois anos, assistiram tristemente ao sepultamento abraçados pelas tias. A avó cantou as orações rituais presididas pelo olhar atento do avô, após o que todos caminharam sobre a sepultura acabada de tapar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Os últimos laivos de luz desapareceram no horizonte e a noite aparecia fria, com um ar fino e gélido e a Lua Nova impercetível no céu. Um murmúrio de espanto e receio percorreu os aldeãos assim que se aperceberam de dois pequenos grupos com seis ou sete homens e mulheres cada, composto apenas por estrangeiros que se aproximaram timidamente do santuário. Lemi, encabeçando uma improvisada segurança com vários elementos do clã, questionou as intenções dos recém-chegados que exibiram algumas oferendas compostas por coroas de flores secas, peles e mesmo cabritos. Eram oriundos de duas aldeias próximas e pretendiam assistir à cerimónia, algo a que Erem assentiu com um gesto magnânimo.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">A audiência amontoou-se vocalizando um som profundo e gutural, em volta do círculo definido pelas pedras já erguidas e os locais das próximas. Archotes compridos, feitos de vimes secos e gordura animal, crepitavam e pingavam no chão onde estavam espetados, deixando a audiência numa penumbra irreal. Iluminada pela luz bruxuleante da grande fogueira, Zia orou ao Sol para que voltasse e não abandonasse os seus filhos, enquanto a noite se enchia de pequenos pontos brilhantes e a Via-Láctea impressionava como um imenso rasgão no céu. A percussão nas peles esticadas sobre as coroas de vimes fazia tremer o peito e aumentava o temor e o sentimento de reverência pelos deuses. </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Com maestria, a sacerdotisa espetou a faca de sílex no pescoço de uma pequena cabra e sangrou-a para um recipiente de barro. Em seguida aspergiu as chamas e a assistência com o sangue obtido gritando para os céus que aquela era uma oferta dos filhos de Sol que pediam para que regressasse rápido e trouxesse o ventre cheio de caça e espigas douradas. Dois dos rapazes mais jovens aproximaram-se dela sendo marcados em ambas as faces com três dedos ensanguentados, após o que voltaram o cadáver da cabrita de patas para cima expondo o ventre para Zia. A mulher do chefe fez um corte profundo expondo as entranhas do animal, sem as cortar. Extraiu os intestinos e todos os órgãos da carcaça, distribuindo-os cuidadosamente por vários recipientes, deitando especial atenção ao coração e ao fígado, que cortou em vários pedaços, chegando mesmo a comer alguns. Ergueu-se depois, com os braços abertos ao céu, as mãos escorrendo sangue e gritou: — <i>Swol</i> voltará! Vem aí muito frio, chuva e neve, onde Ele parecerá moribundo e ausente, mas não esquecerá os seus filhos e regressará para nós! <i>Swol</i>! — Gritou por três vezes, recebendo o eco de felicidade de toda a audiência.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Com o sangue recolhido, a sacerdotisa marcou cada um dos monólitos com uma mão carmim de dedos bem abertos.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Durante toda a cerimónia, o chefe do clã não tirava os olhos da orla da floresta, sempre esperando ver regressar Naci.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Quando todos se recolhiam, Zia queria organizar buscas pelo filho, mas foi Erem quem a desencorajou. Na busca por Naci, no meio da floresta e na escuridão, arriscavam-se a perder mais alguém.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">— Por muito que me custe — o chefe sentenciou com as lágrimas nos olhos —, ele é um homem feito e um dos nossos melhores caçadores e pisteiros. Sabe para onde foi e saberá encontrar o caminho de volta… se quiser voltar.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">A noite para ambos foi insone; de olhos abertos e em silêncio, sempre a esperar ouvir os cães a assinalar a chegada de alguém. Acabaram por adormecer completamente esgotados para serem chamados às primeiras horas do dia. Naci havia chegado e estava no santuário.</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;">Correram para lá; o filho de ambos, com o rosto marcado por vários pequenos cortes e equimoses, estava embrulhado numa grossa pele de urso e sentado ao lado da sepultura da mulher. Na entrada do santuário, havia duas estacas exibindo as cabeças decepadas de dois homens-macaco.</font><span style="mso-bidi-font-size: 12.0pt; mso-fareast-language: pt;"><font style="font-size: 12pt;"> </font></span></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div style="line-height: normal; mso-element: footnote-list;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font> <hr style="border-color: rgb(0, 0, 0); margin-top: 8px; margin-bottom: 8px;" align="left" size="1" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;"><font style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Refere-se ao solstício de inverno, 20/21 de dezembro</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2" name="_ftn2"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;"><font style="font-size: 10pt;">[2]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Refere-se ao solstício de inverno, 20/21 de dezembro </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn3" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref3" name="_ftn3"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;"><font style="font-size: 10pt;">[3]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Deusa mãe</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn4" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref4" name="_ftn4"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-theme-font: minor-latin; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-language: en-us; mso-ansi-language: pt; mso-bidi-language: ar-sa;"><font style="font-size: 10pt;">[4]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Espírito</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p> </p> <p> </p> <p> </p> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p align="center"> </p> <a title="Parte 6 - Os Outros Homens" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/01/os-outros-homens.html"><img title="6 - Os Outros Homens" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="6 - Os Outros Homens" src="https://drive.google.com/uc?id=1NVqh6MuyrVG4Rrmhw6nguiNscccLlZVl" width="244" height="139" /></a> <p><font color="#00ff00"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/01/os-outros-homens.html">Parte 6 – Os Outros Homens</a></font></p> <p align="center"></p> </td> <td align="center"><a title="Parte 8 - O Mundo Pula e Avança" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/03/o-mundo-pula-e-avanca.html"><img title="8 - O Mundo Pula e Avança" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="8 - O Mundo Pula e Avança" src="https://drive.google.com/uc?id=1kt6jCbjLC3RzuB-DBOlz71ifWD1Ijot1" width="244" height="139" /></a> <p><font color="#80ff00"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/03/o-mundo-pula-e-avanca.html">Parte 8 – O Mundo Pula e Avança</a>       </font></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="244" height="135" /></a> <p align="center"><a title="Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><font color="#00ff00">Introdução – Na Madrugada dos tempos</font></a></p> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-89237634936614510682023-02-17T08:27:00.000+00:002023-02-17T08:33:55.231+00:00Obrigado a todos os leitores<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiGX3D1CciO9auIA4wHPQOLQ3DqMOSaK-GwdnfFr9U6T7wO-82ScBoilXzhM04iYLzsUYYMJUvdb5HNkpgvJ6XQBKlD9JUNMjqeXWp3MBZzRiIm6NNHt42mpabNYDbxjcST7qcP6iFITwFIM9rU03i73Cwme7lH-Wh_O1rxvil2Rp-ob1XKQoGx9oarEg"><img alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/a/AVvXsEiGX3D1CciO9auIA4wHPQOLQ3DqMOSaK-GwdnfFr9U6T7wO-82ScBoilXzhM04iYLzsUYYMJUvdb5HNkpgvJ6XQBKlD9JUNMjqeXWp3MBZzRiIm6NNHt42mpabNYDbxjcST7qcP6iFITwFIM9rU03i73Cwme7lH-Wh_O1rxvil2Rp-ob1XKQoGx9oarEg" width="320" height="117" data-original-width="318" data-original-height="116" /></a></div> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;">Este meu blogue, onde partilho convosco muitos dos meus trabalhos, atingiu as 45 000 visualizações.</div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;">Obrigado por lerem o os frutos da minha imaginação.</div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;">Um abraço e boas leituras.</div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEii58i-JvyP98hm3lTzhZFppqifYmK7pTLRwL6CCc28CH8yhOVpCCXffPcjFeAI-yP310z5VedBxQ78_EQvwAgf3_Iajo_hbeCXOy3E4Ey_59GcBxZTBEK7dJv4iQRwoGcNYqTuCI3RZq6JWGyIAGqkVjx9ldFAvr3-KZxoOiHj8hmnXuIkrgwlPwl-fg/s987/Capa%20principal%20Terras%20de%20Xisto%202a%20Edi%C3%A7%C3%A3o.jpg" imageanchor="1"></a></div> <div> <br /></div> <table cellspacing="0" cellpadding="2" border="0"><tbody> <tr> <td valign="top"><a title="Terras de Xisto e Outras Histórias" href="https://www.debaixodosceus.pt/terras-de-xisto"><img title="Capa principal Terras de Xisto 2a Edição" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Capa principal Terras de Xisto 2a Edição" src="https://drive.google.com/uc?id=1_snfAEmYFp0gUzfFuq2rEbn2Svo7UVz4" width="148" height="205" /></a></td> <td valign="top"><a title="Lágrimas no Rio" href="https://www.debaixodosceus.pt/lagrimas-no-rio"><img title="Capa principal Lagrimas no Rio 2a Edição" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Capa principal Lagrimas no Rio 2a Edição" src="https://drive.google.com/uc?id=1n3j3_CQRSMOuC_MrtzwGMpM-1y1XOZ40" width="138" height="207" /></a></td> <td valign="top"><a title="Daqueles Além Marão" href="https://www.debaixodosceus.pt/daqueles-alem-marao"><img title="CapaFrenteDaquelesAlemMarao" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="CapaFrenteDaquelesAlemMarao" src="https://drive.google.com/uc?id=1qEmilLtdXXaaXXrRFFATYV2aKxYJWMga" width="136" height="199" /></a></td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Entre o Preto e o Branco" href="https://www.debaixodosceus.pt/entreopretoeobranco"><img title="CapaFrenteEntreO PretoEOBranco" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="CapaFrenteEntreO PretoEOBranco" src="https://drive.google.com/uc?id=1Jv-KC-Y0K0xJu26tVjnjMeXrU_72CQrF" width="157" height="223" /></a></td> <td valign="top"><a title="A Caixa do Mal" href="https://www.debaixodosceus.pt/a-caixa-do-mal"><img title="A Caixa do Mal Capa frente " style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="A Caixa do Mal Capa frente " src="https://drive.google.com/uc?id=1XacJX62fA70BAg2-SBfngH1lFjLaazjT" width="148" height="220" /></a></td> <td valign="top"><a title="Na Sombra da Mentira" href="https://www.debaixodosceus.pt/na-sombra-da-mentira"><img title="Capa principal Na Sombra da Mentira" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Capa principal Na Sombra da Mentira" src="https://drive.google.com/uc?id=1UPOwXuvayywIuHPI_QAKc661i8UXeDoh" width="145" height="220" /></a></td> </tr> </tbody></table> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;"> </div> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKUiIei4KzxhgqK5WgcnPaEwi2yfT5sRGa2YDhzSUne44Mo-gFmtFE8aALX53rYPehrqfTmTCNrtXPhpql7YLwp6gPTJDZt57xliXx-1pPPOHWZLPa2SulD8zncqBBfSPgBu2JTJ2NWDKa-Ym4JQ4tMCQLNZ1UFGIvQtsrE049kekAYjVyg6zTpVhClg/s454/PDDC_Square_Transparente.png" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgKUiIei4KzxhgqK5WgcnPaEwi2yfT5sRGa2YDhzSUne44Mo-gFmtFE8aALX53rYPehrqfTmTCNrtXPhpql7YLwp6gPTJDZt57xliXx-1pPPOHWZLPa2SulD8zncqBBfSPgBu2JTJ2NWDKa-Ym4JQ4tMCQLNZ1UFGIvQtsrE049kekAYjVyg6zTpVhClg/s320/PDDC_Square_Transparente.png" width="320" height="320" data-original-width="454" data-original-height="454" /></a></div> <div> <br /></div> <div class="separator" style="text-align: left; clear: both;"> </div>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-32936589912592201782023-01-29T00:01:00.000+00:002023-02-28T08:10:55.620+00:00Os Outros Homens<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHeRf9iNZQEv1o_RGq24NaLtoDYLY6GmraF51DBGCyvkmFMVcyryGonntn53vzosvME5LrZGdIF6hUAOoIlhoTryQZTBMNYQMDIHFdrHnMSTkg0ilv3168XBplyJ2Y7Fl8x3ghVMmAc2YISSlkijKd5XMbJwduJ8tpQtgWkq70XWfdCabZC6-WBUki5A/s1280/6%20-%20Os%20Outros%20Homens.png" imageanchor="1"><img style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block;" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHeRf9iNZQEv1o_RGq24NaLtoDYLY6GmraF51DBGCyvkmFMVcyryGonntn53vzosvME5LrZGdIF6hUAOoIlhoTryQZTBMNYQMDIHFdrHnMSTkg0ilv3168XBplyJ2Y7Fl8x3ghVMmAc2YISSlkijKd5XMbJwduJ8tpQtgWkq70XWfdCabZC6-WBUki5A/w640-h360/6%20-%20Os%20Outros%20Homens.png" width="640" height="360" data-original-width="1280" data-original-height="720" /></a></div> <p align="center"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 6</strong> <br /></p> <blockquote> <p align="right"><em><font face="Georgia">O espírito de propriedade duplica a força do homem.</font></em> </p> <p align="right"><em><font face="Georgia">Voltaire</font></em> </p> <p align="right"><em><font face="Georgia">Filósofo francês</font></em> </p> <p align="right"><em><font face="Georgia">(1694-1778)</font></em></p> </blockquote> <div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia" font="font"> <p><font face="Georgia">Imbuído de uma força de vontade impressionante, o novo local de oração do Clã do Leão das Montanhas começou a ganhar forma. Nehir e Zia, reconhecidas pelos seus conhecimentos astronómicos, marcaram a primeira pedra para que ficasse apontada às estrelas-que-guiam; o conjunto das estrelas mais brilhantes do céu que formam um retângulo que parece arrastar três outras</font><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1_2497" name="_ftnref1_2497"><font face="Georgia">[1]</font></a><font face="Georgia">, indicaria o <i>Ner</i></font><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2_2497" name="_ftnref2_2497"><font face="Georgia">[2]</font></a><font face="Georgia">. Mais três outras pedras assinalariam <i>Swol</i></font><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn3_2497" name="_ftnref3_2497"><font face="Georgia">[3]</font></a><font face="Georgia">, <i>Hewsos</i></font><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn4_2497" name="_ftnref4_2497"><font face="Georgia">[4]</font></a><font face="Georgia"> e outra <i>Wes</i></font><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn5_2497" name="_ftnref5_2497"><font face="Georgia">[5]</font></a><font face="Georgia">, teriam assim um santuário perfeitamente alinhado com as divindades. Usaram uma corda de tendões entrançados, com o comprimento de três homens e amarraram o ídolo central, caminhando depois em volta dele; assim desenharam o círculo onde iriam erguer os seus monólitos. Terminaram os preparativos com um sacrifício onde abriram duas lebres nas entranhas das quais Zia leu o futuro que parecia ser auspicioso. Naquela noite, após ofertarem pelo fogo as entranhas de algumas cabras, banquetearam-se na presença dos deuses.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">A cada quatro noites, que é o número das estrelas-guias, um grupo de quatro mais quatro homens e mulheres eram escolhidos para retomar o trabalho onde grupo anterior o interrompera. A equipa chefiada por Nehir percorria os montes até encontrar a pedra da qualidade e tamanho certos que era depois desbastada com recurso a pedaços de basalto. Assim que estivesse pronta, era arrastada pela paisagem num enorme trenó de madeira; por vezes os obstáculos eram tão formidáveis que precisavam recorrer a ajuda adicional da aldeia. Por fim, chegados ao local da construção, abriam uma cova com cerca de um quarto da altura da pedra, onde depositavam a extremidade mais volumosa. O monólito era depois erguido com alavancas de madeira e puxado por grossas cordas trançadas com fibras vegetais. As pás de osso das omoplatas de burros e as picaretas de cornos de bisonte trabalhavam incessantemente a abrir covas e a endireitar o chão.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Menos de vinte dias depois do ataque aos homens-macaco, morreu Ediz. Há algum tempo que jazia na enxerga coberta de peles sem dar acordo de si e o ferimento na barriga, por mais esforços que Nehir fizesse, estava com mau aspeto e exalava um odor forte e desagradável. Nos últimos dias em que ainda mantinha a consciência pedira para ficar no santuário que estavam a construir. Foi numa tarde dominada por um vento gelado que o corpo do guerreiro, agora quase só pele e osso, foi depositado na terra aos pés dos ídolos do sol e da lua. Ao pescoço levava o colar de couro adornado com os dentes de vítimas das suas muitas caçadas e a seu lado depositaram a lança e a faca de sílex. O seu saco de couro continha as habituais oferendas com comida e bebida para a viagem que faria para o mundo das sombras. Cobriram-no com alguns seixos do rio, mas maioritariamente com os retraços do desbaste dos monólitos, antes de cobrir tudo com a terra endurecida do frio. Zia, entre lágrimas, em pé em cima do túmulo recente, proferiu um grande elogio ao irmão perdido, encorajando os outros a seguir-lhe o exemplo. Depois todos se recolherem às suas casas onde os aguardava o aconchego da fogueira. Ediz deixava a jovem Ayla sozinha com duas crianças ainda pequenas.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Conforme esperado, o frio crescente trazia a escassez de caça e os caçadores precisavam de cobrir áreas cada vez maiores. Mesmo os mamutes eram raros, em grupos pequenos e mais vigilantes; não permitiam a aproximação dos humanos. As expedições, que era raro durarem mais de um dia, agora prolongavam-se o dobro e às vezes o triplo. Para juntar às preocupações de Erem, os caçadores informaram que foram vistos outros grupos de humanos na área e que haviam seguido um deles em direção a poente onde se depararam com um povoado. Possuía tendas e casas de pedra com alguns invernos de existência. Afinal, já não estavam sozinhos nas montanhas.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Quando chegou a vez de Erem incluir um grupo de caça, decidiram seguir em direção a sul e evitar a proximidade do outro povoado; iriam até à Pedra do Leão da Montanha para rever a enorme planície do lago salgado de onde haviam partido há dez invernos. Foi uma desilusão, porém, já não conseguiram sequer encontrar o promontório de onde se despediram de Birol e o seu clã. Os pontos de referência e toda a planície que esperavam ver, estavam agora debaixo de uma descomunal massa de água que se estendia a perder de vista… se as águas continuassem a subir daquela maneira, todo o mundo desapareceria em breve.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Vaguearam um pouco pelas margens e entraram pelo lado nascente de um povoado onde foram olhados com alguma desconfiança. Eram bastantes as habitações de pedra, algumas compridas e com esquinas, em vez de simplesmente redondas, como as que conheciam e faziam. Os habitantes vestiam maioritariamente roupas de linho e lã, em vez das peles costuradas que Erem e os seus usavam. Tratava-se de uma população muito numerosa, a avaliar pelo número de construções e pelos bandos de crianças que os cercaram e seguiam, rindo e fazendo troça das suas roupas grosseiras, até se cansarem e desparecerem. Havia muito peixe e pouca carne a secar junto das casas. No meio das águas, alguns homens sentados no que pareciam bocados de madeira, pescavam calmamente com canas, outros em pé sobre plataformas faziam-no com lanças. Quando por fim chegaram ao limite poente da extensa aldeia, havia uma azáfama com várias dezenas de homens e mulheres, uns arrastando troncos, outros a apará-los e outros ainda a erguê-los numa fila ininterrupta que já se estendia há umas dezenas de metros. Os buracos feitos no chão pareciam indicar que preparavam uma parede em volta do casario.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Não tardou que fossem abordados por um grupo de homens armados de lanças e arcos que transportavam no braço um grande pedaço de couro redondo.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">O que parecia ser o chefe interpelou-os numa fala áspera, que se compreendia com dificuldade. Queria saber quem eram e o que estavam ali a fazer. Erem assumiu o seu papel de líder e explicou que eram uma expedição de caça de uma aldeia situada a uns dias de viagem de costas para o sol. Depararam com a povoação por puro acaso.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">O comandante dos guerreiros olhou-os um a um com desconfiança antes de sentenciar: — Não têm nada a fazer por aqui se não vêm fazer trocas. Vão-se embora depressa. — Ele apontou o caminho para fora da aldeia com a lança, cuja ponta rubra e reluzente chamou a atenção de Erem.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Mas… não entendo. — Contestou este enquanto os seus homens tomavam posições defensivas perante os outros que ameaçavam cercá-los. — Estamos só de passagem, não estamos a fazer mal nenhum…</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Fomos atacados várias vezes nos últimos dias por gentes vindas desses lados. — Explicou o chefe. — Por isso estamos a erguer as nossas defesas e não queremos cá estranhos. Vão-se embora, rápido!</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Aborrecidos por serem enxotados como ratos, obedeceram à ordem e iniciaram o regresso à sua própria aldeia. Pelo caminho conseguiram encontrar um numeroso grupo de auroques. Isolaram, perseguiram e mataram um velho macho … com mais de quinhentos quilos de carne para levar para o seu povo, a caçada compensara. Desmancharam a carcaça rapidamente, antes que o cheiro a sangue fresco atraísse predadores perigosos e distribuíram o peso entre eles. Tinham de se deslocar rapidamente, um urso poderia ser um adversário formidável e não se coibiria de os enfrentar, apesar de estar em inferioridade numérica, mas também as hienas das cavernas ou mesmo leões se podiam atrever contra grupos de humanos.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Quando, com alívio, chegaram à aldeia, Erem comentou com os seus companheiros como se tornava evidente que havia uma anormal falta de caça. A aproximação do inverno provocava naturalmente uma redução de animais disponíveis, mas cada nova estação o seu número parecia menor. Recordavam-se que, nos primeiros anos da separação do clã de Birol, avistavam-se algumas manadas de mamutes e atualmente apenas esporádicos grupos familiares. As manadas de auroques, que antes eram enormes, agora apenas tinham cerca de metade dos elementos e mesmo ursos ou leões não eram tão vulgares… decididamente não se podiam atribuir todas as culpas à estação fria, mas sim ao aumento das populações humanas na região. Gastava-se cada vez mais tempo na caça, o seu povo, se queria crescer e desenvolver-se, teria de apostar mais na agricultura e aumentar o número de cabras e ovelhas no rebanho. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Uma tarde, quando Erem aguardava o regresso de um grupo de caça, foi alertado da proximidade de alguns humanos e dirigiu-se para o extremo nascente da aldeia, onde assistiu à aproximação dos estranhos.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Eram apenas dez; quatro adultos, três adolescentes e três crianças, uma delas de colo. Estavam cansados e pareciam famintos. Pararam hesitantes a uns vinte metros das primeiras casas e hesitavam entre avançar e afastarem-se, a agitação entre os adultos aumentou ao verem que Erem e vários vizinhos se aproximavam, alguns com as lanças a postos.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Fikri, um dos filhos de Lemi, colocou-se à frente de Erem, com a lança em riste e olhou interrogativamente para o chefe, que lhe devolveu um aceno negativo com a cabeça.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Queres que vá saber o que querem? — Interrogou o jovem ainda sem alterar a pose defensiva.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Não. Deixa-os aproximarem-se e falarem livremente. — Comandou Erem fazendo um gesto aos estranhos para que se aproximassem. — Não vês que têm fome e pelo menos um deles está ferido? Não são uma ameaça.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">O pequeno grupo aproximou-se e um dos homens ergueu as mãos em prece ao meio do rosto para Erem, num gesto de agradecimento. Mais perto viam que todos tinham arranhões e hematomas, sinal de que estiveram envolvidos em combates o que lançou a desconfiança entre os residentes.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">O mais interativo dos forasteiros falou algumas palavras que ninguém entendeu e depois, vendo que não o compreendiam, experimentou outras com sonoridade diferente, mas que se entendiam com alguma dificuldade. Expressou a gratidão do grupo e explicou que vagueavam de aldeia em aldeia e foram atacados ao chegar a uma delas a cerca de um dia de viagem para nascente. Quase tudo o que tinham foi-lhes roubado nesse ataque e, quando tentaram refugiar-se na aldeia, foram corridos à pedrada.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Erem indicou-lhes o caminho para o centro da aldeia e mandou que acendessem a fogueira para darem as boas-vindas aos recém-chegados. Rapidamente, fortes labaredas expulsavam os maus espíritos do céu, alimentadas pelos troncos que se guardavam secos debaixo de peles e colmo. Sentaram-se em volta do fogo em pequenos tocos de madeira que foram trazidos de várias casas.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Lemi e o grupo que estava assignado à construção chegaram quase ao mesmo tempo que os caçadores e todos ficaram apreensivos com os estranhos. Eram as primeiras “visitas” em muitos anos.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Apenas Erem e depois Zia, chegada posteriormente, se sentaram com os forasteiros e partilharam com eles algumas lascas de pão duro e carne seca. Os restantes, cujo número foi aumentando até estarem todos os habitantes da aldeia, ficaram em círculo escutando e observando tudo o que se passava.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Todos tinham olhos castanhos, amendoados, cabelos compridos, ondulados e pele escura e os homens, mesmo o mais velho, tinham apenas uma penugem em vez das barbas espessas dos seus anfitriões. Vestiam capotes de pele sobre grossos camisolões de lã e calçavam peludas botas de pele de carneiro. Estavam bem preparados para o frio que chegava. O homem mais velho chamava-se Alim e a mulher Nadi e viajavam com três filhos, a mulher do mais velho deles e três netos… </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Alim e a sua família eram provenientes de uma aldeia que se desmembrou com a subida do nível do mar. Alguns mudaram-se para pontos elevados, outros para aldeias distantes e outros ainda, como eles, tornaram-se errantes vivendo alternadamente vários locais. Aos poucos, foram reunindo os mais diversos bens que trocavam por outros. Já possuíam quatro vacas e seis cabras, além de uma grande quantidade de produtos e procuravam assentar em breve nalguma aldeia. Há uns dias, tudo lhes fora roubado, além da vida de um irmão de Alim que os acompanhava. Foram atacados por uns homens enormes de cabelos e barbas soltas, armados com espadas e machados. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Que são espadas? — Perguntou Erem sem se conter.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Não sabes o que são espadas? — O estrangeiro não conseguiu conter a admiração. — São como facas, mas muito mais compridas.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Facas compridas? — O chefe da tribo continuava surpreendido exibindo a sua faca de sílex do tamanho de uma mão. — Se a pedra for mais comprida do que isto, parte-se e não serve de nada.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Pedra?!? — O estrangeiro sorriu surpreendido, enquanto mostrava um punhal de cobre trabalhado. — Não de pedra, de metal; maior do que esta faca!</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Para <i>Hewsos</i></font><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn6_2497" name="_ftnref6_2497"><font face="Georgia">[6]</font></a><font face="Georgia"> daqui, — interrompeu Beki, o filho de Alim, despejando um conjunto de pequenas peças metálicas na palma de uma mão —, praticamente já ninguém usa sílex para as armas, isto são pontas de seta que trazemos para vender. Salvaram-se porque as trazia comigo, em vez de estarem no trenó com o resto das coisas.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Zia pegou numa das pontas de flecha e observou-a cuidadosamente enquanto Erem estudava o peso e a maneabilidade do punhal, simulando movimento e estocada… passou a lâmina na mão e fitou pensativamente o fio de sangue que se soltou… se havia muitas armas como aquela, o mundo estava a mudar… e a ficar muito mais perigoso. </font></p> <font face="Georgia"> <hr align="left" size="1" width="33%" /></font></font></div> <font style="font-size: 12pt;" face="Georgia" font="font"> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1_2497" name="_ftn1_2497"><font face="Georgia">[1]</font></a><font face="Georgia"> Constelação da Ursa-menor, cuja última estrela da cauda indica o Norte. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2_2497" name="_ftn2_2497"><font face="Georgia">[2]</font></a><font face="Georgia"> Proto Indo-Europeu: Esquerda (que acabará por ser o ponto cardeal Norte) por oposição ao sol do meio-dia</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref3_2497" name="_ftn3_2497"><font face="Georgia">[3]</font></a><font face="Georgia"> Proto Indo-Europeu: Sol é um dos principais deuses do panteão, mas também significa o sol do meio-dia, um dos pontos cardeais que originará o Sul</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref4_2497" name="_ftn4_2497"><font face="Georgia">[4]</font></a><font face="Georgia"> Proto Indo-Europeu: Madrugada é uma das deusas do panteão, mas também um dos pontos cardeais que dará origem ao Leste</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref5_2497" name="_ftn5_2497"><font face="Georgia">[5]</font></a><font face="Georgia"> Proto Indo-Europeu: Noite é um dos pontos cardeais que dará origem ao Oeste</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref6_2497" name="_ftn6_2497"><font face="Georgia">[6]</font></a><font face="Georgia"> Proto Indo-Europeu: Madrugada ou Nascente</font></p> </font> <p> </p> <p> </p> <p> </p> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p align="center"> </p> <a title="Parte 5 - Os Deuses e os Homens" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/12/os-deuses-e-os-homens.html"><img title="5 - Os Deuses e os Homens" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="5 - Os Deuses e os Homens" src="https://drive.google.com/uc?id=1YyBoOSlJQahsGh0WA15LyTGpdUxAXIzN" width="244" height="155" /></a> <p><a title="Lambendo as Feridas" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/11/lambendo-as-feridas.html"><font color="#00ff00">Parte 5 – Os</font></a><font color="#00ff00"> Deuses e os Homens</font></p> <p align="center"></p> </td> <td align="center"><a title="A Obra Nasce" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/02/a-obra-nasce.html"><img title="7 - A Obra Nasce" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="7 - A Obra Nasce" src="https://drive.google.com/uc?id=1DWM7J9L7veIfG5VAEOV4EEzyInPzvmJM" width="233" height="156" /></a> <p><font color="#80ff00">Parte 7 – A Obra Nasce</font></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="244" height="135" /></a> <p align="center"><a title="Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><font color="#00ff00">Introdução – Na Madrugada dos tempos</font></a></p> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-73982403272750072772022-12-29T00:01:00.003+00:002023-01-29T18:29:02.546+00:00Os Deuses e os Homens<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigBzg39UEV72mYwxV6ji3Y-EYgscXQi9ZbcYnSIv6puQXuj8lkVwzdmfSECZEVs2oCrEMo0Qlj-vnApTMOU3WgJn36QtNxE5GizAU4GeMejuk2tR2yCb4i1b_Sdzr4_3xfTPcUTVo6vfTFnh6bwFYt2i4thH2OXqqLiL6X_s8Ey4PRy8HseDa9a7c48Q/s750/5%20-%20Os%20Deuses%20e%20os%20Homens.jpg"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEigBzg39UEV72mYwxV6ji3Y-EYgscXQi9ZbcYnSIv6puQXuj8lkVwzdmfSECZEVs2oCrEMo0Qlj-vnApTMOU3WgJn36QtNxE5GizAU4GeMejuk2tR2yCb4i1b_Sdzr4_3xfTPcUTVo6vfTFnh6bwFYt2i4thH2OXqqLiL6X_s8Ey4PRy8HseDa9a7c48Q/w400-h253/5%20-%20Os%20Deuses%20e%20os%20Homens.jpg" width="400" height="253" data-original-width="750" data-original-height="473" /></a></div> <p align="center"><strong>Na Madrugada dos Tempos – Parte 5</strong></p> <p align="center"> </p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <blockquote> <p class="MsoQuoteCxSpFirst" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Já não adianta nada dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino. Para os que matam em nome de Deus, Deus é o Pai poderoso que juntou antes a lenha para o auto-de-fé e agora prepara e coloca a bomba.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia"> </font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">José Saramago</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoQuoteCxSpMiddle" style="margin: 0cm 0cm 0cm 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Escritor e prémio nobel português</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoQuoteCxSpLast" style="margin: 0cm 0cm 6pt 99.25pt; line-height: normal;" align="right"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">(1922-2010)</font></p> </blockquote> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"> </font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">No dia seguinte, o ar estava espesso e saturado por uma névoa esbranquiçada, enquanto flocos de neve esvoaçavam, rebeldes, rebrilhando ao sol encoberto.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Erem mandou reunir toda a gente frente à sua choça no largo onde faziam a fogueira em volta da qual se reuniam muitas noites. Usava o capote feito com a pele e a cabeça de um leão das montanhas e o fio de couro com uma pedra reluzente apanhada no rio de onde eram originários; os símbolos do poder nele investido.<span style="mso-spacerun: yes;">  </span>Estava de mão dada com Zia, que usava o cocar de penas de corvo e pomba, assinalando o seu estatuto de oráculo. O casal e a filha Zehir, ocupavam os lugares mais influentes no clã e eram respeitados por todos, mesmo por aqueles que por vezes discordavam das suas decisões. </font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Ele olhou tristemente para todos os seus amigos e familiares, a maior parte deles ostentando as marcas do combate recente e levou as duas mãos ao peito, abrindo-as depois sobre a audiência, no gesto comum de saudação a todos os presentes.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Filhos, irmãos e primos. — Começou com a voz grave que fazia todos pararem e deitar atenção. — A vida não tem sido fácil para o nosso clã. Sozinhos nestas planícies, progredimos com muitas dificuldades pedindo o favor dos deuses.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Vários entre a audiência acenaram em concordância uns para os outros.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">— Perdemos entes queridos para as doenças e para os ataques, — continuou —, mas se <i>Welnos</i></font><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1" name="_ftnref1"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[1]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> nos tem levado uns, <i>Da Matter</i></font><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2" name="_ftnref2"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[2]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> abençoa-nos com novos rebentos assegurando sangue novo e força que serão o aconchego daqueles que conhecerem a velhice.</font></font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Alguns homens e mulheres mais jovens soltaram expressões de júbilo e grunhidos enquanto erguiam os punhos fechados em demonstração de força.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Há, porém, uma grande sombra negra sobre nós. — Erem baixou os olhos e os braços exibindo desalento. — Os homens-macaco estão a ser uma grande provação para o nosso povo. Não só nos roubam muitas vezes a carne necessária para a nossa sobrevivência, também mataram o meu amado filho Nuri, vosso primo, sobrinho, irmão… e agora levaram-nos Fuat e Alev, além de deixarem vários de nós incapazes de trabalhar para si ou para os outros.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Havia agora vozes iradas e gritos insultuosos contra os homens-macaco.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Não me atrevo, neste momento, — o chefe continuava com as mãos abertas numa súplica —, a pedir-vos para arriscar as vossas vidas e as dos que nos são queridos noutro ataque. Não temos condições, há demasiados feridos e penso que os deuses estão distraídos dos seus filhos.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">A audiência silenciou-se em espanto com a revelação.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">— Temos de fazer alguma coisa para obter os favores dos deuses. Algo que eles vejam dos céus e se lembrem de nós e do quanto precisamos do seu auxílio. — Ele apontou na direção do improvisado templo presidido pelas representações divinas. — Não chega uma simples cova no local que eles escolheram com o fogo do céu. Temos de lhes mostrar os sacrifícios que fazemos! Precisamos que aqueles que foram para junto dos deuses nos protejam a todos e não apenas aos familiares diretos, precisamos que intercedam pelo clã junto de <i>Swol</i></font><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn3" name="_ftnref3"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[3]</font></span></span></span></span></a><font face="Georgia"> e </font></font><i><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">Mensis</font><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn4" name="_ftnref4"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font face="Georgia">[4]</font></span></b></span></span></span></a><font face="Georgia">.</font></font></i></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Todos apoiaram com urros e gritos de concordância.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Por cada um dos nossos mortos, — continuou ele sobrepondo-se à ovação —, colocaremos uma grande pedra em volta da cova de oração.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Os gritos de apoio foram reduzindo à medida que começavam a interiorizar a enormidade da tarefa.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Não era mais importante caçar para nos alimentarmos e vestirmos, agora que vêm os grandes frios, do que andar pelas colinas a arrastar pedras? — Interveio Naci, azedo, mas obtendo assentimentos de uma parte dos ouvintes.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— De que te adianta palmilhar os montes, ou correr atrás de animais mais velozes do que tu, se não tiveres a ajuda dos deuses para conseguires apanhar a presa? — Ripostou Zia apontando-lhe um dedo acusador. — Que és tu perante um leão, se não tiveres a proteção divina?</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Os deuses não foram de grande ajuda na gruta dos homens-macaco. — Resmungou a discordância. — A minha Su foi ferida com gravidade por aqueles monstros, assim como vários de nós e ainda não recuperou.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Devíamos ter feito um grande sacrifício e aberto uma lebre para ver se os deuses estavam do nosso lado, antes de partirmos arrogantes da nossa força! — A mãe continuava a fustigar o filho enquanto o resto da audiência murmurava em concordância. — Ainda ontem estive na cova de orar e sacrifiquei uma cabrita pela recuperação tua mulher… vi que a madeira dos ídolos Swol e Mensis está a ficar podre e bichenta. — Perante as expressões de horror dos vizinhos, ela dirigiu-se-lhes: — É o sinal de que os deuses se ressentem do pouco caso que lhes fazemos. É tempo de fazer mais honrarias aos nossos protetores.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Este último argumento pareceu convencer a maioria e as manifestações e gritos de apoio regressaram. Naci abandonou a audiência, ressentido.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Erem tem razão! — Apoiou Lemi, erguendo as mãos a pedir silêncio. — Temos de fazer alguma coisa para pedir o favor dos deuses…</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Agora, nos grandes frios que estão a chegar, precisamos de toda a ajuda possível na caça. — Avisou Civam, um dos irmãos de Zia. — Os animais são poucos e estão muito dispersos, temos de ir cada vez mais longe.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Ou bem que estaremos a caçar, ou a arrastar pedras para o santuário! — Resmungou Fikri, um dos filhos de Lemi, cruzando os braços. — As duas coisas não podem ser! A terra pouca coisa dá nesta época e os rebos não se comem.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Teremos de nos organizar ainda melhor. — Esclareceu Erem, conciliador. — Dividimo-nos em menos grupos, mas maiores, uns caçam e outros trabalham, depois trocamos. As tarefas como fazer roupas, fiar, curtir as peles, cultivar a terra, cuidar do gado, serão desempenhadas por quem tem mais jeito para elas, ou pelos que não podem caminhar; poderão trabalhar para todo o clã e receberão os alimentos pelo trabalho. Além disso, para nossa segurança, precisamos de mandar grupos maiores de caçadores. Mas não quero que lutem com os homens-macaco se eles aparecerem e irão aparecer, quando a caça reduzir…</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Deixamos que nos roubem então? — Asil abriu os braços em desalento.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Não! Não podemos é arriscar a vida de mais dos nossos. — O chefe olhou o filho com tristeza. — A sobrevivência do nosso clã pode estar em risco se perdermos mais gente. Precisamos todos de começar a praticar a funda; viram como eles ficaram surpreendidos quando Eda e Ezgi os atacaram? Não contavam que as pedras pequenas voassem com tanta força, tão longe e tão certeiras, enquanto eles só sabem atirar calhaus à mão. — Ele sorriu para todos antes de continuar: — Penso que a solução estará aí; dispersarem em todas as direções, para eles não saberem quem perseguir e depois atacá-los por todos os lados com as fundas. Não largam as vossas lanças, porém, que são precisas para se defenderem.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">Uma onda de otimismo pareceu correr a assistência. Todos falavam apressadamente e satisfeitos com a nova estratégia.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Lembrei-me disto mesmo antes de adormecer… — continuou o chefe sorridente — logo depois de ter decidido que iriamos construir o santuário aos deuses. Bastou isso para começarmos a ser abençoados.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Já falei com algumas das nossas mulheres para cortarem e polirem tiras de couro para as fundas e fazerem sacos para as pedras — avisou Zia — a partir de agora, ninguém deve sair sem a funda e o saco com seixos do rio.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Uma excelente ideia. — Também Lemi estava entusiasmado. — Vamos organizar os grupos de trabalho e de caça, assim como começar imediatamente a treinar a funda.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <p class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 6pt; line-height: normal; text-indent: 36pt;" align="justify"><font style="font-size: 12pt;" face="Georgia">— Mesmo aqueles que ficarão normalmente na aldeia, até as crianças, devem saber usar a arma! — Acrescentou Erem. — Se tivermos um ataque aqui, todos, com exceção dos doentes e crianças muito pequenas, terão de lutar e defender o clã. Eles podem ser como um bando de hienas das cavernas, mas nós seremos como os auroques; podemos não ter dentes tão fortes, mas, numa carga organizada espezinhamos tudo no nosso caminho.</font></p> <font face="Georgia"><font style="font-size: 12pt;"></font></font> <div style="line-height: normal; mso-element: footnote-list;"><font style="font-size: 12pt;"><font face="Georgia">  </font>   </font></div> <div style="line-height: normal; mso-element: footnote-list;"><font style="font-size: 12pt;"> <br clear="all" /></font>    </div> <hr style="border-color: rgb(0, 0, 0); margin-top: 8px; margin-bottom: 8px;" align="left" size="1" width="33%" /><font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn1" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn1;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1" name="_ftn1"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[1]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Deus do submundo</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn2" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn2;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2" name="_ftn2"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[2]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Deusa-mãe</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn3" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn3;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref3" name="_ftn3"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[3]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Sol</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font> <div id="ftn4" style="mso-element: footnote;"><font style="font-size: 12pt;"></font> <p class="MsoFootnoteText" style="margin: 0cm; text-indent: 36pt;" align="justify"><a title="" style="mso-footnote-id: ftn4;" href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref4" name="_ftn4"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-special-character: footnote;"><span class="MsoFootnoteReference" style="vertical-align: super;"><span style="mso-ansi-language: pt; mso-bidi-font-family: arial; mso-bidi-language: ar-sa; mso-bidi-theme-font: minor-bidi; mso-fareast-font-family: calibri; mso-fareast-language: en-us; mso-fareast-theme-font: minor-latin;"><font style="font-size: 10pt;">[4]</font></span></span></span></span></a><font style="font-size: 10pt;"> Lua</font></p> <font style="font-size: 12pt;"></font></div> <font style="font-size: 12pt;"></font><font style="font-size: 12pt;"></font> <p> </p> <p> </p> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p align="center"> </p> <a title="Lambendo as Feridas" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/11/lambendo-as-feridas.html"><img title="4 - Lambendo as feridas" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="4 - Lambendo as feridas" src="https://drive.google.com/uc?id=1j_D4SwQYJfYM_Y4Kr6VFiAoOD66viJec" width="244" height="164" /></a> <p><font color="#00ff00"><a title="Lambendo as Feridas" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/11/lambendo-as-feridas.html">Parte 4 – Lambendo as Feridas</a></font><font color="#00ff00"></font></p> <p align="center"></p> </td> <td align="center"><a title="Parte 6 - Os Outros Homens" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2023/01/os-outros-homens.html"><img title="6 - Os Outros Homens" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="6 - Os Outros Homens" src="https://drive.google.com/uc?id=1TJ8dIOMGCgoOsRtkyZ4HW-sgEU_hriCd" width="250" height="161" /></a> <p><font color="#80ff00">Parte 6 – Os Outros Homens</font></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="244" height="135" /></a> <p align="center"><a title="Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><font color="#00ff00">Introdução – Na Madrugada dos tempos</font></a></p> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-35589285157890647432022-11-29T00:04:00.009+00:002022-12-30T18:45:46.809+00:00Lambendo as Feridas<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsXqBTsuR9wDM9Z9arLEa1oGuUMzcFYzM1R5Ziu2FEpyuxSvc-a7iDyjehiqIOh9PsxnF21KSnb9B9L_zXNIeehO3QmAJdc0faOOg25yTk_G-wyvnonBs1ZKreIJFm7JLNfYbnTLcBHWQGNG64gSuaKBJfZibgzg6RsrqBdJLXXyVkrvQjQnSFXiUCA/s800/4%20-%20Lambendo%20as%20feridas.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTsXqBTsuR9wDM9Z9arLEa1oGuUMzcFYzM1R5Ziu2FEpyuxSvc-a7iDyjehiqIOh9PsxnF21KSnb9B9L_zXNIeehO3QmAJdc0faOOg25yTk_G-wyvnonBs1ZKreIJFm7JLNfYbnTLcBHWQGNG64gSuaKBJfZibgzg6RsrqBdJLXXyVkrvQjQnSFXiUCA/w400-h266/4%20-%20Lambendo%20as%20feridas.jpg" width="400" height="266" data-original-height="533" data-original-width="800" /></a></div> <p align="center"> </p> <p align="center">Na Madrugada dos Tempos – Parte 4</p> <p align="center"> </p> <blockquote> <blockquote> <p align="right">Um pecado tem sempre como consequência outro pecado.</p> <p align="right"></p> <p align="right">Ben Hazzai</p> <p align="right">      (Sábio rabínico do século II)</p> </blockquote> <p> </p> </blockquote> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"> <p>Destroçados e de cabeça baixa, entraram na aldeia arrastando os mortos e ajudando os feridos. Foram recebidos em silêncio numa primeira fase e depois com prantos e consternação de todos quantos haviam ficado de guarda às crianças, casas e bens.</p> <p>Lemi, que fora um dos instigadores da vingança, estava arrasado pela morte do filho, Fuat e para Erem, se também lamentava a perda do primo, a do seu irmão Alev era impossível de suportar. Na tentativa de vingar uma morte havia agora mais duas e uma delas era o pai de cinco crianças que deixava agora a viúva sozinha.</p> <p>Nos dias que se seguiram, todo o povoado tentou regressar à normalidade, considerando que, apesar do preço que pagaram, a vingança da morte de Nuri fora cumprida. Os grupos de caça retomaram o seu trabalho, sempre atentos à possibilidade de aparecimento de homens-macaco, enquanto outros pescavam e outros ainda cuidavam das magras colheitas ou do curtir das peles. O gado, composto basicamente por cabras-selvagens criadas desde pequenas nas imediações da aldeia, eram responsabilidades das mulheres e dos mais jovens, assim como o cuidar das colheitas e a busca e colheita dos frutos silvestres. Já tinham tentado criar jovens javalis, mas eles arranjavam sempre uma forma de fugir, por mais cercas, ou cordas, que fizessem ou com que os amarrassem.</p> <p>A organização das tarefas, era uma herança do clã do Rio Brilhante, que devia o sucesso e crescimento ao facto de ter dado os primeiros passos no sedentarismo há algumas gerações atrás. Após comprovarem que se podiam semear e colher algumas das plantas comestíveis, foi fácil que alguns dos membros do clã não quisessem deslocar-se em migração, preferindo ficar junto das suas colheitas que eram um complemento para a caça e a pesca. Após se fixarem, já podiam construir paredes de pedras empilhadas em volta das tendas de paus e peles, para se protegerem do frio do inverno e pouco tempo depois já abdicavam da tenda, erguendo simplesmente os muros circulares e utilizando as peles apenas para o teto. A lama servia para tapar os espaços entre as pedras para reduzir a entrada do frio e consolidar as paredes. A estabilidade conduziu à conclusão de que não podiam andar todos a caçar ou a pescar e começaram a criar-se grupos especializados nas tarefas que mais gostavam de fazer, ou que aprenderam desde crianças.</p> <p>Quando estavam no vale do lago salgado, eram visitados ocasionalmente por grupos de nómadas com quem trocavam peles ou mesmo caça. Acabava sempre por ficar um ou dois entre eles, porque estava ferido ou doente, ou simplesmente porque estava cansado de vaguear, por vezes até famílias inteiras. Ali, nas terras altas, não tinham visto ainda nenhum outro grupo de humanos. Estavam entregues a si próprios, eram pioneiros em desbravar as terras que o degelo deixara para eles.</p> <p>Nos primeiros anos, a dureza do clima mais agreste, e as terras duras e pouco generosas causaram mal-estar no clã do Leão da Montanha. Havia críticas sussurradas e lamentos por seguirem o jovem chefe para uma tão grande provação, principalmente da parte dos irmãos de Zia que começavam a perguntar-se se não teria sido melhor ficar com Birol, ao invés de Erem. Os verões eram frios, em comparação ao vale e os invernos rigorosos, embora, talvez fruto do hábito, parecessem mais amenos a cada ano que passava. As sementes não germinavam com facilidade e a terra era dura e difícil de cavar, no entanto, a caça era abundante e um rio próximo tinha muita fartura de peixe, embora não pudessem viver demasiado próximo dele devido aos ursos. Foi só ao terceiro ano que se decidiram sobre o local onde deveriam fixar-se, abandonar as tendas e construir as suas casas de pedra; um planalto batido pelo sol e protegido dos ventos do Norte por um monte mais alto.</p> <p>Nehir fora a segunda criança a nascer da união de Erem e Zia. A menina rebelde, tornou-se uma adolescente indómita e depois uma mulher laboriosa e independente. Não deixava que nenhum homem se aproximasse demasiado e, os que se atreviam a fazê-lo, saíam derrotados pela argúcia e às vezes até pela força. Forte para uma mulher; herdara a estatura do pai e a determinação da mãe. Quando faziam parte do Clã do Rio Brilhante, cedo se interessou pelo trabalho do xamã e, quem a queria encontrar, fá-lo-ia junto de Gokai e das suas duas esposas. Com eles adquiriu o conhecimento das ervas, da forma de tratar as feridas e mesmo dos encantamentos necessários para curar algumas maleitas. Agora, porém, sentia-se sozinha e impotente perante a quantidade dos feridos e gravidade dos ferimentos.</p> <p>Erem emitiu um ronco, para evitar um grito, quando Nehir cauterizou o corte sob a vista direita, que parecia querer infetar, recorrendo a um graveto de oliveira em brasa. As nódoas negras quase tinham desaparecido e as dores no corpo já eram coisa do passado.</p> <p>— Como está Tekin? — Perguntou ele para se distrair da dor.</p> <p>— Está muito mal. — Informou Nehir mantendo a atenção enquanto tirava os vestígios de cinza do ferimento do pai. — Tem vários ossos partidos e respira com muita dificuldade. — Ela suspirou. — Mas acho que podemos ter outros casos mais complicados.</p> <p>— Quais? — Erem olhou-a alarmado.</p> <p>— Há vários bastante feridos por lanças e pedradas, mas são ferimentos pouco profundos, as lanças deles não são de ponta de sílex como as nossas, apenas paus afiados ao fogo. Não é o caso de Su e Ediz; ela tem um buraco profundo nas costas que lhe dificulta a respiração e ele outro na barriga. — A mulher torceu o nariz revelando pouca esperança. — Fiz-lhes pachos com folha cheirosa, folha doce e folha amarga após queimar o ferimento e fiz a reza a <i>Da matter</i><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn1_9029" name="_ftnref1_9029">[1]</a>, mas têm muitas dores… receio por eles. Os deuses terão de usar o seu poder.</p> <p>Ele coçou a barba, pensativo, Ediz era seu cunhado, irmão de Zia e Su, mulher de Naci, sua nora, o primeiro jovem e sem filhos, mas a segunda deixava duas crianças. Mais preocupações para o chefe; além de familiares próximos e estimados, eram braços fortes e decididos que deixavam órfãos.</p> <p>Erem saiu da tenda de Nehir preocupado, (como ela era uma mulher solteira, não construíra uma casa) foi visitar Su e Ediz, para tirar ele próprio as dúvidas. Regressou muito pessimista, temendo que a sua filha e curandeira/xamã podia ter razão. </p> <p>Sentado na pedra que mandara por para o efeito na entrada da sua choça, ficou a observar uma das noras de Lemi ajoelhada em frente ao totem que ergueram quando decidiram fixar-se naquele local. O grande tronco de madeira com mais de três metros fora aliviado da sua casca e da maior parte dos ramos, deixando-lhe apenas dois laterais com curvas em ângulo reto, dando-lhe uma aparência antropomórfica. Nos seus “braços”, iam sendo pendurados presas, cornos, cascos ou mesmo peles, em agradecimento à intervenção divina na caçada bem-sucedida. Aos pés ou pendurados no ídolo havia bocados de cabelo, lanças, facas ou outros objetos que lembravam aqueles que já partiram… estava lá o chapéu de pele do seu filho Nuri.</p> <p>Se não tivessem cuidado, todos eles não passariam de recordações naquele totem… até que não houvesse mais ninguém para os lembrar.</p> <p>Precisavam mesmo de ajuda divina; teria de implorar a <i>Da Mater</i> pela salvação daqueles dois e que o ajudasse a fazer o melhor pelo seu povo. Teria de fazer um sacrifício para manter os maus <i>Ansu</i><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn2_9029" name="_ftnref2_9029">[2]</a> afastados e que apenas os bons pairassem sobre a aldeia. Há alguns invernos, os deuses marcaram o lugar onde deveriam ser adorados com um raio que destruiu um imenso pinheiro. Ali se ergueram os troncos gravados por Asil representando <i>Swol</i><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn3_9029" name="_ftnref3_9029">[3]</a> e <i>Mensis</i><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn4_9029" name="_ftnref4_9029">[4]</a> com a madeira do pinheiro destruído e todo o povo gostou do santuário… talvez estivesse na altura de fazer mais alguma coisa para agradar aos deuses.</p> <p>Zia saiu do interior da casa e sentou-se, sorridente, ao lado dele. Erem retribuiu o sorriso, apreciando aquele rosto redondo e moreno adornado com dois carvões reluzentes, que acompanhava a sua vida há tantos anos. Apesar dos cabelos que começavam a branquear, mantinha-se em boa forma e não se deixara engordar, mesmo após seis partos bem-sucedidos e um nado-morto. Logo que as dores do nascimento a abandonavam, começava a pastorear as cabras, enquanto a criança precisava de mais acompanhamento e logo retornava às tarefas de caçadora, calcorreando os montes e equiparando-se, ou mesmo suplantando, os homens em resistência e tenacidade. As suas funções de oráculo não a prejudicavam, antes a complementavam, fazendo previsões se haveria um bom dia de caça ou não. Os quase vinte e oito anos não pesavam no seu físico, porque não se deixava abater e engordar após o segundo parto, como grande parte das mulheres.</p> <p>— Que fazes aqui? — Perguntou Zia sem deixar de sorrir. — Não vais entrar?</p> <p>— Estava aqui a matutar no que fazer a seguir… — Erem desviou o olhar da companheira para o chão. — Por minha culpa, perdemos dois dos nossos e estamos em riscos de perder mais dois, numa vingança estúpida e impensada.</p> <p>— Não foste tu quem nos levou. — Ela pegou o rosto dele entre as mãos para lhe ver os olhos. — Todos nós queríamos ir. Fomos todos inconscientes, não nos preparamos, achávamos que <i>Tarhun</i><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn5_9029" name="_ftnref5_9029">[5]</a> estaria do nosso lado pela justeza da nossa causa. Um só dos Seus raios seria suficiente para dizimar os homens-macaco, mas tal não aconteceu. Agora resta-nos lamber as feridas e esperar melhores dias.</p> <p>— Os deuses estão ocupados nas Suas vidas — ele exibiu um sorriso desalentado —… os homens estão entregues a si próprios, implorando a Sua atenção, desde os tempos de <i>Manu</i><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftn6_9029" name="_ftnref6_9029">[6]</a>. Implorei a <i>Da Mater</i> pela salvação de Su e Ediz, esperemos que nos ouça.</p> <p>— Consultei as pedras e os ossos. — Zia disse, mas também baixou os olhos. — No caso dele, havia apenas uma linha curta; o fim deve estar breve, mas para ela os resultados eram confusos, não consegui uma certeza.</p> <p>— Se Su morrer, Naci vai ficar pior do que o costume — previu o chefe —… se ele já é revoltado e impaciente, se ficar sem ela… </p> <p>— Ontem falei com Nehir, naquela tenda gelada onde vive e ela também acha que Ediz é o caso pior, Su terá mais hipóteses. — Informou a companheira.</p> <p>— Não sei porque é que ela quer estar ali. — Ele encolheu os ombros. — Connosco, ficaria melhor.</p> <p>— Lá pode receber e estar com quem quiser… — ela exibiu um sorriso conhecedor.</p> <p>— O quê? — Erem entusiasmou-se. — Já arranjou finalmente um homem? Vamos ter mais netos? Algum dos teus sobrinhos?</p> <p>— Não… — Zia retorceu os lábios a olhar para o companheiro —… é mais… Enis, uma das filhas de Lemi.</p> <p>— Que raio… — Ele coçou a cabeça perturbado.</p> <p>— Por isso é que ela não quer estar aqui. Teme que não aproves.</p> <p>— Ela já não tem idade para esses impulsos, essas preferências normalmente passam quando crescem! — O chefe sentia-se desalentado. — Não teremos novos netos, então…</p> <p>— Sim, mas não te preocupes, o que interessa é que ela esteja feliz. — Afirmou ela sorridente, erguendo-se e puxando-lhe pela mão. — Anda, pode ser que se arranje outro filho em vez de um neto.</p> </div> <hr align="left" size="1" width="33%" /> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref1_9029" name="_ftn1_9029">[1]</a> Deusa-mãe</p> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref2_9029" name="_ftn2_9029">[2]</a> Espíritos</p> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref3_9029" name="_ftn3_9029">[3]</a> Sol</p> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref4_9029" name="_ftn4_9029">[4]</a> Lua</p> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref5_9029" name="_ftn5_9029">[5]</a> Deus do trovão, da caça e da guerra</p> <p><a href="file:///F:/Manuel Amaro/MEOCloud/Em curso/Projetos/X - Na Madrugada dos Tempos/#_ftnref6_9029" name="_ftn6_9029">[6]</a> O primeiro humano</p> <p> </p> <p> </p> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p align="center"> </p> <a title="Parte 3 - O Ataque" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/10/o-ataque.html"><img title="3 - O ataque" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="3 - O ataque" src="https://drive.google.com/uc?id=1uOxaygeebmrAD31O77ASAlT0Y7f21Dkm" width="244" height="142" /></a> <p><a title="O Clã do Leão da Montanha" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/o-cla-do-leao-da-montanha.html"><font color="#00ff00">Parte 3</font></a><font color="#00ff00"> – O Ataque</font></p> <p align="center"></p> </td> <td align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/12/os-deuses-e-os-homens.html"><img title="5 - Os Deuses e os Homens" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="5 - Os Deuses e os Homens" src="https://drive.google.com/uc?id=1l-8jgudqqUXd1d4Y-tbSdyoaiiGSd_06" width="231" height="147" /></a> <p align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/12/os-deuses-e-os-homens.html">Parte 5 – Os Deuses e os Homens</a></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="244" height="135" /></a> <p align="center"><a title="Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><font color="#00ff00">Introdução – Na Madrugada dos tempos</font></a></p> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-76825736175971691572022-11-25T09:29:00.002+00:002022-12-02T09:49:04.669+00:00Publicação de "Na Sombra da Mentira"<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://www.debaixodosceus.pt/na-sombra-da-mentira" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_cIm_40Q6NetFle5RO3cmpLESLVix9eX3USGJVCZIixtUG49EwHQgmdlBVddrtaF6KkKG3cZxQMA4yI-SdT_uOc4Q3g89JNzPm0RyyLJd57yf7V3dCeDrlFnMpbPnbs6XLrx2lkLQsvtzwYbkTasjYtFVl1gkLPeX5j_A4cX1TdNgkMaMUXgQqUsCAQ/w285-h400/Capa%20principal%20Na%20Sombra%20da%20Mentira.jpg" width="285" height="400" data-original-height="1000" data-original-width="712" /></a></div> <br /> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">No passado dia 22, publicado o meu novo livro, “Na Sombra da Mentira”.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">Trata-se de um romance contemporâneo, onde Gabriel, um homem de negócios na casa dos sessenta anos, é contactado por um desconhecido, já idoso e em fim de vida, que afirma ter informações pertinentes do seu passado.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">O contacto com esse homem vai trazer-lhe à lembrança suspeitas antigas sobre a sua paternidade, que decide tentar esclarecer de uma vez por todas.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">O regresso a São Mamede de Infesta, a terra que o viu nascer, vai reconduzi-lo pelas ruas da sua infância numa investigação que lhe mostrará como viveram os seus pais na década de quarenta do século passado. Os factos que descobrirá, porém, estão para além de tudo aquilo que poderia imaginar.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">Uma complexa teia de manipulação, mentiras e crimes estavam firmemente entrançadas no seu nascimento e a conclusão da sua investigação é completamente diferente daquilo que imaginaria à partida.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">Num forte carga autobiográfica, o protagonista visitará ambientes e pessoas que receberam ambientes e personalidades provenientes da minha própria infância, mas colocados num cenário totalmente fictício.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <a href="https://www.debaixodosceus.pt/na-sombra-da-mentira"><img title="Capa mole - Na Sombra da Mentira" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Capa mole - Na Sombra da Mentira" src="https://drive.google.com/uc?id=1SvfNjOn6XDccNERD9JqdLQi0_bG5fa6z" width="387" height="283" /></a> <p> </p> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">Não deixe de visitar esta minha nova história e acompanhe Gabriel a desvendar o seu passado. Entretanto, não deixe de ver o vídeo promocional que certamente lhe abrirá o apetite.</font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <div id="scid:0ABB7CC8-30EB-4F34-8080-22DA77ED20C3:e8c52417-2162-43d7-a78a-f5de32757c82" class="wlWriterEditableSmartContent" style="padding: 0px; margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block;"><div><iframe src="http://www.youtube.com/embed/OgyTJ33X4s4" width="425" height="239" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen></iframe></div></div> <font size="3"></font> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3">Este romance é mais um trabalho produzido para as Produções Debaixo dos Céus, impresso e distribuído pela Amazon. Saiba mais em <a title="https://www.debaixodosceus.pt/na-sombra-da-mentira" href="https://www.debaixodosceus.pt/na-sombra-da-mentira">https://www.debaixodosceus.pt/na-sombra-da-mentira</a></font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3"></font></div> <table cellspacing="0" cellpadding="2" border="0"><tbody> <tr> <td valign="top"><a href="https://www.debaixodosceus.pt"><img title="PDDC_Square_branco_transparente" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="PDDC_Square_branco_transparente" src="https://drive.google.com/uc?id=1el7liWxSJzw250Oi1cwHstRbx2DB0FyT" width="244" height="184" /></a> </td> <td valign="top"><a href="https://www.amazon.es/dp/B0BMTHBXLG"><img title="R" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="R" src="https://drive.google.com/uc?id=1WGttYWxA05jpeZX0_fo_UwBkZ28NtnPU" width="184" height="204" /></a> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-26269759476163640092022-10-29T00:00:00.016+01:002022-11-29T08:04:04.627+00:00O Ataque<p><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ALIeGS50hxROlFuKTjp8Jj8HwpXxL_WSDfV6d_w0UfWTMJApv1o2nl5AlghwDZklNe1LWj65NatqDEFvx3bhvRNl9jAkIKXouunIEmHL2NWDzIyFDw4iWPPJnAQX1W_HGbFzQbdN4Z7n6le_AwyC-DLUULYv26OH77ajSUZYLOIcfab0tJzRKrbIGw/s783/O%20ataque.jpg" imageanchor="1"><img style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block;" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2ALIeGS50hxROlFuKTjp8Jj8HwpXxL_WSDfV6d_w0UfWTMJApv1o2nl5AlghwDZklNe1LWj65NatqDEFvx3bhvRNl9jAkIKXouunIEmHL2NWDzIyFDw4iWPPJnAQX1W_HGbFzQbdN4Z7n6le_AwyC-DLUULYv26OH77ajSUZYLOIcfab0tJzRKrbIGw/w640-h368/O%20ataque.jpg" width="640" height="368" data-original-height="450" data-original-width="783" /></a></p> <p> </p> <p align="center">Na Madrugada dos Tempos – Parte 3    </p> <blockquote> <p align="right"><i>O justo se alegrará quando vir a vingança; lavará os seus pés no sangue do ímpio.</i></p> </blockquote> <p align="right"><i>Salmos 58:10</i></p> <p> </p> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font face="Georgia"> <p>— Então? — A voz de Zia, companheira de Erem, trouxe-o de volta à realidade. O rosto dela, uma pequena mancha de lama branca emoldurada pela enorme cabeleira negra, estava irreconhecível. Ela insistiu batendo com o cabo da lança no chão. — É agora ou nunca, temos de aproveitar que estão ainda a dormir.</p> <p>— Eu sei. — Erem estava reticente. — Não sabemos quantos estão ali, pergunto-me se não seria melhor ir fazendo algumas emboscadas aos grupos de caça deles e matando-os gradualmente. Se o número deles reduzir, de certeza se mudarão para longe.</p> <p>— Isso exigirá tê-los sempre vigiados. — Considerou Lemi. — Não somos assim tantos para fazer isso.</p> <p>— Não vamos vingar o meu irmão? — Naci parecia estar sempre zangado, mesmo sem a justificação que tinha agora. — Não quero saber se fogem ou não. Mataram Nuri; por um dos nossos, terão de morrer pelo menos três deles! — Ele ostentava ainda as marcas da luta, principalmente um enorme hematoma que quase lhe fechava um dos olhos.</p> <p>— É verdade que nunca mataram antes… sempre se limitaram a fazer-nos fugir e levavam a caça. — Considerou Asil. — Tu e o Nuri é que reagiram quando eles tentaram levar a gazela. Depois tivemos de atacar todos para vos ajudar e mesmo comigo, Civam e Ediz, todos os cinco, não conseguimos vencer apenas quatro deles.</p> <p>— Querias fugir e deixá-los levar a comida do clã? — Naci olhou-o incrédulo. — Nuri estava certo, hoje tiram-nos a caça, amanhã roubam-nos dentro da própria aldeia.</p> <p>— Basta! — Exigiu Lemi. — Fazemos muito barulho.</p> <p>— Mesmo assim, — Cortou nervosamente Su, a mulher de Naci. — não sabemos contra quantos vamos lutar. — Ela penteou um dos lados da longa e escorrida cabeleira negra, soltando as folhas que estavam presas nela. — Se forem mais que nós…</p> <p>— Quem não quiser vir que vá embora agora! — Exigiu Zia com os dentes cerrados. — Estamos a perder o tempo que precisamos. Mesmo que se vão todos embora, eu ficarei e haverei de mandar para o mundo das sombras pelo menos um.</p> <p>— Eu também fico! — Afirmou Naci batendo com a lança no chão e logo secundado pelos seus irmãos Tekin e Asil.</p> <p>— Parem com isso! — Ordenou Erem. — Claro que temos de ir todos. Vamos vingar o meu filho e dar-lhes uma lição que não esqueçam. Temos de entrar e matar os que nos aparecerem pela frente e, ao meu sinal, ou de Lemi, fugimos de novo para este sítio onde estamos agora. Aqui, esperamos a ver se nos tentam seguir, antes de regressar às nossas casas. Perceberão que a sua ação teve consequências e deverá ensiná-los a manterem a distância ou mudarem-se para longe.</p> <p>Começaram a descer da crista ocultando-se nos tufos de vegetação. De súbito, Lemi percebeu movimento na entrada da gruta e fez um gesto aos outros. Habituados a serem comandados nas caçadas, imobilizaram-se em silêncio.</p> <p>Na enorme abertura surgira um dos homens-macaco. Era baixo, como todos os da sua espécie, com os braços e as pernas cabeludos que pareciam troncos de árvore, grossos e duros. Cada soco daqueles punhos nodosos e desproporcionais tinha a força de uma pedrada. O cabelo hirsuto, indistinguível das barbas que lhe caíam pelo peito, tombava sobre o rosto quadrado de celhas negras e grossas que encimavam a arcada supraciliar saliente. Os olhos pequenos e vivos estavam semicerrados quando o indivíduo se abeirou da borda, soltou um ruidoso traque e começou a urinar algures do meio das peles que o envolviam. Assim que terminou, esfregou os olhos, soltou uns roncos preguiçosos e olhou em volta, farejando o ar. Satisfeito com a avaliação, regressou ao interior coçando as nádegas.</p> <p>Em resposta a novo sinal, todo o grupo reiniciou a progressão começando a subir a encosta enquanto dois deles ficavam para trás certificando-se de que não havia o perigo de serem atacados pelas costas. Quase não era preciso falar, todos eram experientes caçadores e estavam bem habituados a vigiar as costas uns dos outros para não serem surpreendidos por algum outro predador quando caçavam. No ano anterior, um dos filhos de Lemi fora morto por um leão quando corria atrás de uma corça e um cunhado de Zia, acabara por morrer na aldeia vítima dos ferimentos provocados por um urso.</p> <p>Naci, sempre mais arrojado, lançou-se na escalada primeiro que os outros, logo seguido do irmão Tekin e de Fuat um dos filhos mais novos de Lemi, ansiosos por mostrar o seu valor. A subida não foi difícil; os invasores usaram os pequenos socalcos, invisíveis a partir de baixo, que deviam ser usados pelos habitantes da gruta e rapidamente Tekin e Fuat ultrapassaram Naci, chegando ao patamar à frente de todos os outros.</p> <p>Lemi soltou um pequeno silvo para que os dois mais jovens se detivessem, enquanto Zia o ultrapassava também. Ele era o mais velho e ficava para último. Os dois rapazes desapareceram na borda do penhasco e já Naci e uma das cunhadas de Erem os seguiram. No momento seguinte ouviram-se vozes e gritos irados que ecoaram vale e espantaram um bando de aves de uma das árvores que crescia inclinada sobre o barranco. Já Erem, um dos seus irmãos, Zia e um irmão dela se guindavam para a plataforma. Havia luta na entrada da gruta e um corpo voou sobre os que ainda escalavam, batendo no fundo da ravina com um baque surdo; Lemi reconheceu o seu filho Fuat. À medida que mais invasores atingiam o patamar, a gritaria intensificava-se; dois corpos agarrados tombaram do patamar e rebolaram na encosta arrastando com eles dois dos invasores que descansavam na subida. Quase derrubaram Lemi que se viu de repente o único na face do barranco. Havia cinco corpos no fundo, e só um era dos homens-macaco.</p> <p>Sem fôlego para subir mais depressa e desesperado por ir ajudar os companheiros, Lemi esforçava-se ao máximo. Um dos inimigos voou por cima dele com um grito silenciando-se em simultâneo com o baque no solo duro. Várias pedras e algumas lanças caíram em seguida.</p> <p>Depois da sua subida imprudente, Fuat, Tekin e Naci, viram-se num patamar, meio direito, com cerca de dez metros até à entrada da gruta, de onde saíam quatro homens-macaco gritando de forma alarmante.</p> <p>Um deles gritou-lhes incompreensivelmente, mas o outro disse com clareza: —Vão embora!</p> <p>Naci não estava ali para conversar; atirou e cravou a sua lança no pescoço do que falara a língua deles. Tekin imitou o irmão, mas falhou o alvo que se esquivou agilmente. Os três defensores restantes atacaram os invasores de mãos nuas e soltando gritos selvagens.</p> <p>Fuat não conseguiu usar a lança, partida de imediato pelos braços fortes do oponente que logo o agarrou pelo pescoço. Sem conseguir opor-se-lhe, o filho de Lemi conseguiu pegar a faca de pedra da sua bolsa e cravou-a várias vezes no ventre musculoso do homem-macaco. Este soltou um grito lancinante e empurrou o infeliz do penhasco.</p> <p>Tekin, esquivou-se habilmente do ataque do seu inimigo e foi mais feliz com a faca do que com a lança, conseguindo espetá-la profundamente entre as costelas do outro.</p> <p>Havia já mais companheiros a subir ao patamar e a ajudar Naci que, caído no chão, era alvo dos socos impiedosos do seu oponente. Zia cravou-lhe a lança nas costas e um companheiro pontapeou-o no rosto assim que ele caiu, espetando-o várias vezes no peito a seguir.</p> <p>O homem-macaco que Tekin espetara soltou um enorme grito de fúria e agarrou-o pelo tronco, prendendo-lhe os braços tentando esmagá-lo. Asil correu em socorro do irmão e espetou a lança nas costas do inimigo que, na tentativa de fuga, precipitou-se com a sua presa no vazio.</p> <p>Da entrada da gruta soavam novos gritos e vários homens e mulheres-macaco corriam na direção deles, enquanto outros atiravam pedras e lanças grosseiras: eram mais de vinte! Mais dois dos atacantes tombaram feridos.</p> <p>Eda e Ezgi, respetivamente cunhadas de Erem e Zia usaram as fundas em que eram exímias e derrubaram alguns dos defensores, causando a confusão entre os restantes. As lanças bem apontadas de Erem e dos outros causaram mais vítimas e pararam a investida, com exceção de um deles que se chegou perto o suficiente do grupo invasor para sofrer vários golpes de e tombar imóvel. Havia agora vários corpos caídos na área da esplanada.</p> <p>Os defensores, refugiados na entrada da caverna, atiraram nova chuva de pedras e lanças com pouco efeito, tirando alguns feridos ligeiros. Eda e Ezgi causaram novas vítimas com as suas fundas que tinham um alcance muito maior, fazendo os inimigos recuarem ainda mais para o interior. Lemi chegava nesse momento à borda do patamar.</p> <p>Erem tentava assimilar rapidamente a situação complicada em que se encontravam; não podiam investir, pois, os outros eram em número superior e eram precisos vários para liquidar apenas um deles, além disso, já tinham vários feridos e seriam rapidamente suplantados. — Desçam depressa, vamos, fujam! — Gritou decidido na borda do patamar. — Eda, atira-lhes mais pedras, mantém-nos lá dentro. Cemil, ajuda-me, atiremos-lhes com as lanças deles.</p> <p>Enquanto os restantes desciam e ajudavam os feridos, um pequeno grupo de quatro tentou manter os inimigos à distância, mas as lanças eram mais pesadas e mais toscas, caíam quase sem força ou batiam inutilmente nas paredes da gruta.</p> <p>Vendo que o número de atacantes era irrisório, os homens-macaco começaram timidamente a sair da gruta atirando mais pedras e os quatro resistentes tiveram de se lançar na descida de forma meio atabalhoada. No fundo do barranco, já os outros acabavam com um dos inimigos que ainda estava vivo e arrastavam os seus mortos e feridos pela encosta contrária.</p> <p>Enquanto Eda descia, Asli conseguia atirar com a funda algumas pedras bem colocadas para assobiarem à cabeça dos defensores que se atreveram a espreitar na borda do penhasco, mas isso não impediu que uma chuva de grandes rebos caísse sobre eles. Um dos projéteis acertou com força sobre as costas e ombro de Erem fazendo-o cair e foi Cemil, seu irmão, quem o ajudou a refugiar-se com os restantes atrás da crista onde haviam iniciado o desgraçado ataque.</p> <p>Gritos de vitória e de desafio dos defensores, postados na borda do penhasco, faziam-se ouvir.</p> <p>Cheio de dores, Erem olhou para os companheiros; Fuat e Alev estavam mortos, Tekin estava bastante ferido e teria de ser carregado, quase todos ostentavam ferimentos mais ou menos ligeiros, com exceção de Lemi que estava pálido de cansaço, ofegante e com a cabeça entre os joelhos.</p> <p>Apesar de terem causado bastantes vítimas, o resultado era pior para eles. Os homens-macacos ganharam o combate.</p> </font></div> <p> </p> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"> <p align="center"> </p> <p align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/o-cla-do-leao-da-montanha.html"><img title="Clã do Leão da Montanha" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="Clã do Leão da Montanha" src="https://drive.google.com/uc?id=1j3D9aKcS5cxOhH8MZ2DNjWNNENcGJ--6" width="268" height="166" /></a></p> <p align="center"><a title="O Clã do Leão da Montanha" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/o-cla-do-leao-da-montanha.html"><font color="#00ff00">Parte 2 – O Clã do Leão da Montanha</font></a></p> <p align="center"></p> </td> <td align="center"><a title="Parte 4 - Lambendo as Feridas" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/11/lambendo-as-feridas.html"><img title="4 - Lambendo as feridas" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="4 - Lambendo as feridas" src="https://drive.google.com/uc?id=1G8sRiY2suF8VgUg7gR3AnwFERYmcPkHh" width="222" height="160" /> </a> <p align="center"><font color="#00ff00">Parte 4 – Lambendo as feridas</font></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1Eb_H3J6_KXY6WStggSAvH_ywl31eJUFR" width="244" height="135" /></a> <p align="center"><a title="Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><font color="#00ff00">Introdução – Na Madrugada dos tempos</font></a></p> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-71549887750187361372022-09-29T00:00:00.015+01:002022-11-29T08:02:51.140+00:00O Clã do Leão da Montanha<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIiPJPVV4UlBL6pzPBziZI_2vrxXOSsTiiYMtfu_zpEnKo-H4tH5eTx19J5FC5nxPzaYD4KKHDE8nJhMW2k_AjjwkfjItqwmCYTf_ZlkFtYi85342U9UDZND3bvp_gEXZYfMVN1_sNYVEoUoD1yiLUds3z8KNoCRhqSdXGga59oQIt3AbACo8hinemEg/s800/Cl%C3%A3%20do%20Le%C3%A3o%20da%20Montanha.jpg"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIiPJPVV4UlBL6pzPBziZI_2vrxXOSsTiiYMtfu_zpEnKo-H4tH5eTx19J5FC5nxPzaYD4KKHDE8nJhMW2k_AjjwkfjItqwmCYTf_ZlkFtYi85342U9UDZND3bvp_gEXZYfMVN1_sNYVEoUoD1yiLUds3z8KNoCRhqSdXGga59oQIt3AbACo8hinemEg/w640-h320/Cl%C3%A3%20do%20Le%C3%A3o%20da%20Montanha.jpg" width="640" height="320" data-original-height="400" data-original-width="800" /></a></div> <p align="center"> Na Madrugada dos Tempos – Parte 2</p> <blockquote> <p align="right"><i><font face="Georgia">Há pessoas que são excelentes a executar, mas que não querem liderar, têm medo, não querem tomar decisões. Essas não servem para líderes. Mas fazem coisas que os líderes não fazem.</font></i></p> </blockquote> <font face="Georgia"></font> <p align="right"><i><font face="Georgia">Belmiro de Azevedo</font></i></p> <font face="Georgia"></font> <p align="right"><i><font face="Georgia">Empresário e industrial português</font></i></p> <font face="Georgia"></font> <p align="right"><i><font face="Georgia">(1938-2017)</font></i></p> <font face="Georgia"></font> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Uma cabeça espreitou sobre a crista do monte; primeiro apenas um, mas, depois outros se lhe seguiram nervosamente. O vento gelado soprava e pequenos flocos de neve esvoaçavam, colando-se ao rosto e cabelos deles. Havia vários dias que o céu estava coberto de chumbo e a temperatura caíra a pique assinalando o fim daquele verão envergonhado. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Eram um grupo heterogéneo; cerca de vinte homens e mulheres, uns com grossas túnicas de lã e outros cobertos com peles mal curtidas. Todos traziam cabelos compridos que usavam soltos ou amarrados em tranças, alguns dos homens também tinham tranças nas longas barbas. Tinham os rostos e as barbas cobertos de lama branca onde pintaram riscas de carvão. Empunhavam lanças com pontas de pedra lascada e machados do mesmo material.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Assim que subiram aquele monte perceberam que haviam chegado ao seu destino; após a descida que se seguia, a terra lançava-se novamente em abrupta subida para outro monte ainda mais alto que ostentava na sua face a abertura de uma enorme gruta onde tremeluzia a luz de uma fogueira. Haviam partido da aldeia ainda de noite, para chegarem ao raiar do dia. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Baixaram-se, ocultando-se de novo atrás da crista e olharam uns para os outros.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Chegamos. — Anunciou desnecessariamente com voz grave o homem que ostentava várias tranças no cabelo e na barba cobertos de barro branco. — É ali que eles vivem.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— E agora, como fazemos? — Perguntou um dos mais velhos, com grandes barbas raiadas de pelos brancos. — Atacamos enquanto ainda dormem?</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— É o melhor! — Considerou um dos mais novos. — Eles são mais fortes do que nós, qualquer um deles pode com dois de nós… nem sequer sabemos quantos ali estão. Sabes, pai? — Dirigiu-se ao das tranças.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Não, Asil, não sei. — O homem brincou pensativamente com uma das tranças da barba. — Nunca vimos grupos de caça maiores do que três ou quatro acho que serão poucos mais do que nós, se contarmos as mulheres que possam estar lá.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">— Tens de decidir, Erem. — Exigiu o mais velho para o das tranças. — Era o teu filho e meu sobrinho, mas tu é que és o chefe. Foi a ti que escolhemos seguir.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">O visado fitou o tio Lemi pensativamente. Quantas vezes vira nele o pai, Birol, tão parecidos que eram. Chegou mesmo a pensar se ele o tinha mesmo seguido ou deixara o irmão a pedido deste para proteger o filho.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Já se havia passado muito tempo desde que abandonaram o clã do Rio Brilhante. Asil era ainda uma criança de colo e Naci crescia na barriga de Zia. Apesar dos desacordos frequentes com o pai, a vida era boa. Não havia fome entre eles; as mulheres enterravam algumas sementes que, junto com as cabras montesas que aprisionavam, as frutas que conseguiam apanhar e a caça abundante, dava para satisfazer a todos. Nos últimos tempos, porém, o seu mundo modificava-se; o chão tremia com frequência e o lago salgado, junto do qual se haviam fixado, alargava-se cada vez mais.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">O Xamã dizia que era o Rio Brilhante que enchia o lago, mas ninguém percebia como é que, com tanta água doce, as águas continuavam salgadas.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Gradualmente, os pequenos lameiros que semeavam foram sendo engolidos e a própria aldeia estava novamente ameaçada. A incerteza pairava sobre eles; uns queriam simplesmente continuar a afastar-se um pouco de cada vez, à medida que as margens cresciam, outros queriam ir para nascente, de onde era originário um dos genros de Birol. O chefe, porém, decidiu que rumariam a poente a caminho da gigantesca cascata que um outro clã disse que engordava o “seu” lago; teria de ser a sua vontade a prevalecer. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Foi o filho do chefe, no entanto, o causador da dissensão; queria seguir as estrelas-guias, escalar as montanhas para as terras altas e entrar no território dos homens-macaco. Muitos anos antes dele nascer, estavam ainda cobertas de gelo, mas agora eram grandes extensões verdejantes com manadas de auroques, gazelas e alguns mamutes. Não queria seguir o pai e Birol, que era um grande líder amado por todos, aceitou a decisão do filho com grande tristeza. O clã do Rio Brilhante, cuja dimensão de mais de cem elementos era extremamente invulgar, ficou reduzido a menos de setenta.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Erem e a sua companheira Zia com os seus quatro filhos, dois deles já com mulher e crianças, fizeram-se acompanhar de dois irmãos dele e três dela com respetivas famílias, além do tio Lemi, as suas duas mulheres e toda a descendência, formaram um novo clã com cerca de trinta almas. Do alto de um promontório acenaram o adeus a Birol e aos seus companheiros no fundo do vale, que partiam ao longo da margem do lago salgado, rumo ao sol poente. Aquele promontório tinha a forma de uma cabeça de leão e resolveram assumir esse nome; assim nascia o clã do Leão da Montanha.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Cedo conseguiram deixar as tendas e construir casas em pedra ou madeira que cercavam pequenos campos onde cresciam alguns legumes e vagueavam as cabras do rebanho comum. Nasceram mais crianças, embora também tenham morrido algumas e alguns adultos também. Os acidentes na caça e as doenças aconteciam e os recém-nascidos por vezes morriam à nascença ou com poucos dias de vida, mas o saldo era positivo e agora eram quase quarenta indivíduos.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Nos primeiros tempos, Erem ainda fez deslocações esporádicas à Pedra da Cabeça de Leão para olhar as terras baixas de onde viera, na esperança de ver Birol e os seus homens. Mas em vez disso, via como o lago se tornava descomunal, a outra margem perdendo-se de vista e poucos animais se divisavam junto das águas salobras.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Tiveram quase logo alguns recontros violentos com pequenos grupos de homens-macaco e isso raramente acontecia no vale do lago salgado pois normalmente não desciam lá, mas Erem já sabia que este era o território deles. Quem os batizara, fora alguém do clã de Birol dizendo que, cabeludos como eram, pareciam os macacos que viviam nas árvores do outro lado do lago salgado. Eles mantinham-se à distância e fugiam à sua aproximação dos membros do clã, o problema era que, quando a caça escasseava, tornavam-se mais atrevidos, atacavam os caçadores, ou roubavam a carne que secava ao pé das fogueiras. </font></p> <font face="Georgia"></font> <p><font face="Georgia">Normalmente, os confrontos cingiam-se a uma troca de pancadas com as lanças grossas que usavam, ou algumas pedradas para afugentar, mas o último deles fora o pior; os caçadores reagiram e não deixaram que os homens-macaco levassem a caça. Além dos costumeiros braços partidos e cabeças rachadas, também os atacantes levavam alguns feridos com eles, mas Nuri, o filho mais novo de Erem e Zia ficara caído sem vida; uma pancada na cabeça fora-lhe fatal.</font></p> <font face="Georgia"></font> <p> </p> </div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"> </div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3" face="Georgia"></font></div> <table cellspacing="0" border="0"><tbody> <tr> <td align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/08/o-enterro.html"><img title="O Enterro" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="O Enterro" src="https://drive.google.com/uc?id=1impYcXIoLEyp22QS5mwFDZ0vBhA9cdTR" width="244" height="164" /></a> <p align="center"><a title="O Enterro" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/08/o-enterro.html">Parte 1 – O Enterro</a></p> </td> <td align="center">   <a title="Parte 3 - O Ataque" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/10/o-ataque.html"><img title="O ataque" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="O ataque" src="https://drive.google.com/uc?id=1z4wgoiXrqqmQ0XJr-AOAXUGo4bZSoae7" width="242" height="163" /></a> <p align="center"><a title="O Ataque" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/10/o-ataque.html">Parte 3 – O Ataque</a></p> </td> </tr> <tr> <td valign="top"><a title="Na Madrugada dos Tempos - Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="display: inline; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1oVdrROFF0YOIGjLXQLlZdGnAlRcBC7SB" width="244" height="135" /></a> <p align="center"><a title="Introdução" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Introdução – Na Madrugada dos tempos</a></p> </td> <td valign="top"> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-52673346916821654372022-08-29T00:37:00.002+01:002022-10-24T11:20:26.108+01:00O Enterro<div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjwo9l9OBDdlqj96fxvBcwisiX4PkovIQkB7AV97HydZ2M6IAGiuz7Ap4H5r1AfnI-OZ47U1gq1Dg1ZcMR0c1YQNSwDCOwGUWPB9JAgOteL60f4rCo5Ae2ZU9aJjiYIv8rEH33X7vN6Kc91TQdfIUcMC9rbNLFzmLhWApp69zGc9en2A5I4QaP9CtWcA/s5184/0ca84fd55cf0f496f1fffc92e44a12ca.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjwo9l9OBDdlqj96fxvBcwisiX4PkovIQkB7AV97HydZ2M6IAGiuz7Ap4H5r1AfnI-OZ47U1gq1Dg1ZcMR0c1YQNSwDCOwGUWPB9JAgOteL60f4rCo5Ae2ZU9aJjiYIv8rEH33X7vN6Kc91TQdfIUcMC9rbNLFzmLhWApp69zGc9en2A5I4QaP9CtWcA/w400-h266/0ca84fd55cf0f496f1fffc92e44a12ca.jpg" width="400" height="266" data-original-width="5184" data-original-height="3456" /></a></div> <br />  <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"> <p align="center">Na Madrugada dos Tempos – Parte 1</p> <blockquote> <p align="right">É incerto o lugar onde a morte te espera; </p> <p align="right">espera-a, pois, em todos os lugares.</p> <p align="right">Séneca</p> <p align="right">(Filósofo romano do século I)</p> </blockquote> <p>Ouvia-se o choro soluçante fora da casa redonda erguida com pedras e lama, coberta por um telhado de colmo e com a entrada tapada por uma cortina de cor incerta. Lá dentro, uma mulher de cabelo desgrenhado e rosto sujo, vestindo uma túnica grosseira e comprida de pano cru, pranteava desconsoladamente. Estava sentada no chão de terra e com os pés descalços na cova recentemente escavada no centro da única divisão, mesmo ao lado dos restos queimados e apagados da madeira com que diariamente se aqueciam. Os lamentos dela produziam pequenas nuvens de vapor no ar gelado da tarde de inverno.</p> <p>Do exterior ouviam-se mais gemidos de mulheres misturados com as vozes iradas de homens e essa algazarra irritava-a e fazia-a querer chorar ainda mais alto.</p> <p>Dois homens vestidos de enormes cabeleiras e barbas hirsutas, envergando túnicas de pele curtida, afastaram a cortina e entraram, algo a medo e depositaram braçados de três ou quatro seixos do rio, cada um maior que o tamanho de dois punhos, ao lado da fogueira apagada. Assim que saíram, outros dois se lhe seguiram e assim continuou até se formar uma pilha que dava pela altura dos joelhos.</p> <p>Fez-se um silêncio repentino do lado de fora e só o choro da mulher, agora murmurando uma ladainha incompreensível se fazia ouvir.</p> <p>Um coro de uma cantilena chorosa começou no exterior, destacando-se as vozes agudas femininas e sons guturais masculinos.</p> <p>Outros dois homens entraram, os seus cerdosos cabelos e barbas estavam cobertos de cinzas e transportavam, pendurado pelos braços e pernas, o corpo franzino e inanimado de um jovem onde ainda mal despontara a barba. O corpo pálido, magro e ossudo, envergava apenas uns pequenos trapos de pano cru por bragas.</p> <p>— Cala-te mulher! — Censurou asperamente o recém-chegado mais velho. — Já chega!</p> <p>— Eu é que sei se chega! — Ripostou de imediato a mulher, o rosto sujo de cinza borratado pelas lágrimas era uma máscara de terror. — Era o meu filho e choro-o como e quanto quiser! — Tirou os pés da cova e sem se levantar, virou as costas aos dois homens.</p> <p>O corpo foi depositado cuidadosamente em posição fetal no buraco, sem esquecer o cuidado de lhe colocar uma das mãos sob a cabeça, como se estivesse adormecido. Tinha sido cuidadosamente lavado e várias nódoas negras destacavam-se na pele quase transparente. A seu lado, ao alcance da mão, colocaram-se respeitosamente uma lança de madeira e um machado cuja lâmina era composta de uma pedra chata cuidadosamente afiada. Próximo da cabeça, depositaram uma lebre morta, um recipiente de barro com azeitonas e outro com nozes. Junto da cinta pousaram uma cabaça com água.</p> <p>O homem mais velho empurrou a mulher para o lado com um safanão e um empurrão para se poderem chegar ao monte de godos brancos. Os seixos foram usados primeiro para preencher todos os espaços livres à volta do corpo e depois para o cobrir e, assim que já nada era visível, começaram a cobrir a sepultura deitando a terra com os pés e as mãos.</p> <p>Lá fora a cantoria transformara-se numa algazarra de machos que gritavam e se instigavam como se numa luta estivessem, enquanto corriam e cabriolavam em volta do casebre enquanto em fundo as fêmeas carpiam alto.</p> <p>Assim que os dois homens terminaram a cobertura, quase em simultâneo, a cantoria terminou repentinamente. O mais novo saiu da casa passando exatamente por cima da sepultura acabada de tapar e logo um outro entrou e passou pelo mesmo sítio, tornando a sair e assim sucessivamente até todos os elementos masculinos passarem, pelo local e só o homem mais velho e a mulher ali restarem em pé junto da campa.</p> <p>Agarraram os restos apagados da fogueira e colocaram-nos sobre a sepultura recente, para que mais logo se acendesse o fogo que aqueceria a todos, agora aconchegado pelo elemento da família que partira.</p> <p>O homem gritou com a mulher que continuava a chorar e deu-lhe uma lambada que a atirou ao chão. Ela ergueu-se de um salto e gritou com ele batendo-lhe por sua vez. Trocaram uma sequência de socos e tabefes entre eles, sendo evidente que que a força masculina iria prevalecer.</p> <p>A cortina da entrada abriu-se bruscamente e entraram dois homens armados com lanças.</p> <p>— Que estás a fazer pai? — Perguntou o mais alto deles. — Vais ficar aí a gritar e a carpir como as mulheres?</p> <p>— Se não vieres, não és mais filho do meu irmão! — Vociferou o outro.</p> <p>Foi a vez da fêmea empurrar o macho, agarrar com força uma lança que estava encostada à parede e colocar-se sobre as cinzas e lenhos acabados de colocar.</p> <p>— Se ele não tem coragem de ir vingar o filho, tenho eu! — Exclamou a mulher altivamente. — Tanto posso empunhar a lança para matar um porco bravo, como para matar o assassino do meu filho!</p> <p>Do lado de fora, obviamente escutaram-se as palavras de desafio e um coro de gritos guerreiros responderam ao apelo.</p> <p>— Temos de ir atrás daqueles homens-macaco, invadir as grutas e acabar com todos! — Sentenciou o outro homem. — Como são mais fortes que nós, não conseguimos disputar-lhes a caça e roubam-nos aquilo que caçamos. Mas chega! Verão que não temos medo deles e não tornarão a fazer mal a um dos nossos!</p> </div> <p> </p> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"> </div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"><font size="3" face="Georgia"></font></div> <table cellspacing="0" cellpadding="2" border="0"><tbody> <tr> <td valign="top"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html"><img title="Na Madrugada dos Tempos" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Na Madrugada dos Tempos" src="https://drive.google.com/uc?id=1l__dDebxZoFszCXatJ5fpy0O2IjhWgCe" width="255" height="162" /></a> <p align="center"><a href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/na-madrugada-dos-tempos.html">Na Madrugada dos Tempos – Introdução</a></p> </td> <td valign="top"><a title="Parte 2 - O Clã do Leão da Montanha" href="https://debaixodosceus.blogspot.com/2022/09/o-cla-do-leao-da-montanha.html"><img title="Clã do Leão da Montanha" style="margin-right: auto; margin-left: auto; float: none; display: block; background-image: none;" border="0" alt="Clã do Leão da Montanha" src="https://drive.google.com/uc?id=1u79-keu0UDjGxKXUUgjzby_i-xSPWwwl" width="250" height="162" /> <p align="center">Parte 2 – O Clã do Leão da Montanha </p> </a></td> </tr> <tr> <td valign="top"> </td> <td valign="top"> </td> </tr> </tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-7883346783855177592022-08-24T23:42:00.008+01:002024-03-13T08:06:03.036+00:00Na Madrugada dos Tempos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitaOaDtwTSK-02K7Idg8MxL5dPTCHL0YMt8phfLriD2l0braSDnj9_Dv7XTl1GFAOpzpY_0vFPVC42uQTLMkE-WR2GHO440qG61WRgg3ZT7IhZZ2nZOB7bd5Lzd7zF4Y7hG-xLSwrNtRaZROF5dD0_3UAhbYWmgFjcVVKbQdmZQX0TCHvaV-yHKMz8V7uA/s750/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="410" data-original-width="750" height="350" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEitaOaDtwTSK-02K7Idg8MxL5dPTCHL0YMt8phfLriD2l0braSDnj9_Dv7XTl1GFAOpzpY_0vFPVC42uQTLMkE-WR2GHO440qG61WRgg3ZT7IhZZ2nZOB7bd5Lzd7zF4Y7hG-xLSwrNtRaZROF5dD0_3UAhbYWmgFjcVVKbQdmZQX0TCHvaV-yHKMz8V7uA/w640-h350/Na%20Madrugada%20dos%20Tempos-Projeto.jpg" title="Na Madrugada dos Tempos" width="640" /></a></div> <div> </div> <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> </div> <div class="MyNormal" style="line-height: 1.6; text-align: justify; text-indent: 30pt;"><font face="Georgia" size="3">Em “Na Madrugada dos Tempos” é contada uma história passada na alvorada da civilização e, embora me tenha preocupado com o rigor da evolução da cultura humana na europa, este trabalho não é, nem pretende ser, um documento histórico.</font></div> <div class="MyNormal" style="line-height: 1.6; text-align: justify; text-indent: 30pt;"><font face="Georgia" size="3">Através da história do Clã do Leão das Montanhas, conta-se um pouco do que seria a vida no final do período Neolítico (cerca de 3.000 a.c.) onde se incluíram os efeitos do degelo da última glaciação e o renascimento do mar mediterrâneo, que esteve quase seco, embora há cerca de 6 milhões de anos.</font></div> <div class="MyNormal" style="line-height: 1.6; text-align: justify; text-indent: 30pt;"><font face="Georgia" size="3">A convivência dos humanos modernos com os últimos Neandertal é outro dos temas abordado, no entanto, não eram estes últimos o perigo principal para o clã, mas sim o progresso da própria espécie; o aparecimento dos metais e o fim da idade da pedra vão ditar grandes alterações na sua vida e cultura. A capacidade de adaptação, uma vez mais, será a chave para a sobrevivência.</font></div> <div class="MyNormal" style="line-height: 1.6; text-align: justify; text-indent: 30pt;"><font face="Georgia" size="3">Assim sendo, venha comigo nesta viagem e recue mais de cinco mil anos para viver a epopeia de Erem e Zia num mundo inclemente e selvagem onde só sobrevive o mais hábil e forte.</font></div> <div class="MyNormal" style="line-height: 1.6; text-align: justify; text-indent: 30pt;"></div><br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br /></div><br /><table>
<tbody><tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTZX9bkwlaQuYqTV0cdv_vyoMUbXj4wmBOLpidmMDnGxOjPKxaKr4UiP4kJgRdnYRtcBYOvNa22y5WuDRC9RqTTIt5Ro_hWWU07THzp3TFL997rhRuLrETXI6Tr1ut8tXMEtpS0VWUYSWn1Jq-hL0uuyUTzuyjLRmjTc7_aBvlFHTzeTXqhI-b5l7Ah7GF/s800/1%20-%20O%20Enterro.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTZX9bkwlaQuYqTV0cdv_vyoMUbXj4wmBOLpidmMDnGxOjPKxaKr4UiP4kJgRdnYRtcBYOvNa22y5WuDRC9RqTTIt5Ro_hWWU07THzp3TFL997rhRuLrETXI6Tr1ut8tXMEtpS0VWUYSWn1Jq-hL0uuyUTzuyjLRmjTc7_aBvlFHTzeTXqhI-b5l7Ah7GF/w200-h133/1%20-%20O%20Enterro.jpg" title="1 - O Enterro" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/08/o-enterro.html">1 - O Enterro</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3AGJGuqAZCj_eShTfSMx9RWCauzmu_HKp0z37O2mDxa0yFs3O7YmhAmAzeY7l2RGIIbx3QYCo-1NvoRmbRwo9PXad9f1YklqMBWGQ_JbAxssZXNNg-emHdw8GlfMy6Jp2MPesY4V5NcVE5mxkq9S_0a5uRC0qU0BMWfDe7IChE6zhQvrCmRTUOARQNROW/s800/2%20-%20Cl%C3%A3%20do%20Le%C3%A3o%20da%20Montanha.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh3AGJGuqAZCj_eShTfSMx9RWCauzmu_HKp0z37O2mDxa0yFs3O7YmhAmAzeY7l2RGIIbx3QYCo-1NvoRmbRwo9PXad9f1YklqMBWGQ_JbAxssZXNNg-emHdw8GlfMy6Jp2MPesY4V5NcVE5mxkq9S_0a5uRC0qU0BMWfDe7IChE6zhQvrCmRTUOARQNROW/w200-h133/2%20-%20Cl%C3%A3%20do%20Le%C3%A3o%20da%20Montanha.jpg" title="2 - O Clã do Leão da Montanha" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/09/o-cla-do-leao-da-montanha.html">2 - Clã do Leão da Montanha</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP2xZw1jcaPwK9HUd7dSn8GTFhzrHVwbqtZg0co0pVdNXogBP02IVQemOrCVUA3SyfCh5pBNmLIGmgy6HQN2o2wOYUnndTgCLNQ7HbBgtg-uXrccsQExVSjy3rzSl_fn-sPSYgf0aad3R2BbG9sQVpu3g9xCywlhxFa9uAM06LVTPBtTPgJxbBRlavNn8n/s800/3%20-%20O%20ataque.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgP2xZw1jcaPwK9HUd7dSn8GTFhzrHVwbqtZg0co0pVdNXogBP02IVQemOrCVUA3SyfCh5pBNmLIGmgy6HQN2o2wOYUnndTgCLNQ7HbBgtg-uXrccsQExVSjy3rzSl_fn-sPSYgf0aad3R2BbG9sQVpu3g9xCywlhxFa9uAM06LVTPBtTPgJxbBRlavNn8n/w200-h133/3%20-%20O%20ataque.jpg" title="3 - O Ataque" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/10/o-ataque.html">3 - O Ataque</a></td></tr></tbody></table></td>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaCMYjf6Hy0dkl9z6bfx8RnZENQz9Ob7JLvYvOQB6pLeykSn8eaS0BdD13bhjfH0tSKt9GGrq24MNj199OCE9xfLXHiYLog-2P1sc5_hpRICCN36h3nVQJuezIQfT90WPaesQuL0gygIqfmLrY18zVeKUUe4-sKPf5d8K_gT627qwpo60MMAk0jRJOrDgH/s800/4%20-%20Lambendo%20as%20feridas.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" height="133" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaCMYjf6Hy0dkl9z6bfx8RnZENQz9Ob7JLvYvOQB6pLeykSn8eaS0BdD13bhjfH0tSKt9GGrq24MNj199OCE9xfLXHiYLog-2P1sc5_hpRICCN36h3nVQJuezIQfT90WPaesQuL0gygIqfmLrY18zVeKUUe4-sKPf5d8K_gT627qwpo60MMAk0jRJOrDgH/w200-h133/4%20-%20Lambendo%20as%20feridas.jpg" title="4 - Lambendo as Feridas" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/11/lambendo-as-feridas.html">4 - Lambendo as Feridas</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk7OioC9U-MnbCpDpjnAtZqghDZrYvDe62NcPOSb7jAc-iFBNNLRtGjfO7XpXThiufjRJTaKPtlyG44VEtxVkwcROqthESyz4wAVIY-DzyDPRA2IN5U9Ph5kE6ZY21DeS_oRx6N9xf4fnuZ8hYFpWu_U8VIBoUHcO8nvbFLbVKuV78Ph_v_dNVVuRGyY8-/s800/5%20-%20Os%20Deuses%20e%20os%20Homens.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhk7OioC9U-MnbCpDpjnAtZqghDZrYvDe62NcPOSb7jAc-iFBNNLRtGjfO7XpXThiufjRJTaKPtlyG44VEtxVkwcROqthESyz4wAVIY-DzyDPRA2IN5U9Ph5kE6ZY21DeS_oRx6N9xf4fnuZ8hYFpWu_U8VIBoUHcO8nvbFLbVKuV78Ph_v_dNVVuRGyY8-/s200/5%20-%20Os%20Deuses%20e%20os%20Homens.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2022/12/os-deuses-e-os-homens.html">5 - Os Deuses e os Homens</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim1KhS9CwLI8zUCMwAcRozd7B1IYo09Q2LInQfNBCq222tAMny9bcHX4FtH13ojCApDgD4zf24bGJaXZ5dn-BkUFdRnkEz1Wd6DmqkNr7KRq3kaLb6t4Hnc-OSfdSt_xBNE0v4Jh4BWNuKwobHapDzOWsi62CCeODftNmjL0MgwG1occg4MY0UuJ-SwKbL/s800/6%20-%20Os%20Outros%20Homens.png" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEim1KhS9CwLI8zUCMwAcRozd7B1IYo09Q2LInQfNBCq222tAMny9bcHX4FtH13ojCApDgD4zf24bGJaXZ5dn-BkUFdRnkEz1Wd6DmqkNr7KRq3kaLb6t4Hnc-OSfdSt_xBNE0v4Jh4BWNuKwobHapDzOWsi62CCeODftNmjL0MgwG1occg4MY0UuJ-SwKbL/s200/6%20-%20Os%20Outros%20Homens.png" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/01/os-outros-homens.html">6 - Os Outros Homens</a></td></tr></tbody></table></td>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeeP-_moszCmPn8nGTdG7oBB5-z7Tu2NsdE_MjPKG8i7BEMb_6d9WMGd5lJCB4IM1DbKobx9LOa_vIOvNIuNXeWpEFJ1PVlw4UK-OBYGalsDU_Uw3Z7taVOOR7nEMSIILALMIYZStn8sNhMTzPyq9ckdXNPr05jpUhTmYok0ahKZC1oIV4J0K0d_ayXnrO/s800/7%20-%20A%20Obra%20Nasce.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeeP-_moszCmPn8nGTdG7oBB5-z7Tu2NsdE_MjPKG8i7BEMb_6d9WMGd5lJCB4IM1DbKobx9LOa_vIOvNIuNXeWpEFJ1PVlw4UK-OBYGalsDU_Uw3Z7taVOOR7nEMSIILALMIYZStn8sNhMTzPyq9ckdXNPr05jpUhTmYok0ahKZC1oIV4J0K0d_ayXnrO/s200/7%20-%20A%20Obra%20Nasce.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/02/a-obra-nasce.html">7 - A Obra Nasce</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz86YJGR1qhDwgmqWTy6uCBHS8AVF_v4R7fxlYloLyHkBjGK3FimvibIk6ruetp_UV_eywD1QTJAnZ6EkQv8o8bGxJuMiSvh3hXDKjsqUjG8ICw8CE9iuWoRD5JVdXY_9hzVO48AP3jXIDu2lpO1KljOythdYSuG9uFSWLZ-SJkxjky8WgQgpxi1vl20kx/s800/8%20-%20O%20Mundo%20Pula%20e%20Avan%C3%A7a.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiz86YJGR1qhDwgmqWTy6uCBHS8AVF_v4R7fxlYloLyHkBjGK3FimvibIk6ruetp_UV_eywD1QTJAnZ6EkQv8o8bGxJuMiSvh3hXDKjsqUjG8ICw8CE9iuWoRD5JVdXY_9hzVO48AP3jXIDu2lpO1KljOythdYSuG9uFSWLZ-SJkxjky8WgQgpxi1vl20kx/s200/8%20-%20O%20Mundo%20Pula%20e%20Avan%C3%A7a.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/03/o-mundo-pula-e-avanca.html">8 - O Mundo Pula e Avança</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpv8OFG1PkVK1MenVCfkY521ggUe-zzqjX9Gm-trgCcXQ2w-pbZLtKtB5ZkTRECns9c7Tr44pmAGYQ06F79aMkNhmLP4cvGuI9BmTT2xuUqB7_zCiyALZKfEQbVU5V9nQQ-TG2amfnS7eaRIlINmks-rZlrdwZhegg_wqNqIydfEzQM_ISDMtBngFiOJhM/s800/9%20-%20Velhos%20Inimigos.jpeg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgpv8OFG1PkVK1MenVCfkY521ggUe-zzqjX9Gm-trgCcXQ2w-pbZLtKtB5ZkTRECns9c7Tr44pmAGYQ06F79aMkNhmLP4cvGuI9BmTT2xuUqB7_zCiyALZKfEQbVU5V9nQQ-TG2amfnS7eaRIlINmks-rZlrdwZhegg_wqNqIydfEzQM_ISDMtBngFiOJhM/s200/9%20-%20Velhos%20Inimigos.jpeg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/04/velhos-inimigos.html">9 - Velhos Inimigos</a></td></tr></tbody></table></td>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm5fPHkUIe8URIC17AyyQsToJvsHwlAfJ4j3HtHNYCqMD9xfpv7AFtStoKPn-EVGMuPXRjnDqC2Yn2jivZ246knRh_7l5JlDqN5sdkU9K3kwxL3UoPBTsVTxKZgXpYnMVAbq0BxYq0ySg1OGgKVgmo15MeVIbDT-hBthQKRyY9Cy-KqZ8fN6hxvtb7TAPO/s800/10%20-%20Olho%20por%20Olho.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjm5fPHkUIe8URIC17AyyQsToJvsHwlAfJ4j3HtHNYCqMD9xfpv7AFtStoKPn-EVGMuPXRjnDqC2Yn2jivZ246knRh_7l5JlDqN5sdkU9K3kwxL3UoPBTsVTxKZgXpYnMVAbq0BxYq0ySg1OGgKVgmo15MeVIbDT-hBthQKRyY9Cy-KqZ8fN6hxvtb7TAPO/s200/10%20-%20Olho%20por%20Olho.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/05/olho-por-olho.html">10 - Olho por Olho</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4q7D4pGmyLQM73sHuICgJxSGVxoxn8QvmMgFNtjsQkPYrAmeqFgt1ySHmGxhbstD222j8IzbMJy66JNlsYhr0SS5djwtDGoel-l0bk-Bt43-KXPBctU4NEypOAckdRxnWCry705ZtR3Xf9hVhFUsbqt5lRyIVCq0fxNeER97Kiui5kJHBzZLI9HAopbMW/s800/11%20-%20O%20Povo%20de%20Barinak.png" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4q7D4pGmyLQM73sHuICgJxSGVxoxn8QvmMgFNtjsQkPYrAmeqFgt1ySHmGxhbstD222j8IzbMJy66JNlsYhr0SS5djwtDGoel-l0bk-Bt43-KXPBctU4NEypOAckdRxnWCry705ZtR3Xf9hVhFUsbqt5lRyIVCq0fxNeER97Kiui5kJHBzZLI9HAopbMW/s200/11%20-%20O%20Povo%20de%20Barinak.png" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/06/o-povo-de-barinak.html">11 - O Povo de Barinak</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB7xInGlAc4Br_n4etM1eUADbRKNhkgevW4VZGcqqMp2ES6Dm4fqSNFZ1B2a-FkrbWMSwQfEhCrh651kMN_BfdMAxJOSDOINOBEIiUSSI3BKCxHT2JrHo_P_3ncn4WlnUi0aHNiM5az94PgbCNubTUIBEnh7G-1hH74FwPTqdkA3MicOmgDasfnnUfZXao/s800/12%20-%20As%20Apar%C3%AAncias%20Iludem.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB7xInGlAc4Br_n4etM1eUADbRKNhkgevW4VZGcqqMp2ES6Dm4fqSNFZ1B2a-FkrbWMSwQfEhCrh651kMN_BfdMAxJOSDOINOBEIiUSSI3BKCxHT2JrHo_P_3ncn4WlnUi0aHNiM5az94PgbCNubTUIBEnh7G-1hH74FwPTqdkA3MicOmgDasfnnUfZXao/s200/12%20-%20As%20Apar%C3%AAncias%20Iludem.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/07/as-aparencias-iludem.html">12 - As Aparências Iludem</a></td></tr></tbody></table></td>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYhcjBg-z-IFRd9K063rgw5QG4GmXxR2zxCbymHq1lGytkZsqTvuGQSJuUOYzjJEqDFiCF9Zbtn1YfaNHj7mWQVUat8OKcln5Co8rR4OzEL5lj4VweT1pQHhLEem8akK8V2d_P8ZuPS5HLYgHRqPr0XKZC9CDY4teVi3XXSqPie0xfVw91nR6Q0v3_xxlP/s800/13%20-%20O%20Cativo.png" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjYhcjBg-z-IFRd9K063rgw5QG4GmXxR2zxCbymHq1lGytkZsqTvuGQSJuUOYzjJEqDFiCF9Zbtn1YfaNHj7mWQVUat8OKcln5Co8rR4OzEL5lj4VweT1pQHhLEem8akK8V2d_P8ZuPS5HLYgHRqPr0XKZC9CDY4teVi3XXSqPie0xfVw91nR6Q0v3_xxlP/s200/13%20-%20O%20Cativo.png" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/08/o-cativo.html">13 - O Cativo</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhdbTLqNzerPaqEVt35AEGzebgqb4FTNVVDmqZ2t7DNiyCOpdTCdzXa0BUoXB0FHNVvDHRlRZ6q8x_z_GTmhCb6l9rqxvZ8-9Xc3OTsQu9snVGhgrxYdjXrsEZfzEcwQnNwLmRx3Xu6ai5Cltl_JK2kfw7_I2lQ-_VyvlVS1BoHN70ZF61LVft5x2Xm6hn/s800/14%20-%20Decis%C3%A3o%20Dific%C3%ADl.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhdbTLqNzerPaqEVt35AEGzebgqb4FTNVVDmqZ2t7DNiyCOpdTCdzXa0BUoXB0FHNVvDHRlRZ6q8x_z_GTmhCb6l9rqxvZ8-9Xc3OTsQu9snVGhgrxYdjXrsEZfzEcwQnNwLmRx3Xu6ai5Cltl_JK2kfw7_I2lQ-_VyvlVS1BoHN70ZF61LVft5x2Xm6hn/s200/14%20-%20Decis%C3%A3o%20Dific%C3%ADl.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/09/decisao-dificil.html">14 - Decisão Difícil</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_IInfUs2Wi93MOJ8iDSN1lf242Rl4XY4kzzGZmNLBimoFDrAaOKOtanStyZxeI-EyamHZYqC-LJingxsgmFChbZCbhJzEvzkLaNYBf_XexpUhz06JoMbM8cJN9KnBO8Fcef9701dq_E5qhVIWMjBwO2EctypxNVG4JDAu7H_hTb3DSQGu67YGHMX8bKVt/s800/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_IInfUs2Wi93MOJ8iDSN1lf242Rl4XY4kzzGZmNLBimoFDrAaOKOtanStyZxeI-EyamHZYqC-LJingxsgmFChbZCbhJzEvzkLaNYBf_XexpUhz06JoMbM8cJN9KnBO8Fcef9701dq_E5qhVIWMjBwO2EctypxNVG4JDAu7H_hTb3DSQGu67YGHMX8bKVt/s200/15%20-%20Medicina%20Primitiva.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/10/medicina-primitiva.html">15 - Medicina Primitiva</a></td></tr></tbody></table></td>
</tr>
<tr>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC3PEF4QK8vVwYAe-9ltIJgx80326Grqgii6IrAK_MDzh98DbejXGIxpzfvTHhxfSzdkRPNLB6X0Ci3PrefCDYmbcHgX-tkwqqSTgLu9ZsTQQDSLdJQjOeVFDA2uT_bMZvUnxA2QvUIQdddq4NqAZIlLdqA1tQ0V0lSPxv3NzhjtKlaqh6pqvLVKDbadYi/s800/16%20-%20A%20Embaixada.png" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjC3PEF4QK8vVwYAe-9ltIJgx80326Grqgii6IrAK_MDzh98DbejXGIxpzfvTHhxfSzdkRPNLB6X0Ci3PrefCDYmbcHgX-tkwqqSTgLu9ZsTQQDSLdJQjOeVFDA2uT_bMZvUnxA2QvUIQdddq4NqAZIlLdqA1tQ0V0lSPxv3NzhjtKlaqh6pqvLVKDbadYi/s200/16%20-%20A%20Embaixada.png" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/11/a-embaixada.html">16 - A Embaixada</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXYvD5TMzrhN4LItnmt_VYuu101gYCz1OaVPauPG2Vcm1Lcm5c2ttONAMrpTKJ69STOYrEjrfidBjSHcs4cQD4T-WjEW6ysCB7LDaIm9bSZSefpuuAd1ZFkVr6tWSAwWChf62biUdk4Am9jI_CjPgjMHLINQO5sVrm10NKdU44kz7hqoYmjWmdcU1y4sim/s800/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXYvD5TMzrhN4LItnmt_VYuu101gYCz1OaVPauPG2Vcm1Lcm5c2ttONAMrpTKJ69STOYrEjrfidBjSHcs4cQD4T-WjEW6ysCB7LDaIm9bSZSefpuuAd1ZFkVr6tWSAwWChf62biUdk4Am9jI_CjPgjMHLINQO5sVrm10NKdU44kz7hqoYmjWmdcU1y4sim/s200/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2023/12/o-conselho-de-barinak.html">17 - O Conselho de Barinak</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjXYvD5TMzrhN4LItnmt_VYuu101gYCz1OaVPauPG2Vcm1Lcm5c2ttONAMrpTKJ69STOYrEjrfidBjSHcs4cQD4T-WjEW6ysCB7LDaIm9bSZSefpuuAd1ZFkVr6tWSAwWChf62biUdk4Am9jI_CjPgjMHLINQO5sVrm10NKdU44kz7hqoYmjWmdcU1y4sim/s800/17%20-%20O%20Conselho%20de%20Barinak.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="533" data-original-width="800" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhQC8vqFWOhUPtPA2Hp91JHQHSfnXJVlFWnhFNhqAZomRzhlKDaGqfc7CcaG4eRUssnK5kX4h26YXXK4mccp7oj1T53VqhITey4V7sSaZdIDO1AdIcAMaRfPbnjjtVDHdbZwf_uu_PatTRqAbqpHKFsCzic7EivFpV6C9xNcgsNO8TLmpsnhJjLKRgIB4V/s800/18%20-%20Confraterniza%C3%A7%C3%A3o.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/01/confraternizacao.html">18 - Confraternização</a></td></tr></tbody></table></td>
</tr><tr><td><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><tbody><tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo-7JeebI1Np_5H2QybTIbbj9SIbrABeeVp3DffV70ANOJ8uxooxaYhHI2bOFhE2vls7pSapjBIEWcqFwSKctwcFMkhU7e-6bis79xdimvJ20jkYLTSQE45HQqjmTHvGNQJP-AtGbclL3IEkm2x8jPf3bBm5MXKNorw2C_IXVJF98svZk-9KSi1r4aLdJr/s630/19%20-%20Forjando%20Alian%C3%A7as.jpg" style="display: block; margin-left: auto; margin-right: auto; padding: 1em 0px; text-align: center;"><img alt="" border="0" data-original-height="400" data-original-width="630" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjo-7JeebI1Np_5H2QybTIbbj9SIbrABeeVp3DffV70ANOJ8uxooxaYhHI2bOFhE2vls7pSapjBIEWcqFwSKctwcFMkhU7e-6bis79xdimvJ20jkYLTSQE45HQqjmTHvGNQJP-AtGbclL3IEkm2x8jPf3bBm5MXKNorw2C_IXVJF98svZk-9KSi1r4aLdJr/s200/19%20-%20Forjando%20Alian%C3%A7as.jpg" width="200" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;"><a href="https://myblog.debaixodosceus.pt/2024/02/forjando-aliancas.html">19 - Forjando Alianças</a></td></tr></tbody></table></td>
<td><br /></td>
<td><br /></td>
</tr>
</tbody></table>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-429539912048535438.post-80789112524956814262022-06-28T23:51:00.001+01:002022-08-19T22:08:20.552+01:00Erros Meus, Má Fortuna<p> </p> <div class="separator" style="text-align: center; clear: both;"><a style="margin-right: 1em; margin-left: 1em;" href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS3R4gPvcHEwGjygf7BmTtbzkxN33tp6KA8pwJpRpbG_GChxXo16C63WzpcQWWORzuqRCRPG0QlNVhaBaMv6n3A1d-90faUVEay8EbOGMedAsOWhurDe7t_CguZJjQy8PzP3PcNh0wPxTKdphj1c1r5EdSqoDSfpKazJKH_EM3O6HLAsvlkUqKqx0uLw/s963/oldman_bus_stop.jpg" imageanchor="1"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgS3R4gPvcHEwGjygf7BmTtbzkxN33tp6KA8pwJpRpbG_GChxXo16C63WzpcQWWORzuqRCRPG0QlNVhaBaMv6n3A1d-90faUVEay8EbOGMedAsOWhurDe7t_CguZJjQy8PzP3PcNh0wPxTKdphj1c1r5EdSqoDSfpKazJKH_EM3O6HLAsvlkUqKqx0uLw/w400-h300/oldman_bus_stop.jpg" width="400" height="300" data-original-width="963" data-original-height="722" /></a></div> <div class="MyNormal" style="text-align: justify; line-height: 1.6; text-indent: 30pt;"> <br /> <p><font size="3" face="Georgia">Fernando arrastou os sapatos de couro gasto e quase sem brilho, pelo passeio de cimento. Tinha o cabelo castanho cheio de brancas que lhe chegava aos ombros, mas estava lavado… pelo menos hoje. A pele do rosto, queimada do sol e vincada milhares de vezes, estava para além dos cinquenta e oito anos que dizia ter, mas hoje estava mais clara e reluzente. A alva barba estava penteada e limpa e até as mãos de dedos curtos e gordos, estavam lavadas e com as unhas escuras cortadas.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Hoje estava destinado a ser um dia especial. Foi por isso que foi ao abrigo tomar banho, arranjou um fato cinza-claro (que era obviamente para alguém maior que ele) e convenceu a Eduarda, a bonita, mas cansada voluntária do abrigo, a penteá-lo e fazer-lhe a manicura possível.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Agora estava ali, a chegar à paragem de autocarro onde se sentou pesadamente e cruzou a perna, à espera. Sentia-se orgulhoso, não bebia desde o jantar de ontem e bem olhara para a garrafa de tinto ainda meia que deixara com os seus pertences.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Soltou um suspiro soluçado, enquanto pensava nos cartões, cobertores e restantes tralhas a que ele chamava “as suas coisas” que deixara à guarda do Tone “Figo”. Não sabia o apelido dele, todos o chamavam assim porque para ele, tudo o que comia, dizia que “chamou-lhe um figo!” Era bom rapaz, se se pode chamar isso a alguém com cinquenta e muitos anos, mas faltava-lhe a coragem para se defender a si e ao que é seu. Sabia bem que se um dos outros sem-abrigo fosse lá roubar as coisas que ficaram ao seu cuidado, ele nada faria para o impedir. De qualquer maneira, Fernando dissera-lhe que se não voltasse naquela noite poderia ficar com tudo, mesmo com o maravilhoso relógio despertador a pilhas que tanto estimava.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Roeu nervosamente a unha do indicador direito e continuou com o sabugo até que lhe doeu. Gemeu e olhou os dedos maltratados com as unhas negras. Aquele lixo, se insistisse na lavagem, levaria anos a sair… assim como levou anos a amontoar-se.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Estava nervoso, claro que sim. Acordara na última madrugada decidido a dar uma volta na sua vida. Quase não dormira a sonhar como o iria fazer e se bem pensou, rápido o fez; foi quase o primeiro a comparecer na fila do duche do abrigo e depois correu ao vestiário para arranjar as roupas novas. Agora ali estava… pronto para ir à casa da filha de onde saíra há… demasiado tempo.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Pensou no rosto de Maria Inês, sua filha, mas não conseguia lembrar-se dela com vinte e muitos anos, quando ele saiu de casa, apenas via a Inês de quinze anos sempre abraçada a ele, aos beijos. “Como as pessoas podem mudar assim?” — Pensou para si. — “Era um amor profundo e terno, que parecia não morrer nunca. Ela tomava sempre o meu partido nas minhas discussões com a mãe dela.”</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">A sua expressão alterou-se para preocupação. Como reagiria a filha assim que o visse, agora, dez anos passados? Que pensaria ela do homem que saiu pela porta fora, zangado com ela e com o mundo e que nunca mais voltou nem deu notícias? Primeiro, acreditou que seria uma noite ou duas e dormiu no chão entre os cartões e o lixo. Alcoolizado, os cheiros não o incomodavam, nem dava pelo tempo passar e uma manhã, aquele amanhecer precisamente, levara dez anos a chegar. </font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Também ela estava zangada com ele… e com razão. Fora ela, aliás, quem começara a discussão; encontrara-o de novo a dormir no chão do quarto, embriagado, com as roupas fétidas e sujas de vómito e urina.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Agora que pensava bem, as discussões eram frequentes. Bernardo, o genro, tentava pôr “água na fervura”, apelava à calma dela e à minha compreensão de que não podia agir assim. Desde que nascera a criança deles, Inês estava insuportável, gritava à menor contrariedade… ou seria ele que se embriagava com demasiada frequência?</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Desde a morte de Alzira, sua mulher, Inês nunca mais planeou casar e ter a sua própria casa. Fazia questão de ficar junto do pai para cuidar dele. Fernando, por seu lado, perdida a mulher que fazia parte da sua vida há mais de vinte e cinco anos, sentia-se desolado e desamparado. A filha tratava da sua própria vida, a trabalhar e a acabar os estudos e depois a namorar… não conseguiu perceber quando tudo começou. Ele bebia em casa o que havia e depois ia para fora a procurar mais. Começou por beber para esquecer, depois já não se lembrava porque bebia.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Uma lágrima correu veloz pelas rugas do rosto. Ele tinha noção que Alzira conseguia ser insuportável, mas era a mulher que ele escolheu e que o escolhera. Discutiam e zangavam-se, mas, após uns “amuos” começavam a falar normalmente e acabavam de fazer as pazes à noite, na cama. Depois partiu deste mundo e levou a alma dele com ela.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Inês cuidou dele, sim, pobre menina, o melhor que pôde. Aturou-lhe a depressão, o mau-humor e as bebedeiras. Depois conheceu Bernardo e a sua vigilância sobre ele aligeirou… a dependência do álcool e as suas consequências, cada vez mais difíceis de esconder, atiraram-no para o desemprego. — Ele franziu o sobrolho. — Quando nasceu a sua neta, Inês chamou-lhe Alzira, como se mais alguém pudesse digno de ser portador de tal nome.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Era obrigado a compreender que ele transformava a vida deles num inferno… baixou a cabeça e repousou-a entre as mãos com os cotovelos nos joelhos… ao longe o relógio da igreja soltou dez badaladas. Pensou que o autocarro se demorava.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">— Bom dia, amigo. — Uma voz masculina bem-disposta interrompeu-lhe os pensamentos e ele levantou o rosto para ver um homem montado numa bicicleta, parado a seu lado. — Está à espera do autocarro aqui? Não vê que a paragem está desativada há mais de um ano? A carreira que passava aqui foi mudada para a outra rua paralela a esta.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Com esta explicação, o homem retomou a sua marcha pedalando e afastou-se rapidamente, sem mesmo escutar o “obrigado” quase inaudível.</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Fernando ergueu-se e constatou o aviso quase apagado colado na placa indicativa da carreira. Pousou o olhar no chão, pensativo, como que a decidir o que fazer. “Então a carreira não me quer levar, é?” — Pensou de si para si. — “Se calhar também eles estão melhor sem mim…”</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">Sacudiu o pó das calças e começou a caminhar na direção de onde viera, rematando em voz alta:</font></p> <font size="3" face="Georgia"></font> <p><font size="3" face="Georgia">— Vou ver se o Figo guardou as minhas coisas em condições, afinal, a garrafa do tinto ainda estava meia. Espero bem que não lhe tenha dado a sede.</font></p> </div>Manuel Amaro Mendonçahttp://www.blogger.com/profile/17078740378460083136noreply@blogger.com2